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Mostrando postagens de abril, 2022

DEVEMOS TER OUTRAS EXIGÊNCIAS

  Há uma historieta muito bonita que se encontra presente nas páginas da obra “O livro dos abraços” de Eduardo Galeano. A referida história é mais ou menos assim: havia um garoto chamado Diego, que não conhecia a imensidão do mar. Seu pai, um tal de Santiago, levou o menino para o sul para apresentar as águas do imenso azul.   Chegaram ao seu destino depois de uma longa viagem, porém, de onde eles estavam não dava para ver nem a praia, nem o mar, não dava pra ver nada, pois existiam imensas dunas que separavam eles da visão da vastidão do reino de Netuno. Logo, colocaram-se para caminhar e começaram a escalar os colossos de areia, até que chegaram ao topo e, pai e filho, toparam, lá do alto, com a visão daquele azul sem fim.   O menino, tadinho, ficou sem palavras, com cara de besta, mudo diante de toda aquela boniteza, até que, finalmente, meio trêmulo, gaguejando, disse ao pai: “me ajuda a olhar”.   Me ajuda a olhar. Essas são as palavras de uma alma inundada de humilda

O AMOR REDUZIDO A UMA AÇÃO BUROCRÁTICA

    É muito fácil falarmos em misericórdia, muito fácil mesmo, agora, manifestarmos ela em nossos atos cotidianos, e reconhecermos a sua presença nas ações dos outros, são outros quinhentos.   Quando nos vemos diante dos desvalidos da terra, que vivem costeando o latifúndio da existência, muitas vezes dizemos para nós mesmos, como uma forma de justificativa para a dureza do nosso coração, que os infelizes desse mundão, sem eira nem beira, estão a sofrer justamente porque o Estado não cumpre devidamente a sua “função social”, porque as autoridades não desenvolvem políticas públicas com vistas a resolver as inúmeras questões de “justiça social” pendentes em nossa sociedade, ou porque milionários e bilionários pouco ou nada fazem por eles.   Que muitas autoridades e poderosos se fazem de Pilatos diante do sofrimento de inúmeras pessoas, esse é um ponto que não se discute. O que não reconhecemos é que nós também portamo-nos feito Pilatos, quando delegamos ao Estado a realização de atos q

A SOMBRA DO REI BARBUDO

“Não é a religião, mas sim a revolução o ópio do povo”.  (Simone Weil) [publicado em 22 de abril de 2018] CERTA FEITA, O ESCRITOR José J. Veiga, autor do livro “A hora dos ruminantes”, havia dito, numa entrevista, que o escritor não deve escrever os livros que quer, mas sim, aqueles que precisam ser escritos. Uma sentença simples que, penso eu, nos leva a considerações bem interessantes. Não apenas sobre o ofício de escrevinhar, mas também sobre todas as atividades humanas. Essas palavras nos convidam a volver nossas vistas, e mover nossas energias, para aquilo que, de fato, precisa ser realizado; não apenas e unicamente para as coisas que desejamos que sejam feitas. Por isso, deixo de lado aquilo que gostaria de assuntar, para voltar minha lapiseira na direção de outros traços que me parecem mais urgentes. Em dezembro de 2015, o senador petista Paulo Paim - por quem tenho um grande respeito apesar das inumeráveis discordâncias que possuo com relação às suas posições políticas – havia

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 01)

Quando tudo passa a ser permitido, nosso coração torna-se miseravelmente permissivo.   #    #    #   Nós temos o dever de nos esforçar para explicar aquilo que sabemos da forma mais clara possível, mas não temos a obrigação de mover mundos e fundos para convencer aqueles que não querem entender patavina alguma.   #    #    #   Nós, brasileiros, somos um tipo humano muito gozado. Somos capazes de dizer as coisas mais horríveis a respeito de fatos e pessoas que desconhecemos totalmente e, fazemos isso, com aquela indignação digna de um profeta do Antigo Testamento, como se o mar Vermelho fosse se dividir ao meio após nós termos aberto nossa boca [nada] santa. Um trem lindo, lindo nada, triste da gente ver. Agora, se alguém tem a petulância de corrigir, mesmo que gentilmente, esse nosso jeito torto, meio morno, de condenar tudo e todos, do alto de nosso hipócrita Olimpo umbilical, ficamos pau da vida, cuspindo marimbondos para todos os cantos, pois, como dissimulados que

UM FATO, UM BEIJO E UM ADEUS

Nas banalidades do cotidiano, nos pequenos encontros e desencontros da vida, se prestarmos a devida atenção e estivermos dispostos a costurar cada um desses retalhos com a linha da boa vontade e com a agulha sagacidade, nós iremos conseguir vislumbrar a beleza da vida e a singularidade do seu sentido.   Para ilustrar essa afirmação, derramada de nosso tinteiro, nos permitam apresentar um exemplo. Um exemplo aparentemente banal, como tudo o mais que se apresenta em nossa vida, mas que transborda de sentido e profundidade quando são devidamente reunidos em nossa consciência.   Como todos nós sabemos, e sabemos muito bem, Carmen Miranda, no auge de sua carreira como cantora, arrasava corações. Na verdade, no correr de toda sua vida ela fez isso com sua presença espirituosa, com sua personalidade encantadora e, é claro, com sua voz maravilhosa que, com a qual, encantava as plateias que ia vê-la cantar.   Ruy Castro, que escreveu uma excelente biografia sobre ela, conta-nos qu

AS COLUNAS DA ARQUITETURA DO PODER

Recentemente, o jurista e cronista Francisco Carlos Caldas, em sua coluna para o jornal FATOS DO IGUAÇU, publicou um artigo para chamar a atenção de seus leitores para a importância das eleições municipais de 2024. Isso mesmo. Ele está chamando a nossa atenção para as eleições municipais de 2024 em um ano em que teremos eleição para Presidente e Governadores.    Municipalista que é, Francisco Caldas está coberto de razão ao apontar para essa direção, pois, a única realidade política que, de fato, existe, é a comunidade. Tudo o mais não passa de ficção. De uma ficção que, é claro, nos assombra e nos espolia com seus reios tributários e com suas esporas burocráticas, desde a aurora republicana dessa terra de Pindorama.   A respeito disso, penso que seja interessante lembrar que, em seu livro “Da propaganda à presidência”, Campos Sales, o quarto homem a presidir essa birosca chamada Brasil, escreve de forma clara e direta, para todos aqueles que deitaram suas vistas nas páginas da referid

MÁ VONTADE E FÉ TÍBIA

  Lembro-me que lá pelo final do século passado, tive meu primeiro contato com alguns escritos de Hugo de São Vitor. Dentre esses escritos estavam alguns de seus sermões que, diga-se de passagem, são primorosos e, por isso mesmo, recomendo vivamente a leitura dessa preciosidade que é o livro “Sermones Centum”.   Destes sermões, há alguns onde ele faz algumas considerações sobre a simbologia presente na estrutura de uma catedral. Considerações essas que, como direi, tiraram incontáveis escamas de minhas vistas e me ajudaram pra caramba. Me ajudaram a perceber inúmeras questões que, até então, eu era incapaz de cogitar e que, agora, passaram, graças as suas palavras, a fazer parte das minhas reflexões e referências.   Naturalmente, não tenho como apontar nestas linhas, tintim por tintim, todas as dimensões simbólicas que eram indicadas por Hugo de São Vitor. Aliás, não ousaria ter tal presunçosa pretensão. Por isso, procurarei me ater a tão somente um elemento que, pessoalmente, consid

O SANTO ROSÁRIO

  Os dedos caminham, Silenciosos, De conta em conta Sem contar A infinita graça Que aplaca o humano olhar Do orante silencioso Que... De conta em conta Coloca-se a contemplar Os mistérios recitados Na simplicidade Das contas Do Santo Rosário. Dartagnan da Silva Zanela, em 08 de janeiro de 2009.

O LIVRO DA PROFESSORA

Crônica publicada em nosso antigo BLOG em 15 de abril de 2018. GOSTO DE LER. MAIS QUE ISSO. Gosto muito de conhecer. Toda vez que visito uma cidade, a primeira coisa que procuro é a biblioteca pública para apreciá-la e dar uma olhadela nos títulos que ela guarda. Em segundo lugar, naturalmente, procuro ver se há uma livraria na mesma, de preferência de livros usados. É mais do que óbvio que, com uma frequência indesejável, na maioria das cidades que visito, acabo não encontrando biblioteca alguma e, muito menos, um sebo ou livraria. Fazer o quê? Faz parte da vida. Mas, graças a Deus, toda vez que vou para Guarapuava me deleito nos dois sebos da cidade. Ambos muito bons. Detalhe: eles ficam bem próximos um do outro. Nessa semana que passou, na sexta-feira (13) - com o horário apertado, como sempre - consegui dar uma passada apenas num deles, o que já foi suficiente para que eu tivesse uma grata surpresa. Três, na verdade. Dentre os títulos que adquiri - bons livros, diga-se de passagem

ENTRE A GLÓRIA DOS RAMOS E DO MADEIRO

    Há um velho provérbio chinês, extremamente popular, que com grande frequência é repetido por nós; ditado esse que afirma que uma imagem vale mais do que mil palavras. Dito de outro modo: mil palavras não seriam capazes de comunicar o que uma imagem diz.   Essa é, francamente, mais uma daquelas frases feitas que são repetidas por nós, de maneira automática, como se fosse uma decisão do STF, porém, sinceramente, acho essa frase, em particular, uma bela de uma marmelada. Uma baita de uma marmota. E se estou errado no que digo, tente explicar o dito, em suas minúcias e profundidade, sem recorrer ao uso de uma única palavra sequer.   Então, não dá, não é mesmo? Por isso que quando abrimos a Sagrada Escritura (Gênesis I, 1-3) lemos: “No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra era solidão e caos, e as trevas cobriam o abismo; mas sobre as águas pairava o Espírito de Deus. Então Deus disse: ‘Faça-se a luz!’. E a luz se fez.”   Sem a presença da palavra não há luz. Sem o chama