Pular para o conteúdo principal

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 01)


Quando tudo passa a ser permitido, nosso coração torna-se miseravelmente permissivo.

 

#   #   #

 

Nós temos o dever de nos esforçar para explicar aquilo que sabemos da forma mais clara possível, mas não temos a obrigação de mover mundos e fundos para convencer aqueles que não querem entender patavina alguma.

 

#   #   #

 

Nós, brasileiros, somos um tipo humano muito gozado. Somos capazes de dizer as coisas mais horríveis a respeito de fatos e pessoas que desconhecemos totalmente e, fazemos isso, com aquela indignação digna de um profeta do Antigo Testamento, como se o mar Vermelho fosse se dividir ao meio após nós termos aberto nossa boca [nada] santa. Um trem lindo, lindo nada, triste da gente ver. Agora, se alguém tem a petulância de corrigir, mesmo que gentilmente, esse nosso jeito torto, meio morno, de condenar tudo e todos, do alto de nosso hipócrita Olimpo umbilical, ficamos pau da vida, cuspindo marimbondos para todos os cantos, pois, como dissimulados que somos, por pequenez e avareza, a verdade sempre nos dói, profundamente, mais do que dor de dente. Mais que isso, nos ofende profundamente.

 

#   #   #

 

As coisas mais fascinantes deste mundo não podem ser vistas com os olhos da cara, nem sentidas com o toque da pele, esteja ela arrepiada ou não; elas podem apenas ser vividas por almas embevecidas com o élan da vida e inebriadas com a força do amor.

 

#   #   #

 

Todo homem sincero, talentoso ou não, se vê, todo dia, pelejando contra o óbvio, batendo de frente contra a mediocridade que impera em seu coração demasiadamente humano, tentando firmar seu passo claudicante no tortuoso carreiro que nos leva até o altar da verdade.

 

#   #   #

 

Todo cafajeste que se preze, precisa ter em seu coração, tão seboso quanto peludo, uma ideologia, de preferência totalitária, nervosa, para justificar suas cafajestagens e, é claro, para anestesiar sua minguada consciência. Anestesiá-la para que ele se sinta totalmente à vontade, isento de culpa, liberto de toda e qualquer responsabilidade frente às suas malandragens militantes e barbaridades engajadas. E quem nunca fez isso, em sua porca vida, que atire o primeiro manifesto. Canalhas.

 

#   #   #

 

Nas tertúlias políticas, frequentemente nos deparamos com um troço mais ou menos assim: duas pessoas que visceralmente se detestam, por acaso, descobrem que odeiam a mesma pessoa com a mesmíssima intensidade e aí, do nada, elas engolem todas as suas execrações mútuas e passam a dizer que sempre se estimaram muito, apesar de todos terem sempre tido a impressão [equivocada] do contrário.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.

 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CAMINHANDO SEM PRESSA NA CONTRAMÃO

Recentemente tive a alegria de encontrar em um Sebo o livro “Rubem Braga – um cigano fazendeiro do ar”, de Marco Antonio de Carvalho. Na ocasião, não tive como comprá-lo. Já havia fechado minha compra e, em consequência, não tinha mais nenhum tostão no bolso, por isso, deixei o baita na estante, torcendo para que ninguém o comprasse.   As semanas se passaram e lá estava eu, mais uma vez, no mesmo Sebo e, graças ao bom Deus, lá estava o bicho velho, esperando o Darta para levá-lo. Na ocasião estava indo para uma consulta médica e, enquanto aguardava, iniciei minha jornada pelas páginas da referida obra.   Rubem Braga, o homem que passava despercebido no meio da multidão, percebia tudo, tudinho, que a multidão não era capaz de constatar e de compreender. Não é à toa que ele era e é o grande mestre da crônica.   Ao indicar esse caminho, não estamos, de modo algum, querendo insultar ninguém não. O fato é que toda multidão, por definição, vê apenas e tão somente o que os mil olhos da massa

BUKOWSKI DIANTE DAS AREIAS DO TEMPO

O filósofo argentino José Ingenieros, em seu livro “Las fuerzas morales”, nos lembra que cada época tem que lutar para reconquistar a história. As pessoas de todos os tempos, dentro de suas circunstâncias, devem esforçar-se nessa empreitada. O conhecimento, por sua natureza, encontra-se espalhado pela sociedade, em repouso sobre incontáveis fragmentos, como se fosse um oceano de areia diante do horizonte da existência e, cada geração, deve procurar reconstruir, com as areias do tempo, o palácio da memória, o templo da história porque, sempre, cedo ou tarde, vem a roda-viva e sopra novas circunstâncias em nossa vida mal vivida, que vão erodindo todo o trabalho que foi realizado por nós e pelas gerações que nos antecederam. A cada nova circunstância que se apresenta, é necessário que procuremos atualizar a nossa visão do passado, para que possamos melhor compreender o momento presente e, principalmente, a nós mesmos. Nesse sentido, podemos afirmar, sem medo de errar, que a história é sem

REFLEXÕES INOPORTUNAS (p. 01)

É fascinante, para não usarmos outros termos, vermos o tom moderado, e as expressões de equilibrada indignação, que são usadas por inúmeras autoridades e formadores de opinião, para justificar práticas totalitárias como sendo recursos necessários para preservar o seu projeto de poder que, no caso, eles não chamam pelo devido nome, que é tirania. Nada disso. Eles, malandramente o chamam de “democracia” e, ao fazer isso, essas figuras se acham umas gracinhas.   #   #   #   Não existe liberdade de expressão se não existir a possibilidade de nos sentirmos ofendidos com o que os outros poderão dizer a respeito de algo, de alguém ou sobre nós mesmos. Se nós não compreendemos isso é porque, bem provavelmente, nós queremos apenas e tão somente calar as vozes que discordam de nós para que possamos, “livremente”, ouvir apenas e tão somente a nossa.   #   #   #   Não chame ninguém de alienado antes de examinar o estado fragmentário em que se encontra a nossa minguada consciência. Não chame ningué