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Mostrando postagens com o rótulo escrevinhadas quixotescas

A AGONIA DE ULISSES

Recentemente, tive a felicidade de encontrar em uma modesta livraria um livro de Antoine de Saint-Exupéry, “Carnets”, que reúne algumas reflexões e anotações que o piloto/escritor havia deixado em alguns caderninhos.   Em uma passagem, ele simplesmente diz, de forma melancólica, que o ódio é abominável; e o é por projetar em nossa alma imagens tremendamente falsas. Imagens falseadas sobre os outros e sobre nós mesmos e, quando nos permitimos ser tragados por essa tempestade, acabamos por nos desumanizar uns aos outros, crentes de que, ao fazermos isso, estamos montados na razão, autorizados pelos céus e cobertos com o manto de todas as virtudes.   Ora, se não somos mais capazes de sentar e ouvir atentamente aqueles que pensam diferentemente de nós sem termos um rompante, uma crise de pelancas, é sinal de que a ordem não mais existe. Não me refiro à “desordem democrática”, refiro-me à desordem da nossa alma. É nela que toda inversão de valores principia, é no solo do nosso cora...

ATRAVÉS DOS OLHOS OBLÍQUOS

A pergunta que há mais de cem anos não quer calar: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Quantas e quantas páginas já foram escritas sobre isso e, creio eu, muitas mais ainda serão. Mesmo assim, algo me diz que não se chegará a uma conclusão definitiva. Este escrevinhador, de sua parte, diante do monumento literário que é Dom Casmurro, interpreta a obra a partir de outra chave. Não a vejo como a história de uma [suspeita de] infidelidade conjugal, mas sim como a história da degradação de uma alma. Podemos dizer que, de certa forma, Dom Casmurro seria um excelente símbolo para pensarmos a degradação da alma brasileira. Bentinho, como todos sabemos, era filho de Dona Glória, que fez inúmeras promessas a São Tiago, nutrindo a esperança de que seu amado filho viesse a ser padre, que ele se tornasse, como direi, um santo. Porém, como diz o “meme”, no meio do caminho aconteceram coisas, muitas coisas que o desviaram do seu propósito original. Ele conhece Capitu, foi para o exterior e, por fim,...

TALVEZ SEJA TARDE DEMAIS

Gustavo Corção, em seu livro “As Fronteiras da Técnica”, afirma de forma categórica que não teme a bomba atômica. O que ele realmente teme é a mão que segura a caneta, a mão dos políticos e burocratas que determinam os rumos a serem tomados e que afetarão a vida de muitíssimas pessoas.   Lembro-me dessa passagem da obra de Corção devido a um dado que, por razões não tão ocultas assim, não ganhou e não está ganhando a atenção que deveria receber. No caso, é o triste fato de que, segundo pesquisas, os alunos brasileiros seriam os mais indisciplinados, desregrados e licenciosos do mundo.   Esse dado vergonhoso nada mais é do que o resultado da mentalidade que se formou a partir das concepções pedagógicas que norteiam as políticas públicas em nosso país. No correr de décadas, essa mentalidade transformou o espaço escolar em uma terra de ninguém, um espaço instável onde as regras não são claras. Nesse cenário, exige-se de forma atávica que os professores realizem a façanha de educa...

UMA NAU DESGOVERNADA

A educação, nesta "terra de desterrados", como diria Sérgio Buarque de Holanda, descarrilou de vez e, francamente, quem não percebe isso provavelmente vive no mundo da lua ou na terra do nunca.   É importante lembrar que a falência do sistema educacional não é obra exclusiva de um governo ou fruto específico de um único intelectual. Nada disso, cara-pálida. Esse medonho bebê reborn tem muitos pais e mães que, por um lapso de dissonância cognitiva, não querem nem saber de reconhecer o seu pimpolho grotesco.   Dito de outro modo: da mesma forma que o subdesenvolvimento não é improvisado, como nos ensina Celso Furtado, a antieducação que impera em nosso país é o resultado de uma série de decisões tomadas ao longo dos séculos e, diga-se de passagem, estão sendo muito bem cimentadas pelas opções adotadas nas últimas décadas.   O problema não está presente apenas nesta terra onde há palmeiras [sem mundial] e onde canta o sabiá. O problema está presente em toda a América Latina ...

SUA PISCINA ESTÁ CHEIA DE RATOS

Confesso que me causam risos – irônicos, é claro – quando leio que autoridades do executivo, de mãos dadas com seu secretariado, garganteiam aos quatro ventos que sua Unidade Federativa goza da melhor, da mais sublime e hi-tec educação da Via Láctea, quiçá, do Universo. Não digo isso por maldade, cara-pálida. É que o cenário, infelizmente, é para lá de constrangedor, para dizer o mínimo. Sim, eu sei, todo mundo sabe que essas figuras que se pavoneiam diante de todos os olhares e câmeras têm uma preocupação mastodôntica com a publicidade de suas não-realizações e de seus não-resultados. Alguns dirão que isso seria apenas uma expressão do narcisismo encruado dessa turma, mas eu, de minha parte, não ousaria dizer uma coisa dessas. Jamais. Mas, vamos em frente. Os fatos concretos são varridos para debaixo do tapete, para manter a boa imagem, fatos que refletem o que realmente está acontecendo com a educação em nosso triste país. Dito isso, vem comigo e me diga uma coisa: entulhar alunos em...

O PALCO GIRATÓRIO DA INFORMAÇÃO

“Apocalípticos e Integrados” é uma obra de Umberto Eco que, francamente, penso que todos que se preocupam com os efeitos da cultura de massa na formação da personalidade deveriam ler e, após isso, refletir serenamente a respeito dos seus apontamentos e considerações.   De todas as advertências, há uma que considero basilar: o fato de que boa parte das pessoas que reconhecem os males fomentados pela indústria cultural frequentemente são incapazes de perceber o quanto ela mesma afeta sua visão deformada e deformante da sociedade e de si mesmas.   Todos nós, em maior ou menor medida, fomos e somos afetados pela cultura de massa. Podemos afirmar, sem medo de errar, que ela é, para todos nós, como o ar que respiramos: está presente em tudo, em todos e, é claro, em nós também.   Por isso, como nos lembram tanto Umberto Eco quanto Vargas Llosa, devemos nos manter vigilantes com relação a tudo aquilo que cremos ser a nossa mais lúcida e crítica opinião, porque muitas vezes ela nã...

O FANTASMA QUE ASSOMBRA A MÁQUINA

Não sei dizer se são as ideias que movem o mundo. Francamente, creio que o calibre do meu velho tinteiro não seja suficiente para meditar sobre essa questão. Porém, uma coisa me parece mais do que certa: as ideias que temos a respeito do mundo e de nós mesmos nos movem e nos levam para bem longe.   Terão aqueles que irão discordar desse simplório escrevinhador, dizendo que o que nos arrasta de um lado para o outro neste mundão de meu Deus é o tal do dinheiro e, à primeira vista, muitos de nós poderemos concordar com essa afirmação. Entretanto, não é o dinheiro, em si, que nos puxa de um lado para o outro, mas sim as ideias que cultivamos sobre ele e, consequentemente, o valor e a importância que atribuímos aos numerários.   E é claro que, também, haverá outros que afirmariam que o que realmente balança o nosso coração e faz ele dançar um pagode em nosso peito é o dito-cujo do poder, a procura pelo status, pela fama e todas as demais traquitanas similares. Pois é. Em alguma med...

NÃO IGNOREMOS OS OMBROS DOS TITÃS

Nós não somos apenas os caminhos que percorremos, os tropeços que damos, as circunstâncias que vivemos. Somos também e, principalmente, o modo como encaramos os nossos descaminhos, a forma como enfrentamos nossas desventuras, a maneira como abraçamos o conjunto desconjuntado da nossa vida. Como nos ensina Ortega y Gasset, é isso que somos; e se não salvamos as nossas circunstâncias, estamos condenando a nós mesmos.   Dito de outro modo, podemos olhar para nossa sombra e lamentar a nossa diminuta condição ou, em vez disso, podemos nos perguntar, de forma resoluta, o que podemos fazer de significativo com o pouco que temos e com o nada que somos.   Para responder a essa espinhosa pergunta, mais do que inteligência e sagacidade, é preciso que tenhamos uma profícua imaginação, tendo em vista que pouco poderá ser compreendido se nossa imaginação for anêmica.   Lembremos: nada pode ser acessado pela nossa compreensão sem que antes tenha sido devidamente formulado pe...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...

QUANDO O CALDO ENTORNA

Prudência e canja de galinha, como nos ensina o velho ditado, nunca fizeram mal a ninguém. Agora, a falta da primeira tem feito um estrago danado na vida de muita gente. Os antigos nos ensinam que a prudência é a mãe de todas as virtudes, porque ela nos convida a arrancar nossas ações do guiamento das sombras da ignorância para que possam ser alumiadas e orientadas pelas labaredas da sabedoria. E sabedoria não é, de maneira nenhuma, aquela coleção de colóquios aguados que encantam e iludem muitos, sem incomodar ninguém. Sabedoria, antes de qualquer coisa, é o cultivo amoroso pela procura da verdade, onde quer que ela esteja, para que possamos conhecê-la e, conhecendo-a, permitir que ela redima nossos equívocos passados através das nossas decisões no momento presente, projetando, desse modo, uma nova orientação para as nossas escolhas futuras. Por essa razão, ela jamais será um conjunto de frases insossas, reverberadas por pessoas ocas, cheias de presunção e ornadas com títulos toscos e...

É SEMPRE UM DEUS NOS ACUDA

Quando deitamos nossas vistas nas páginas das obras de escritores de elevado calibre, somos confrontados com o absurdo que habita o nosso coração. Aliás, quando tomamos em nossas mãos uma obra literária, ao mesmo tempo que a lemos, devemos permitir que nossa vida seja lida por ela.   De um jeito ou de outro, ver a vida — a nossa vida — através da vida das personagens das obras dos gigantes da literatura é como mirarmos as janelas da nossa alma na imagem do nosso rosto refletida em um espelho partido, o que, naturalmente, pode acabar por nos causar uma certa repulsa.   Porém, se vencermos essa primeira sensação e nos permitirmos olhar mais detidamente para o que cada um desses cacos nos revela a respeito de nós mesmos, inevitavelmente acabaremos não apenas vendo a vida como ela é, mas também, como diria Manuel Bandeira, poderemos ver a vida que poderia ter sido vivida por nós, mas não foi.   Realmente, é inevitável que, ao nos defrontarmos com a literatura, tenhamos uma ce...

SEU NOME ERA FRANCISCO

O Papa Francisco, aquele que disse que nós bebemos demais e rezamos de menos (e ele estava certo em seu gracejo), nos deixou no dia do aniversário da cidade de Roma.   Na Páscoa, brindou-nos com uma belíssima homilia. Sem sabermos, estávamos diante de suas últimas palavras.   Sua reflexão girava em torno da figura de Santa Maria Madalena que, ao encontrar o sepulcro vazio, correu para avisar os Apóstolos. E eles, também correndo, se lançaram à procura do Senhor. Porque Cristo não é uma relíquia do passado, não é um ídolo oco, nem um personagem histórico petrificado pelo tempo, esquecido num monumento abandonado numa praça ou num museu.   Ele está vivo, vivíssimo no meio de nós, presente em nossos dramas particulares, em nossos sofrimentos coletivos, no olhar dos fragilizados, no semblante dos nossos semelhantes que, tantas vezes, tratamos de forma ranheta e tacanha.   Essa homilia me fez pensar em algo que ele havia dito logo no início do seu pontificado. Citando uma...

NÃO ERA A ÚNICA CÓPIA

Quando jovem, Napoleão Bonaparte participou de um concurso, no qual apresentou um texto que versava sobre o seguinte tema: “Quais são as verdades e sentimentos fundamentais que um homem deve dominar para ser feliz?” O ano era 1791, e ele esperava ganhar o prêmio de 1200 francos. Ele levou seis meses para escrever a tal redação e, no final das contas, não obteve êxito na sua empreitada. Apesar de não ter sido vitorioso, seu texto é, ainda hoje, digno de ser lido e meditado, tamanha é a sua atualidade, visto que suas palavras nos convidam a uma profunda reflexão sobre as ambições insaciáveis que vicejam na alma humana. Aliás, vejamos um trecho do dito-cujo: “...a ambição que leva governos e fortunas à ruína, que se alimenta de sangue e crimes, a ambição é, como todas as paixões desordenadas, uma febre violenta e irracional que só cessa, como uma conflagração que, atiçada por um vento impiedoso, só finda depois de tudo ter sido consumido.” Palavras nesse tom foram, ao longo de algumas pág...

A BANALIZAÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Bem ou mal, temos apenas uma vida — o que não nos impede de viver incontáveis vidas ao longo dos nossos dias. Vidas essas que podem ser experimentadas por nós através da literatura. Por meio dela, como nos lembra Mario Vargas Llosa, podemos ampliar a nossa compreensão da natureza humana, dilatar a nossa percepção da realidade e, é claro, cultivar valores que dão um sabor especial a nossa existência.   Nesse sentido, podemos dizer que essa observação feita pelo finado escritor peruano está em consonância com as reflexões de Miguel de Unamuno, que nos chama a atenção para o fato de que a imaginação é a base da inteligência humana — e não o contrário.   Para que possamos pensar algo, refletir sobre alguma coisa ou mesmo tecer uma crítica, é imprescindível que sejamos capazes de imaginá-la. Se não formos capazes disso, não teremos como matutar a respeito de nada, pois tudo o que está ao alcance da compreensão deve, necessariamente, estar primeiro presente em nossa imaginação. ...

DIANTE DO ÚLTIMO SILÊNCIO

Estamos todos, cada um com seu passo, no seu ritmo, rumando para alguma direção que acreditamos ser a mais apropriada para realizarmos os nossos anseios, pouco importando quais sejam eles. E, independentemente das razões que fazem o nosso coração bater mais acelerado, impelindo o nosso caminhar, há uma coisa todos nós temos em comum: estamos todos, como nos lembra Martin Heidegger, rumando em direção à morte.   Sim, Cristo venceu a morte carregando o pesado fardo dos nossos pecados, mas Ele rumou na direção dela, abraçou-a, aceitou-a com mansidão, ensinando-nos a fazer o mesmo com a nossa vida.   Eu sei, todos nós sabemos, que é uma obviedade ululante que um dia teremos de encarar esse momento; estamos todos cientes dessa realidade, mas não queremos nem saber de tomar consciência disso.   Por isso, muitas e muitas vezes, vivemos a nossa vida como se não houvesse amanhã. Corremos atrás da realização de planos e projetos, muitas vezes de caráter duvidoso, como se a vida pud...

UM CASTELO DE CARTAS PÚTRIDAS

Somos uma sociedade espiritualmente adoecida. Aos olhos de qualquer bom observador, isso é algo evidente; mas, infelizmente, devido ao turbilhão de informações de importância questionável, que nos prende junto à poeira da superficialidade, acabamos por não dar a devida importância a esse fato.   Um dos traços desse adoecimento é a grande confusão de valores que invadiu a alma contemporânea, turvando de forma atávica a percepção dos indivíduos e pervertendo o senso das proporções que, como todos sabemos, é a base do discernimento, é a coluna de sustentação da consciência.   Se o amigo leitor, juntamente com seus alfarrábios, acredita que estou tomado por um delírio de ocasião, vejamos alguns dados que, penso eu, podem ilustrar melhor os efeitos que isso tem em nosso campo de percepção.   Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2019, 95% dos alunos concluíram o Ensino Médio sem um conhecimento adequado de matemática e 69% sem o nível esperado em língua portugue...

QUANDO NÃO HÁ UMA PEDRA NO CAMINHO

Podemos realizar muitas coisas, boleiras, porém, não podemos fazer nada que preste quando estamos tomados, até o tutano, pela dita-cuja da má vontade.   E é claro que jamais iremos admitir que somos movidos por essa impostura, pois não acreditamos, de jeito-maneira, que somos embalados por ela. Na real, muitas vezes nos recusamos a tomar consciência disso porque, se nos tornássemos cônscios desse mal, teríamos de aboli-lo de vereda.   Ou, como diria Platão: verdade conhecida, verdade obedecida.   Ela, a verdade, como todos nós sabemos, é desconcertante, principalmente quando nos apresenta um retrato cristalino das más inclinações que nos guiam.   Inclinações essas que assimilamos quando nos habituamos a fazer pequenas tarefas de qualquer jeito, simplesmente para cumprir uma formalidade. E a nossa sociedade, desde tenra idade, nos apresenta inúmeras ocasiões para agirmos bem desse jeitão para nos configurar ao contínuo desleixo.   Por isso, o cumprimento de nossa...

UMA ARMADILHA OCULTA EM NOSSO CORAÇÃO

Somos movidos pelo desejo, não temos para onde correr. E esse é um problema que todos nós temos que enfrentar, no íntimo do nosso coração, com as parcas forças do nosso ser.   Diante desse entrevero, Siddhartha Gautama diria que bastaria abdicarmos deles para os problemas se escafederem. Nas suas palavras, desejos seriam como pedras: quanto mais desejamos, mais pesada torna-se a vida.   E ele, em grande medida, está coberto de razão. O ponto é que essa não é uma tarefa tão simples assim. Na verdade, é uma tarefa hercúlea porque, o desejo, não é um mero adereço que usamos e descartamos quando nos dá na ventana. Nada disso.   Ele ocupa um lugar central em nossa vida e, por isso, todos nós temos em nosso âmago um vazio que apenas o absoluto pode preencher. Vazio esse que nos torna um ser sedento por ser. O problema é que não sabemos como fazer isso, nem por onde começar.   Segundo René Girard, o desejo não se manifesta em nós de maneira direta, mas sim, de forma triangu...

MUITO ALÉM DA CRETINICE DIGITAL

Desconfio sempre de pessoas muito entusiasmadas, da mesma forma que não levo a sério os alarmistas, que fazem uma canja rançosa com qualquer pé de galinha.   Bem, esse não é o caso de Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”. Aliás, um baita livro.   No meu entender, essa deveria ser uma leitura obrigatória para pais, professores e, principalmente, para os burocratas e políticos que não se cansam de inventar traquitanas que, hipoteticamente, melhorariam a qualidade da educação.   Não duvido que políticos e burocratas, que se empolgam com toda ordem modismos, estejam cheios de boníssimas intenções, não mesmo. O problema, como todos nós sabemos, é que o inferno está cheio delas.   Enfim, em resumidas contas, a obra de Desmurget nos apresenta estudos, dados, fatos e evidências que demonstram o quão lesivo é para a formação das nossas crianças a exposição precoce e desmedida às telas, da mesma forma que desmitifica inúmer...