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Mostrando postagens com o rótulo escrevinhadas quixotescas

A ROCHA DO SEPULCRO ROLOU

É correto pagarmos tributos a César? Todos conhecemos essa perguntinha, pra lá de maliciosa, que se faz presente no Evangelho de São Matheus (XXII, 15-21), como também conhecemos muito bem a resposta que foi dada por Cristo e, a resposta, curta e grossa, feito joelho destroncado, nos convida para dissiparmos as várias camadas de sombras que envolvem e, em certa medida, asfixiam o nosso coração.   O Filho de Davi disse, mostrando a todos a face do bicho velho togado na moeda, que devemos dar a César o que é dele, e a Deus o que lhe pertence. Mas, o que pertence a Deus que tem o rosto Dele impresso? Nós, amigo leitor. Lembremos, e nunca nos esqueçamos, que o Altíssimo nos fez a sua imagem e semelhança.   Infelizmente, não são poucas as vezes que acabamos nos esquecendo disso e, sem nos darmos conta, entregamo-nos de corpo e alma aos poderes pútridos deste mundo, oferecendo o que há de mais elevado em nós para ser distorcido, mutilado e agrilhoado pelas ideias, valores, ideologias, projet

O RONRONAR MANHOSO DO GATO MALHADO

Umberto Eco, em sua obra “Cinco escritos morais”, nos chama a atenção para uma questão que, ainda nos dias atuais, se faz presente sobre a mesa da opinião pública e dos botecos, que é a tal da tolerância e, de cara, o finado escritor italiano, sem dó, coloca o dedo na ferida, quando diz que para sermos realmente tolerantes, deveríamos compreender que existem muitíssimas coisas que são intoleráveis, inclusive e principalmente, em nós mesmos, que nos consideramos, assim, a “cada escarrada do bem”.   Sim, eu sei, abunda no mundo atual o número de pessoas que quer parecer fofa, fofíssima, a todos os olhares midiáticos, e que fazem questão de dizer que estão de braços abertos, feito um personagem do desenho animado “ursinhos carinhos”, para abraçar a todos, sem discriminação, no dia intergaláctico do abraço e da amizade.   Mas, aí vem a pergunta que não quer calar: é possível abraçarmos, com a mesma reverência e consideração, um integrante da Toca de Assis e um entusiasta fervoroso de Josep

AMARELADAS CARTAS DO AZERBAIJÃO

O amigo leitor, imagino eu, já deve ter lido o livro “Cartas Chilenas”. Se não o fez, ao menos deve ter ouvido falar do referido livro, onde o autor, Tomás Antônio Gonzaga, de forma satírica, tecia incontáveis críticas à situação que imperava na amada Minas Gerais do século XVIII.   As treze cartas, que compõem a obra, eram assinadas com o pseudônimo de Critilo e eram endereçadas ao seu amigo Doroteu, pseudônimo de Cláudio Manuel da Costa.   Critilo, supostamente, residia no Chile, na cidade de Santiago, e não economiza na ironia para sentar a ripa num tal de Fanfarrão Minésio, que seria o suposto Governador da Capitania Geral do Chile.   Porém, todavia e entretanto, as críticas não eram ao suposto governador do Chile, mas sim, à corrupção do governador da Capitania de Minas Gerais, o senhor Luís da Cunha Meneses.   Para contornar o despotismo e a censura que imperavam naqueles idos, e não terminar vendo o sol nascer quadrado e, em seguida, ver-se pendurado na forca, o grande poeta rec

QUANDO AS FLORES DO JAZIGO MURCHAREM

Todos os países que adotam o tal do regime democrático, sem exceção, apresentam uma e outra imperfeição e, por essa razão, nos países onde de fato há democracia, a crítica a mesma se faz necessária para que possa-se identificar as suas possíveis deficiências e, mediante debates honestos, podermos procurar caminhos para corrigi-las, pois, é importante nunca esquecermos que a democracia é um ideal áureo, mas nós, seres humaninhos, somos uma triste figura.   Por isso, a crítica justa, e até mesmo a injusta, acabam sendo sempre ferramentas imprescindíveis, não apenas para aperfeiçoarmos os mecanismos políticos e sociais da sociedade, mas também, para que possamos nos aprimorar como cidadãos.   Aliás, um cidadão que acredita estar acima de toda e qualquer crítica, provavelmente, quando meteu o dedo na jarra da vaidade, deve ter se lambuzado dos pés à cabeça, não é mesmo? Claro que é. Da mesma forma que uma figura, que acredita que seus atos estão acima e além de qualquer correção, possivelm

QUANDO O CALCANHAR DE AQUILES APERTA

Não existe nada que possa vir a ter um senhorio maior que aquele que está reservado à verdade, conforme é-nos ensinado pelos “Upanixades” hindus. Nada pode ser colocado para assentar-se em seu trono, sem que corramos o risco de mutilar as faculdades mais elevadas da pobrezinha da nossa alma.   Naturalmente, o conhecimento de qualquer verdade, por mais pequenina que seja, sempre implica numa série de problemas que irão demandar uma atitude de prontidão para que, com atenção e constância, possamos chegar a uma resolução minimamente razoável e, é claro, provisória, porque a verdade é eterna e, nossa presença neste mundo, meramente efêmera.   Como nos ensina Santo Tomás de Aquino, e muitos outros figurões de envergadura similar, se o conhecimento da verdade é filho do tempo, temos que dar tempo para que nossa ignorância possa ser vencida pela persistente procura pelo dito-cujo do esclarecimento. Se não fizermos isso, nossa inteligência será nocauteada pelos preguiçosos punhos da nossa igno

A LUZ DO LUAR SOBRE OS CEMITÉRIOS ESQUECIDOS

Mário Souto Maior é o autor do “Dicionário do Palavrão e termos afins”, onde o mesmo reuniu, nada mais, nada menos, que três mil insultos que fazem parte da língua portuguesa, cujo imperador, segundo Fernando Pessoa, é o grande Padre Antônio Vieira.   Se o amigo leitor nunca consultou a referida obra, sugiro que o faça para, quem sabe, poder enriquecer mais o seu vocabulário com aquelas pérolas que não são assim tão preciosas.   Sim, eu sei, todo mundo sabe, não é de bom alvitre proferir impropérios, porém, há ocasiões em que essas são as únicas palavras que verdadeiramente podem ser ditas para expressar com clareza o que estamos sentindo.   Aliás, como certa feita havia dito Millôr Fernandes, todo mundo tem o sacrossanto direito ao “phoda-se”, pois é preferível dizer cobras e lagartos num momento de indignação do que ficar guardando potes e mais potes de fel e rancor no coração, para alimentar mesquinhas vinganças e outras coisinhas insalubres semelhantes.   Todavia, é importante lemb

ENTRE A ENXURRADA DA VERGONHA E A PONTE DA CONSCIÊNCIA

Carlos Heitor Cony, certa feita havia contado, em uma de suas crônicas, que existia uma “quase-capela”, na Matriz de Nossa Senhora da Guia, de onde dava para ver toda a fumaceira que vinha das locomotivas que chegavam no Méier, santuário esse que, por sua deixa, tinha sido demolido.   Nesta bela e modesta “quase-capela”, havia uma pia-batismal que, também, foi para o beleléu quando toda a construção foi abaixo. Junto à bacia batismal, havia uma placa, que fora colocada por um fazedor de balões e torcedor inveterado do São Cristóvão Atlético Clube; placa essa que trazia os seguintes dizeres: “Aos 22 dias do mês de março de 1926, aqui neste batistério, foi solenemente batizado o inocente Carlos Heitor”.   Pois é. Já faz algum tempo que ele, Carlos Heitor Cony, também foi demolido, partindo desta vida e nos deixando esse grande monumento que é a sua obra e que, se Deus quiser, não será demolida, nem esquecida pelos homens.   Mas não é a respeito dele, nem da sua obra, que gostaria de escr

NÃO SE FAZ UMA NAÇÃO COM HOMENS ABJETOS

Miguel Reale, em um dos capítulos do seu livro “De olhos no Brasil e no mundo”, nos chama a atenção para algumas questões a respeito da educação em nosso país. Nesse escrito, notava ele, com sua pena e tinteiro que, nos anos 90, as Instituições de Ensino Superior estavam pipocando por todos os cantos de nosso país e que, tal florescimento, era visto por muitos como um sinal de progresso, de desenvolvimento e, acima de tudo, de orgulho. Pois é. Mas o professor Reale (1910 - 2006) via esse cenário com outros olhos, tendo em vista que a raiz dos males da educação em nosso triste país são de outra cepa.   Sem dúvida alguma, é bom que tenhamos universidades. Se possível, muitas. Porém, mais importante que isso, seria podermos dispor de escolas melhor estruturadas e, deste modo, oferecer instrumentos mais aquilatados para a edificação dessa tal de educação.   No seu entender, uma nação que se ufana da criação de uma infinidade de Instituições de Ensino Superior sem, necessariamente, se esmer

UMA TRINCA DE REIS

Miguel de Cervantes nos sugere, floreando com as letras de um jeito que apenas ele sabia fazer, que é muito mais saboroso o caminho que a pousada onde repousamos a carcaça. Seguindo pela mesma trilha, o poeta Antonio Machado certa feita havia dito que o caminhante se faz na caminhada, não na chegada (na verdade ele disse: caminante, no hay camino: se hace camino al andar). E nós, figurinhas e figurões do século XXI, sem nos darmos conta, preferimos acorrentar o nosso olhar aos possíveis e desejáveis momentos de repouso, fazendo desses momentos os grandes objetivos da nossa vida; objetivos esses que, no nosso entender, deveriam ser conquistados para que ela, a nossa porca vida, seja [supostamente] realizada de forma plena.   Quantas e quantas vezes passamos os nossos dias, lamentando conosco mesmo - e com os nossos familiares, amigos e colegas - que queremos porque queremos que o dia passe logo, bem rapidinho; quantas e quantas vezes suplicamos em nosso íntimo para que os dias da semana

O ENCONTRO DE CALÍOPE COM ATENA

Em toda roda de conversa, regada com um bom café ou com aquela cerveja, fala-se de tudo um pouco. Desde as tretas políticas do momento até sobre o famigerado sexo dos anjos.   Em meio a essas amistosas tertúlias, vira e mexe aparece o assunto da significativa perda de atenção, da capacidade de concentração, que vem afetando as pessoas na sociedade atual, especialmente as tenras gerações, mas também velhos dinossauros como esse que vos escrevinha neste momento.   E sempre que o assunto é esse, num estalar de dedos vem à minha mente o papel salutar que tanto a poesia como as artes marciais podem desempenhar na resolução desse entrevero demasiadamente humano.   É isso aí. Há uma relação íntima entre as artes marciais e a poesia. E quem diz isso, de forma direta, curta e grossa, não sou eu, mas sim, Paulo Leminski que, além de ter sido um poeta porreta, entre outras coisas, também foi faixa preta em judô (se você não sabia disso, fique sabendo).   O poeta afirmava que nas suas lides com as

FUTILIDADE MIDIATICAMENTE EDIFICADA

Existem certas coisas que conseguimos apenas compreender, com alguma clareza, com o passar dos anos. Na verdade, bem na verdade, praticamente todas as coisas, que têm um mínimo de importância, acabam se encaixando na justeza dessa caixinha. Por essa razão, tanto Norbert Elias como Gilberto Freyre, a muito, nos chamam a atenção para isso, para a importância de aprendermos a nos envolver de corpo e alma com as tramas dos acontecimentos e, em seguida, sermos capazes de nos distanciar das mesmas para, na solitude, refletirmos sobre tudo aquilo que foi vivido e testemunhado, direta e indiretamente, por nós. Esse vai-e-vem, esse envolver-se e afastar-se do pulso da vida, é algo que todos nós realizamos, principalmente quando atingimos uma determinada idade. Quando voltamos os nossos olhos para a nossa mocidade, estando longe dos verdes anos, conseguimos obter uma compreensão mais cristalina da nossa própria vida, tendo em vista que o tempo e a distância alteram o valor que damos a certos pes