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Mostrando postagens com o rótulo cadinho de prosa

O QUE DE FATO É

Há mais ou menos 22 anos atrás, Al Gore, então candidato Democrata à presidência dos Estados Unidos, havia perdido o pleito para o Republicano George W. Bush.   Fim de jogo? Não senhor. O jogo continuou, tendo em vista que Al Gore pediu a tal da recontagem dos votos das urnas do Estado da Flórida.   O candidato do Partido Democrata tentou, tentou, tentou, mas, ao final, não conseguiu provar o seu ponto.   Frente a essa reminiscência, pergunto: Al Gore estava agindo como um golpista? Ninguém na época disse isso e, imagino, ninguém pensou algo assim.   Ele estava promovendo ataques contra as instituições democráticas? Também não. Nenhuma palavrinha foi ventilada por ninguém nesse sentido.   Espere aí! Ele estava agindo feito um fascista para solapar o Estado Democrático de Direito e implantar uma ditadura? Não cara pálida. Nenhuma linha escrita na época apontou para essa direção.   E por que não? Simplesmente porque ele estava apenas questionando o resultado das eleições e, por isso, ped

AOS TRANCOS E BARRANCOS

Um lugar comum, repetido aqui e acolá, quando o assunto é essa tal de educação, é aquele que afirma que nós deveríamos apenas e tão somente estudar aquilo que gostamos, que nos traz algum tipo de satisfação. Bem provavelmente, todos nós já ouvimos alguém dizer isso.   Ora, se formos apenas direcionar a nossa atenção para aquilo que nos apetece, se deixarmos a gurizada apenas se dedicar àquilo que lhes agrada, com o perdão da palavra, estaremos todos nos entregando de braços abertos à idiotia sem fronteiras, não à educação.   Se apenas procuramos “aprender” aquilo que não nos causa nenhum tipo de “desconforto intelectual”, estaremos limitando o nosso horizonte, ao mesmo tempo em que dizemos, para nós mesmos, que estamos “nos realizando” como pessoa.   Essa atitude lúdica e hedonista, frente ao aprendizado, é uma deformidade que domina a mentalidade contemporânea. Essa é uma justificativa esfarrapada feita sob medida para legitimar o desdém pelo conhecimento.   Esquecemo-nos que o aprend

DEFORMADOS PELAS MÃOS DA OLEIRA CIUMENTA

Ficar correndo atrás do impossível é doideira, porém, todavia e entretanto, não faltam cabeças de bagre, nesse mundão de meu Deus, que são incapazes de querer outra coisa senão aquilo que está fora do alcance das suas mãos, conforme bem nos ensina o imperador-filósofo Marco Aurélio. Quer dizer, não foi exatamente com essas palavras, mas basicamente é isso o que ele havia dito.   De um modo geral, toda vez que colocamos uma impossibilidade como meta em nossa vida, nós o fazemos não tanto para realmente atingi-la, mas sim, para justificar o nosso fracasso pessoal ou nossa desistência.   E quando queremos usar uma desculpa para nossas derrotas, a [suposta] procura pelo impossível é o subterfúgio mais utilizado por nós. Desse modo, não temos que nos esforçar para sermos mais disciplinados em nossa porca vida.   E, com o perdão da palavra, se não temos essa tal de disciplina, nós não temos nada. Se não somos capazes de impor a nós mesmos alguns limites para estabelecer um curso a seguir, se

PARA QUE A DEMOCRACIA NÃO SEJA UMA OPERETA BUFA

Todos sabem muito bem que Montesquieu propôs a divisão tripartite do poder como uma forma de minimizar os estragos que a concentração do mesmo pode causar.   Esteja o poder centralizado ou repartido, ele está sempre presente nas mãos de poucos que, apesar do sistema de pesos e contrapesos, essa minoria frequentemente acaba encontrando um caminho para burlar as limitações que lhes são impostas para impor a sua vontade sobre a sociedade e, mediante conchavos e acertos, manter aquela sensação marota de equilíbrio junto ao corpo social.   Estes poderes, formalmente divididos, procuram conviver em uma relativa harmonia, edificada por intermédio de conluios e mancomunações pra lá de republicanas, para que todos - largados, pelados e togados - possam realizar o que julgarem necessário para a manutenção da instituição dos ovos de ouro.   E no frigir dos ovos, e dos votos, tudo isso acaba sendo apenas uma encenação burlesca de democracia para sentirmo-nos como bons coadjuvantes, no papel de cid

NÃO FEDE E NÃO CHEIRA

A procura pelo sentido da vida, provavelmente, é uma das caçadas mais angustiantes que pode imperar no coração da gente, tendo em vista que uma vida desprovida de sentido é uma merda, indigna de ser vivida. Todos sabemos disso, inclusive aqueles que gostam de dar de ombros e dizer que vivem seus dias sem eira nem beira, conforme lhes der na telha.   Muitas pessoas acabam se angustiando nessa busca por imaginar que a dita cuja da razão da nossa existência seria algo épico, de grande vulto histórico, ou qualquer trem semelhante a isso. Se acreditamos num babado assim, com toda certeza, ao final o tombo será bem feio e, infelizmente, são muitos os que colocam todas as suas fichas existenciais nesse carteado duvidoso.   E por termos nossos olhos agrilhoados nesses extremos, no poço do niilismo, onde nada tem sentido, ou no cume das montanhas da grandeza, onde tudo é inefável, terminamos por ter uma visão distorcida do que realmente faz uma vida ser bem vivida, daquilo que realmente faz uma

PARA LUTARMOS O BOM COMBATE

Há uma história sobre um soldado, que lutou na Segunda Guerra Mundial e que, logo após ter chego ao teatro de operações, vivia apavorado, petrificado pelo medo de ter sua vida ceifada nos combates.   Com o tempo, esse soldado agrilhoado pelo medo, veio a ser um dos mais bravos combatentes da sua companhia e, essa transubstanciação da água para o vinho, deveu-se a um conselho que lhe foi dado por um dos seus irmãos de armas.   Conta-nos ele que havia um homem de meia-idade que sempre estava tranquilo, atendo as demandas dos demais e, aparentemente, sempre estava pronto para marchar pelo vale da sombra da morte.   Diante de tal exemplo de destemor, o jovem foi ter um dedo de prosa com ele, perguntando-lhe como ele era capaz de manter-se tão tranquilo diante da iminência de entrarem em combate e serem mortos.   O homem, com a mesma tranquilidade de sempre, disse-lhe que havia desistido de voltar vivo para casa. Ele esperava apenas lutar com bravura indômita para defender a liberdade contr

A LUZ QUE NUNCA SE APAGA

Há momentos em que tudo à nossa volta parece conspirar contra. Nessas ocasiões temos a impressão de que o ar perdeu a sua leveza natural, que a luz ao invés de clarear a nossa vista, apenas ofusca o nosso olhar, levando-nos a cair de cara no lamaçal das lamentações que passa a se formar em nosso coração.   Caímos nesse pântano de lamúrias porque, bem provavelmente, depositamos nossas esperanças num ídolo oco e frágil. Ídolo esse que, como todos os demais ídolos, tem pés de barro e, cedo ou tarde, acaba desabando e termina por levar junto um tanto do nosso ânimo.   Esperamos, frequentemente, ver a realização dos nossos anseios e bem como a perpetuação dos nossos contentamentos e, tais desejos, sejamos francos, até podem ser justos, porém, quando depositamos todo o nosso senso de realização na obtenção e manutenção desses bens, quando os colocamos no centro de nossa vida, sem nos darmos conta, acabamos por transformá-los em ídolos.   Então, é justamente aí que a porca torce o rabo filoso

MUITO MAIS QUE UMA PALAVRA BONITINHA

A liberdade é um tesouro que deve ser conquistado por nós e, conquistando-a, devemos zelar por ela, pois a vilania, a tirania e seus asseclas, sempre estão espreitando sua morada, nossa alma, para usurpá-la.   Para sermos vigilantes e defendermos com unhas e dentes a nossa liberdade, é imprescindível que sejamos disciplinados.   Por mais esquisito que possa parecer aos moucos ouvidos modernosos, a disciplina é o fundamento da liberdade. Sem ela, a liberdade não é nada e, em alguns casos, menos que isso.   Quando não procuramos cingir o nosso passo pela régua da autodisciplina, devidamente edificada a partir de uma sólida base religiosa, tudo em nossa sociedade e, consequentemente, em nossa vida, começa a desandar, como bem nos lembra João Camilo de Oliveira Torres.   E é desse jeito porque, na inexistência do autogoverno da nossa vida, nós passamos a ser tiranizados pelos nossos desejos desordenados que, para a nossa infelicidade, sempre estão sendo instrumentalizados por terceiros par

MUITO ALÉM DA CRITICIDADE PUERIL

Cada um se serve de um tanto de presunção. Alguns mais, outros menos, mas não tem que escape dessa triste inclinação que habita o nosso coração pra lá de peludo.   De todas as crises de arrogância que, vez por outra, nós caímos, provavelmente a mais feroz é aquela onde nós dizemos para nós mesmos - e depois repetimos para quem estiver por perto – que as pessoas precisam aprender a pensar.   É doído isso porque, quando afirmamos que os outros precisam aprender a usar suas moringas pensantes, estamos partindo do pressuposto de que nós sabemos fazê-lo melhor do que todos.   E o pior de tudo é que se partimos desse pressuposto, bem provavelmente, nunca paramos para refletir de forma arguta a respeito da maneira como procedemos com nossas matutações cerebrinas.   Por essa razão, e por muitas outras, tenho pavor dessa conversa mole de querer ensinar os outros a pensar. Qualquer um que diga isso, nunca parou para considerar que o ato de pensar é tão espontâneo em nós quanto o são os atos de r

O CÍRCULO DE FERRO

Somos ligeiros para apontar os males que perambulam por esse mundo e que azucrinam a vida de todos, especialmente a nossa, porém, somos lerdos, de dar raiva, em tentarmos ser bons. Bah! E como somos devagar.   Então, só pra variar, podemos fazer um voto conosco e procurarmos não mais ficar reclamando, murmurando, lamentando, se queixando, praguejando, exigindo isso, aquilo e assim por diante.   Nos esforcemos para ser pacientes com todos, conosco mesmo e, principalmente, com aqueles que estão na nossa lista maldita.   Sim, eu sei, todos nós sabemos muito bem que ter paciência é um trem pra lá de difícil e, por isso mesmo, é tão urgente e necessário se, realmente, almejamos corrigir nosso modo de ser que, sejamos francos, é uma bela de uma porcaria.   Para começar, de um modo geral, todos nós esperamos que os outros deem o primeiro passo para tornarem-se, como direi, figurinhas não tão ruins; raramente cogitamos a opção de nós darmos início a essa discretíssima movimentação.   E não que

PATRIOTAS, CIDADÃOS E OUTROS BICHOS

Schopenhauer, em seu livro “A arte de escrever”, logo nas primeiras páginas nos diz que podemos mensurar a falta de educação de uma sociedade pela quantidade de escolas que ela possui.   Segundo ele, quanto mais escolas uma sociedade tem, mais mal educada as pessoas tendem a ser.   A partir desta afirmação, podemos levantar vários questionamentos sobre o estado em que se encontra o nosso cambaleante sistema educacional, mas não é esse o ponto desse causo.   Vamos voltar o dedo acusador do filósofo alemão para a nossa cara, para fazermos algumas ponderações a respeito de algo que, devido a nossa inenarrável má educação, acabou tomando conta de grande parte da nossa sociedade.   Pessoas dizendo a plenos pulmões que amam, com todas as forças de sua alma, esse acampamento de desterrados que é o nosso país, tornou-se uma cena comum.   Uns afirmam isso dizendo que são “patriotas” e, outros tantos, declarando que são “cidadãos críticos”.   E nessa crítica situação de cidadãos ideologicamente

A UM PASSO DA BEIRA DO ABISMO

Clausewitz afirma que a política seria tão só e simplesmente a continuação da guerra por outros meios e, naturalmente, o contrário também é a mais cristalina verdade.   Seja numa monarquia parlamentar, ou numa república presidencialista, ou no raio que nos parta, é sempre bom que não nos esqueçamos que debaixo de todo formalismo, de toda encenação institucional, está presente uma massa incandescente de caos, doidinha para aflorar e mostrar todo o seu terrificante esplendor.   Dito de outra forma, em todo pleito eleitoral, como em toda sucessão de um monarca, a sociedade sempre está a um passo de uma insurreição, de uma quartelada, de um golpe ou de uma revolução que, no frigir dos ovos, é apenas um golpe, mas que recebe um nome pomposo para ficar bem na fita da história.   Por essa razão Thomas Jefferson dizia que de tempos em tempos a árvore da liberdade precisaria ter suas raízes regadas com sangue de inocentes, e de tiranos também, para renovar as suas forças, para que todos se lemb

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 17)

Tratar com deferência um vigarista mal intencionado é a única atitude aceita como plausível pelos corações desfibrados dos cidadãos de alma sebosa. Qualquer coisa diferente disso, para essa gente, é inaceitável.   #   #   #   É praticamente impossível ser um conservador sincero sem uma franca inclinação anarquista.   #   #   #   Antes de apontarmos um defeito em algo feito por alguém, pensemos em pelo menos três formas diferentes de realizar a mesma tarefa, com os mesmo recursos e nas mesmas condições. Se não formos capazes disso, o melhor que temos a fazer é calar a boca e procurarmos ser minimamente prestativos em algo que esteja ao alcance de nossas mãos e da nossa imaginação.   #   #   #   A grande ameaça à democracia não se encontra nas manifestações realizadas, as claras, nas ruas, avenidas e praças. O perigo efetivo para a república reside naquilo que é mancomunado e decidido, em reuniões discretas, realizadas em salas fechadas, por um punhado de almas sebosas, que não faz a men

ESTULTICE GREGARIAMENTE ADQUIRIDA

Graciliano Ramos, e outros feras do mesmo calibre, eram conhecidos por lerem dicionários. Para nós, reles mortais, tal hábito pode parecer apenas uma excentricidade, porém, há uma razão para tal prática.   O autor de “Memórias do Cárcere”, em uma entrevista, havia explicado que ele considerava a leitura de dicionários algo de suma importância porque é imperioso que procuremos pesar as palavras, compreender a profundidade e amplitude de cada uma delas para sabermos utilizá-las de forma adequada e, é claro, para conseguirmos, com a indispensável reverência, captar com o máximo de clareza possível, aquilo que está sendo partilhado conosco por meio delas.   Tal observação, no mundo atual, possivelmente poderá não encontrar abrigo no coração de muitos, tendo em vista que tornou-se um lugar comum afirmar que ler seria somente a atribuição de significados, não um esforço sincero para apreender uma realidade que foi codificada por meio de palavras.   Quando o esforço para compreender algo acab

PIOR QUE CRACA PRESA NO CHINELO

Os demônios, como todos nós sabemos, nos fazem de besta levando-nos a crer que somos muito espertos, muito inteligentes, muito críticos e por aí segue o andor, tendo em vista que o pecado que eles mais apreciam é a dita cuja da vaidade.   E como nos envaidecemos com nosso conhecimento ralo sobre meia dúzia de coisinhas. Como somos arrogantes com nossos diplomas, títulos e carreira. Meu Pai do céu! Quem nunca caiu nessa tentação que atire o primeiro capelo.   Todo santo dia corremos o risco de resvalar na ladeira da soberba e, se imaginamos que não corremos esse risco é porque, bem possivelmente, estamos lambuzados dos pés à cabeça com essa bagaça.   Porém, tal envaidecimento com a nossa suposta esperteza, com nossa hipotética criticidade, não é uma exclusividade para aqueles que se ufanam de serem detentores de títulos e diplomas. Nada disso “mermão”.   Se tem um trem que é distribuído democraticamente nesse mundão sem porteira, para toda a humanidade, é esse trem fuçado chamado vaidad

A CONSCIÊNCIA DE UM CÁGADO TRANQUILO

Poder, sem muitos rodeios, seria a influência da vontade de um sobre a vontade de outro. Para realizar essa empreitada, podemos argumentar para persuadir uma pessoa, oferecer vantagens materiais ou pecuniárias para convencer o sujeito a fazer o que queremos e, é claro, se tudo isso falhar, pode-se coagi-lo a realizar o que é da nossa vontade.   Qualquer um dos meios indicados para exercer o poder não são bons nem ruins em si. São apenas meios para exercê-lo. Agora, aquilo que é de nossa vontade, isso sim meu amigo, pode ser algo minimamente bom ou tremendamente mau.   Por exemplo, posso tentar persuadir uma pessoa pela força dos argumentos, ou por meio de apresentação de vantagens, ou através de elementos coercitivos, para que ela não faça uma bobagem, ou para que realize uma besteira.   Nas duas situações estaríamos procurando fazer valer a nossa vontade, logo, estaríamos tentando exercer o poder que nos cabe no latifúndio da vida.   Imbuídos de boa ou má vontade, tal exercício tem um

ABRACE-O QUE DÓI MENOS

Todos temos uma ferida na alma que nos dói e, por isso, algumas vezes, nos sentimos como alguém que partiu ou morreu, e entregamo-nos a uma sucessão de lamentos sem fim diante desse ou daquele problema que nos atinge, frente a uma e outra crítica que nos é dirigida.   Claro, nenhum de nós é de ferro, apesar de nos considerarmos fortes feito uma rocha, só porque repetimos algum “mantra” supostamente filosófico, ou pretensamente edificante.   Tanto não o somos que, incontáveis vezes, lá estamos nós, reclamando de tudo e de todos, menos de nós mesmos. Lá estamos nós, nos sentido melindrados, derrotados diante da vida, fazendo caras e bocas para que alguma alma generosa se apiede de nós.   É óbvio que nenhum de nós irá admitir que em algum momento nos entregamos a esse papelão – ridículo, porém, humanamente compreensível – porque só de lembrarmos que já fizemos isso inúmeras vezes, mais do que depressa sentimo-nos envergonhados e, mesmo assim, não conseguimos largar essa mania pra lá de fe