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Mostrando postagens de maio, 2022

UMA CERIMÔNIA SEM MUITA CERIMÔNIA

Uma xícara de café sempre é uma boa pedida. Não importa a hora, repito, não importa a hora, café sempre é uma boa companhia. Estejamos tristes da vida, ou imersos na mais efusiva alegria, essa bebida sempre cai bem, até mesmo para aqueles que se dizem indiferentes a tudo e a todos.   Um velho amigo meu me dizia, sempre, que uma casa que exala aquele cheirinho de café, passado na hora, é uma casa que transpira alegria. Assim ele dizia, sempre. Porém, de minha parte, não digo isso neste tom.   Não digo que o aroma do café recém coado não possa fazer uma cara aborrecida e amarrada sorrir, nada disso. Creio apenas que o ato de passar um bule de café encontra-se em meio a uma teia de relações humanas muito mais ampla e profunda. Dito de outro modo, gosto de acreditar que há toda uma espécie sociologia presente neste gesto tão simples quanto acolhedor.   Quando recebemos a visita de uma pessoa que queremos bem, ou quando apenas nos reunimos com nossa família, ou mesmo quando re

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 04)

  A maior vitória que podemos obter nesta vida, na maioria das vezes, é a conquista da força necessária para, de forma perseverante, seguirmos em frente enquanto muitos, muitíssimos, insistem em nos agrilhoar com eles junto ao entulho do atraso e da vileza.   #    #    #   Não tenhamos medo de não sermos amados. Tenhamos, sim, medo de sermos incapazes de amar. Isso sim, meu amigo, é uma tremenda desgraça.   #    #    #   Um sujeito que se esforça pra caramba para ser um caboclo melhor, necessariamente, não tem uma consciência tranquila, porque ele sabe muito bem quem ele é e o quanto ele precisa mudar. Somente os canalhas têm uma consciência tranquila, porque eles se sentem muito confortáveis, mas muito confortáveis mesmo, sendo o que eles são.   #    #    #   A união faz a força, diz o dito popular, mas também, forja a farsa, justifica a fraqueza, legitima a ignorância presunçosa e reforça a vaidade nossa de cada dia, que não nos larga de jeito maneira.  

O GRANDE IMPERADOR QUE ERA UM PEQUENO DITADOR

  Gilberto Freyre nos ensina que para podermos compreender de forma razoável um acontecimento histórico, ou um fenômeno social, é de fundamental importância que procuremos, primeiramente, nos permitirmos ser envolvidos pelos fatos que dão forma ao furdunço, ao ponto de nos impregnarmos com seus odores, para em seguida nos distanciarmos dos mesmos e, desse modo, podermos, sob novos ares, refletir com a devida e indispensável serenidade a respeito daquilo que apreendemos e, desta maneira, tirarmos algumas conclusões provisórias.   Aliás, na maioria das vezes elas, as conclusões, acabam sendo sempre temporárias num primeiro momento para, com o passar do tempo, e a partir de novos estudos e reflexões, possamos chegar a uma conclusão mais sólida a respeito do assunto que tornou-se o centro da nossa atenção. Mas lembremos: sem o devido tempo para o aprofundamento de nossa compreensão, isso torna-se praticamente impossível. É fundamental, sempre, darmos tempo ao tempo.   E é aí que a porca

CENAS MAL RETRATADAS DE LALALÂNDIA

  Lalalândia, esse mundinho tão fora da curva da realidade, é um lugar pra lá de engraçado, para não usarmos outros termos que, por ventura, possam causar enervamento nas almas sensíveis dessa desta terra que fica um pouco pra diante do “Reino tão...tão distante”, que ninguém nunca ouviu falar.   Nessa terrinha, não faz muito, houveram algumas mudanças na sua governança, fruto de conchavos e alianças inusitadas. Podemos dizer que, de certa forma, houve neste lugar uma revolução similar à revolução que ocorreu na fazenda do senhor Jones, da fábula “A Revolução dos Bichos” de George Orwell. Mentira. Não foi bem assim.   Na verdade, o que tivemos em Lalalândia foi apenas um arranjo eleitoreiro diferentão, entre os descontentes do grupo dos Vitelos e com os insatisfeitos do clã dos Guaxinins, para organizar uma “terceira via” e, deste modo, poder tomar posse da bagaça toda e remediar, da melhor forma possível, os seus descontentamentos [depre]cívicos junto ao poder público em nom

O FRIO NÃO VEIO PARA FICAR

  Rapaz do céu, que frio é esse que não nos pertence? É só o frio que, de tempos em tempos, nos faz gelar os pés, bater o queixo e tremer a carcaça toda. Nada de novo e, mesmo assim, nos sentimos surpreendidos quando vemos que, ao aproximar-se o meio do ano, o frio esteja nos esperando, de braços abertos, para nos dar um abraço nem um pouco quentinho.   Da mesma forma, não deveria nos surpreender e, imagino eu, não deva ser surpresa alguma para ninguém, vermos que aqueles que mais criticam a ostentação alheia sejam justamente os caboclos que mais se esbaldam, que vivem feito nababos, fazendo pose para todas as câmeras, curtindo as delícias e os confortos que apenas o dinheiro ganho com o suor alheio é capaz de comprar para um casamento, para um jantar ou para qualquer coisinha similar.   Há quem diga que todo o luxo e todas as comodidades que as vivas almas mais honesta de toda Via Láctea desfrutam não são bens, como direi, seus, mas sim, generosos mimos que lhes são oferecidos - gra

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 03)

  As ondas descomunais que as multidões digitais movem, fazem um estrondo tal que não dá para descrever; e do nada a vida de muitos elas cancelam, arrasam e destroem e, num estalar de dedos, para o nada retornam, com sua vileza, para se esconder.   #    #    #   Dia virá em que se poderá, mais uma vez, contar uma piada, com a língua solta, ferina e destravada; contar um daqueles gracejos perturbados e sem noção, sem ser cancelado pelos sebosos justiceiros de plantão. Até esse dia chegar, continuaremos, sem o menor juízo, a contar nossos gracejos, fazendo pouco caso da cara desses patrulheiros [ideológicos] do riso libertador e zombeteiro.   #    #    #   Todo mundo desconfia das opiniões alheias, mas das próprias opiniões, que não são tão próprias assim, praticamente ninguém levanta uma única suspeita.   #    #    #   Para a mentalidade modernosa contemporânea, soberba e diplomada, qualquer um que se apresente como cristão deve nutrir e manifestar um respeito

MUITO ALÉM DO ASTEROIDE B612

    Falta de assunto é o fim da rosca. Não tem trem que mais apoquente um escrevinhador do que essa praga que, uma vez ou outra, assalta nossa alma. Da vez primeira, a falta de assunto leva-nos tudo o que temos. Das outras vezes, que não são poucas, vão levando qualquer coisa. É um Deus nos acuda. Mas, fazer o quê? Escrevinhar é preciso, mesmo que muitos não considerem a leitura do que foi escrevinhado algo necessário.   Dito isso, vamos direito ao ponto. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a principal serventia dos aviões, essas máquinas extraordinárias, que foram uma peça chave no desenrolar desse conflito que, segundo as palavras de muitos na época, seria a guerra que colocaria fim a todas as guerras [só que não], foi o transporte de correspondências, encurtando as distâncias entre as súplicas de amor e os acenos de saudade.   Dentre os pilotos que, nos anos vinte do século passado, ganharam uma certa aura mitológica, devido aos seus feitos no transporte das cartas de incontáve

NÃO HÁ NADA PARA CELEBRAR

Um negócio que movimentou uma grana violenta no século vinte foram as tais colunas sociais e, é claro, não deixemos de incluir nesse pacote, as ditas revistas que se dedicavam, e ainda se dedicam, quase que exclusivamente a esse tipo de, como direi, "conteúdo".   Ah! Sim! Vamos recapitular: colunas sociais eram, e são, aqueles espaços da grande, da pequena e da insignificante mídia, reservados para a exibição da vida - social e íntima - de gente grã-fina ou, ao menos, de pessoas que gostam de fazer pose de gente chique e, obviamente, nas tais colunas sociais, mostra-se tudo para todos, como se "a geral" estivesse realmente interessada em conhecer a sua maneira banal de viver, mesmo que esteja sendo apresentada de forma empolada.   Pois é, mas tem muita, muita gente que gosta, como gosta, de ter notícias sobre isso.   Atualmente, no terceiro milênio, muito mais do que na centúria passada, temos a presença desse tipo de comportamento extravagante e narcisista sendo

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 02)

  Somente quando nos tornamos capazes de reconhecer o quão grande é a nossa miséria existencial, nem um pouco original, é que começamos a entender o que é essa tal de misericórdia e porque ela deveria estar no centro da nossa vida, de mãos dadas com a verdade, nos ajudando a revisar e revogar os incontáveis juízos, furados e injustos, maquinados por nós no íntimo da nossa alma sebosa.   #    #    #   Essa conversa de lutar por um mundo melhor é uma bela de uma desculpa [furada] para ficarmos repetindo para nós mesmos, como se fosse um mantra, para não termos de nos sentir obrigados a deixarmos de ser o cafajeste [oportunista e engajado] que somos. É muito mais cômodo dizermos que é preciso consertar o mundo, de fio a pavio, do que procurarmos nos emendar, andar no prumo e, é claro, virarmos gente.   #    #    #   Se todo esforço educacional estiver voltado para se acomodar as nossas limitações, ao invés de nos provocar a superá-las, ao invés de amadurecermos, iremos a

O OLHAR E A OUSADIA QUE NÃO TEMOS

Rubem Braga, em seu livro "Recanto da primavera”, conta-nos, ao final de uma de suas crônicas, que num dia desses, num desses encontros casuais, deu de cara com um senhor que estava tranquilamente sentado no degrau da porta de sua casa, fazendo uma pequena fogueira com alguns gravetos.   O dia estava ensolarado e, tal atitude, chamou a sua atenção. Foi até ao encontro do velhinho e perguntou, como quem não quer nada: “Está querendo se esquentar um pouco senhor?” “Sim”, respondeu ele. “Estou”. “Mas por que é que você fez esse fogo? Faz Sol...” O senhor ergueu seus tristes olhos para o céu e disse, laconicamente: “Porque é bonito – e me faz companhia”. Podia ter ido dormir sem essa, não é mesmo?   Noutra ocasião, deitava minhas vistas noutras páginas. Desta vez nas laudas de uma das obras de Rachel de Queiroz. Era uma coletânea que reunia cem crônicas da autora, publicada pela Livraria José Olympio e com prefácio de Gilberto Amado (minha Nossa Senhora, que encheção de linguiça da mi