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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

BRASILEIRÍSSIMO

  O brasileiro, segundo Nelson Rodrigues, tem alma de feriado. Bah! Como sou brasileiro. Gosto muito desse trem chamado feriado e, como todo filho dessa terra de Vera Cruz, gosto dessas datas pelas mesmas razões que movem a batida dos átrios e ventrículos dos meus concidadãos.   A primeira razão para esse gosto todo especial, por esses dias vadios, é que neles, podemos colocar em dia todas aquelas coisas que estão pendentes em nossa vida, sejam elas pendências pessoais, em nosso lar, ou profissionais, lá estão todos os brasileiros de boa cepa, aproveitando esse dia de descanso para trabalhar.   É pátio sendo limpo, grama sendo cortada, horta sendo capinada, carro sendo lavado, calçada sendo lavada, casa sendo faxinada de alto à baixo, pomar sendo podado, cerca sendo reparada, porco sendo carneado, arma sendo desmontada, limpa e lubrificada, lenha sendo rachada, enfim, todo bom brasileiro sabe muito bem o que fazer num feriado.   Mas não é só com suor no rosto, e puxando p

DIANTE DAS PORTAS DA HISTERIA COLETIVA

  O ser humano necessita de um mínimo de coesão, organização e de hierarquia dos conhecimentos para poder ordenar os seus pensamentos e ações à luz de sua consciência individual. Para edificar tal ordem interna do ser, é imprescindível que tenhamos no topo dessa hierarquia, a majestade da verdade, para que ela possa balizar e ordenar os nossos conhecimentos e dar um mínimo de consistência à nossa vacilante personalidade.   E é por isso que, em muitas ocasiões, procuro, dentro de minhas limitações, chamar a atenção para essa grave chaga que é o relativismo moral e cognitivo, que é literalmente uma das colunas de sustentação da mentalidade que hoje impera entre nós [e em nós] que, consequentemente, acaba por influenciar fortemente a nossa maneira de pensar, sentir e perceber a realidade, como muito bem nos lembra o filósofo Julián Mariás, em seu livro “Mapa del mundo personal”.   A partir do momento que abdicamos de procurar com honestidade a verdade, estamos abrindo espaço para que as m

PELADOS DIANTE DA VERDADE

Já faz algum tempo, acredito que uns onze ou doze anos, estava assuntando com um amigo, mulçumano por confissão e tradutor por profissão, enquanto saboreávamos uma xícara de café. A prosa estava ótima, pena que não posso dizer o mesmo do café. O abençoado adoçava o trem de um jeito que, só por Allah. Enfim, mas o que realmente importa é que a prosa, naquela ocasião, foi muito boa. Na verdade, todas as vezes em que nos sentamos para conversar era uma grande alegria.   Nesta ocasião, como em outras mais, conversávamos a respeito do ato de orar, da importância da prática da oração em nossas vidas e, lembro-me, com cristalina clareza, das palavras do meu bom amigo, que disse que quando nos colocamos em oração devemos lembrar, sempre, que não apenas estamos diante de Deus, mas que, principalmente, estamos desnudos diante Dele.   O problema é que nós oramos sem tomarmos ciência, nem consciência, dessa nossa humana condição e, por isso, nos fantasiamos com trejeitos mil diante de De

ALÉM DAS SOMBRAS DAS ÁRVORES CAÍDAS

Uma expressão que frequentemente ouvimos ser repetida por caboclos, dos mais variados naipes, é aquela onde o sujeito afirma que ele pensa com os seus próprios miolos e que, por isso, não repete de maneira alguma o que alguém, investido ou não de autoridade, diga, pois, “sacumé”, esse tipo de gente considera-se tremendamente crítica por acreditar nisso.   Tudo bem, está certo, o abençoado não repete nada que seja reverberado pelos outros, mas afirma a mesma coisa que muitíssimas outras pessoas também afirmam: que tem uma opinião própria, todinha sua, vertida de sua moringa pensante. Não apenas isso. Na maioria das vezes essa opinião, "todinha sua", é literalmente a mesma de muitos outros que, também, é idêntica àquela que é diuturnamente repetida por incontáveis veículos de mídia.   Por essas e outras que, como nos lembra C. S. Lewis, essa busca por “originalidade” é uma tolice sem par e, em regra, quem muito quer ser original não tem nada de original para apresentar para nin

QUASE UM CONSELHO

  A primeira semana de aula pode ser resumida através da imagem de alunos sorridentes se reencontrando com os seus iguais, com seus companheiros de caminhada, num misto um tanto confuso de emoções, que acaba por tomar conta de seus corações nesse momento.   Com esse olhos cansados, e do alto de minha barba e cabelos grisalhos, posso dizer com sobriedade que já vi muitos desses momentos onde bons amigos se reveem no colégio depois de um tempo, onde todos, cada um do seu jeito, e junto com os membros da sua “panelinha”, contam alegremente as venturas e desventuras que foram vividas por eles no período das férias, prosa essa que é seguida pela proposição de planos que eles pretendem executar nos próximos dias do ano letivo que está iniciando. Enfim, é um trem bonito de se ver. Bonito mesmo, mas que passa, bem rapidinho.   Todavia, não é a respeito desses momentos de regozijo que proponho-me a escrevinhar. Não senhor. Isso, talvez, fique para outra ocasião. Como ensinador que tento ser, go

ARTÊMIO ZANELLA – EM MEMÓRIA

  Nossa passagem por esse mundão de Deus é efêmera. Tão passageira que, num estalar de dedos, castelos de areia são desmanchados e esquecidos, restando apenas montinhos de areia, dispersos pelo corpo da ampulheta do tempo.   Digo isso porque, neste fim de semana, no sábado, foi sepultado o nono Artêmio Zanella que, além de pai do meu pai, era meu padrinho.   Em meio à despedida, houve quem lembrasse o que havíamos apontado nas primeiras linhas dessa simplória carta, que nada, literalmente nada levamos desse mundo, por mais esforços que movamos, por maiores que sejam os fundos que tenhamos arrastado, daqui, nada levamos.   Logo após essa fala, que exala os perfumes da sabedoria do livro do Eclesiastes, meu primo, Everson Vitto, interrompeu esse dito e lembrou a todos algo que, infelizmente, esquecemos com grande frequência, mas que, jamais deveríamos ousar deixar de nos lembrar.   Ele nos lembrou que sim, nós levamos muitas coisas desse mundo, muitas, dentre elas estão o carinho e as

UM JARDINEIRO PRUDENTE E DESCONFIADO

Dias atrás estava me lembrando do filme “O Jardineiro Fiel” (2005), dirigido por Fernando Meirelles. Um baita filme que, seguramente, merece ser assistido e, se você, amigo leitor, tal qual esse que agora vos escrevinha, já o viu, digo sem medo de errar: essa é uma película que merece ser revisitada. Resumindo a trama toda, o filme gira em torno de Justin Quayle, um diplomata britânico que se mudou para o Quênia com esposa Tessa e, lá pelas tantas, ela é encontrada morta no meio do deserto. Enlutado e cuspindo marimbondo, o viúvo parte em uma jornada investigativa, e de redenção, que o levará a descobrir verdades desconcertantes a respeito do assassinato de sua esposa supostamente infiel. Revelações perturbadoras, diga-se de passagem. Ah! Dane-se! Lá vai o spoiler: ela, Tessa, não estava traindo o esposo. Ela estava investigando uma indústria farmacêutica que estava testando medicamentos experimentais na população sem o consentimento dos indivíduos. Sim, no filme, ao final descobre-se