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Mostrando postagens com o rótulo escrevinhadas quixotescas

NÃO IGNOREMOS OS OMBROS DOS TITÃS

Nós não somos apenas os caminhos que percorremos, os tropeços que damos, as circunstâncias que vivemos. Somos também e, principalmente, o modo como encaramos os nossos descaminhos, a forma como enfrentamos nossas desventuras, a maneira como abraçamos o conjunto desconjuntado da nossa vida. Como nos ensina Ortega y Gasset, é isso que somos; e se não salvamos as nossas circunstâncias, estamos condenando a nós mesmos.   Dito de outro modo, podemos olhar para nossa sombra e lamentar a nossa diminuta condição ou, em vez disso, podemos nos perguntar, de forma resoluta, o que podemos fazer de significativo com o pouco que temos e com o nada que somos.   Para responder a essa espinhosa pergunta, mais do que inteligência e sagacidade, é preciso que tenhamos uma profícua imaginação, tendo em vista que pouco poderá ser compreendido se nossa imaginação for anêmica.   Lembremos: nada pode ser acessado pela nossa compreensão sem que antes tenha sido devidamente formulado pe...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...

QUANDO O CALDO ENTORNA

Prudência e canja de galinha, como nos ensina o velho ditado, nunca fizeram mal a ninguém. Agora, a falta da primeira tem feito um estrago danado na vida de muita gente. Os antigos nos ensinam que a prudência é a mãe de todas as virtudes, porque ela nos convida a arrancar nossas ações do guiamento das sombras da ignorância para que possam ser alumiadas e orientadas pelas labaredas da sabedoria. E sabedoria não é, de maneira nenhuma, aquela coleção de colóquios aguados que encantam e iludem muitos, sem incomodar ninguém. Sabedoria, antes de qualquer coisa, é o cultivo amoroso pela procura da verdade, onde quer que ela esteja, para que possamos conhecê-la e, conhecendo-a, permitir que ela redima nossos equívocos passados através das nossas decisões no momento presente, projetando, desse modo, uma nova orientação para as nossas escolhas futuras. Por essa razão, ela jamais será um conjunto de frases insossas, reverberadas por pessoas ocas, cheias de presunção e ornadas com títulos toscos e...

É SEMPRE UM DEUS NOS ACUDA

Quando deitamos nossas vistas nas páginas das obras de escritores de elevado calibre, somos confrontados com o absurdo que habita o nosso coração. Aliás, quando tomamos em nossas mãos uma obra literária, ao mesmo tempo que a lemos, devemos permitir que nossa vida seja lida por ela.   De um jeito ou de outro, ver a vida — a nossa vida — através da vida das personagens das obras dos gigantes da literatura é como mirarmos as janelas da nossa alma na imagem do nosso rosto refletida em um espelho partido, o que, naturalmente, pode acabar por nos causar uma certa repulsa.   Porém, se vencermos essa primeira sensação e nos permitirmos olhar mais detidamente para o que cada um desses cacos nos revela a respeito de nós mesmos, inevitavelmente acabaremos não apenas vendo a vida como ela é, mas também, como diria Manuel Bandeira, poderemos ver a vida que poderia ter sido vivida por nós, mas não foi.   Realmente, é inevitável que, ao nos defrontarmos com a literatura, tenhamos uma ce...

SEU NOME ERA FRANCISCO

O Papa Francisco, aquele que disse que nós bebemos demais e rezamos de menos (e ele estava certo em seu gracejo), nos deixou no dia do aniversário da cidade de Roma.   Na Páscoa, brindou-nos com uma belíssima homilia. Sem sabermos, estávamos diante de suas últimas palavras.   Sua reflexão girava em torno da figura de Santa Maria Madalena que, ao encontrar o sepulcro vazio, correu para avisar os Apóstolos. E eles, também correndo, se lançaram à procura do Senhor. Porque Cristo não é uma relíquia do passado, não é um ídolo oco, nem um personagem histórico petrificado pelo tempo, esquecido num monumento abandonado numa praça ou num museu.   Ele está vivo, vivíssimo no meio de nós, presente em nossos dramas particulares, em nossos sofrimentos coletivos, no olhar dos fragilizados, no semblante dos nossos semelhantes que, tantas vezes, tratamos de forma ranheta e tacanha.   Essa homilia me fez pensar em algo que ele havia dito logo no início do seu pontificado. Citando uma...

NÃO ERA A ÚNICA CÓPIA

Quando jovem, Napoleão Bonaparte participou de um concurso, no qual apresentou um texto que versava sobre o seguinte tema: “Quais são as verdades e sentimentos fundamentais que um homem deve dominar para ser feliz?” O ano era 1791, e ele esperava ganhar o prêmio de 1200 francos. Ele levou seis meses para escrever a tal redação e, no final das contas, não obteve êxito na sua empreitada. Apesar de não ter sido vitorioso, seu texto é, ainda hoje, digno de ser lido e meditado, tamanha é a sua atualidade, visto que suas palavras nos convidam a uma profunda reflexão sobre as ambições insaciáveis que vicejam na alma humana. Aliás, vejamos um trecho do dito-cujo: “...a ambição que leva governos e fortunas à ruína, que se alimenta de sangue e crimes, a ambição é, como todas as paixões desordenadas, uma febre violenta e irracional que só cessa, como uma conflagração que, atiçada por um vento impiedoso, só finda depois de tudo ter sido consumido.” Palavras nesse tom foram, ao longo de algumas pág...

A BANALIZAÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Bem ou mal, temos apenas uma vida — o que não nos impede de viver incontáveis vidas ao longo dos nossos dias. Vidas essas que podem ser experimentadas por nós através da literatura. Por meio dela, como nos lembra Mario Vargas Llosa, podemos ampliar a nossa compreensão da natureza humana, dilatar a nossa percepção da realidade e, é claro, cultivar valores que dão um sabor especial a nossa existência.   Nesse sentido, podemos dizer que essa observação feita pelo finado escritor peruano está em consonância com as reflexões de Miguel de Unamuno, que nos chama a atenção para o fato de que a imaginação é a base da inteligência humana — e não o contrário.   Para que possamos pensar algo, refletir sobre alguma coisa ou mesmo tecer uma crítica, é imprescindível que sejamos capazes de imaginá-la. Se não formos capazes disso, não teremos como matutar a respeito de nada, pois tudo o que está ao alcance da compreensão deve, necessariamente, estar primeiro presente em nossa imaginação. ...

DIANTE DO ÚLTIMO SILÊNCIO

Estamos todos, cada um com seu passo, no seu ritmo, rumando para alguma direção que acreditamos ser a mais apropriada para realizarmos os nossos anseios, pouco importando quais sejam eles. E, independentemente das razões que fazem o nosso coração bater mais acelerado, impelindo o nosso caminhar, há uma coisa todos nós temos em comum: estamos todos, como nos lembra Martin Heidegger, rumando em direção à morte.   Sim, Cristo venceu a morte carregando o pesado fardo dos nossos pecados, mas Ele rumou na direção dela, abraçou-a, aceitou-a com mansidão, ensinando-nos a fazer o mesmo com a nossa vida.   Eu sei, todos nós sabemos, que é uma obviedade ululante que um dia teremos de encarar esse momento; estamos todos cientes dessa realidade, mas não queremos nem saber de tomar consciência disso.   Por isso, muitas e muitas vezes, vivemos a nossa vida como se não houvesse amanhã. Corremos atrás da realização de planos e projetos, muitas vezes de caráter duvidoso, como se a vida pud...

UM CASTELO DE CARTAS PÚTRIDAS

Somos uma sociedade espiritualmente adoecida. Aos olhos de qualquer bom observador, isso é algo evidente; mas, infelizmente, devido ao turbilhão de informações de importância questionável, que nos prende junto à poeira da superficialidade, acabamos por não dar a devida importância a esse fato.   Um dos traços desse adoecimento é a grande confusão de valores que invadiu a alma contemporânea, turvando de forma atávica a percepção dos indivíduos e pervertendo o senso das proporções que, como todos sabemos, é a base do discernimento, é a coluna de sustentação da consciência.   Se o amigo leitor, juntamente com seus alfarrábios, acredita que estou tomado por um delírio de ocasião, vejamos alguns dados que, penso eu, podem ilustrar melhor os efeitos que isso tem em nosso campo de percepção.   Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2019, 95% dos alunos concluíram o Ensino Médio sem um conhecimento adequado de matemática e 69% sem o nível esperado em língua portugue...

QUANDO NÃO HÁ UMA PEDRA NO CAMINHO

Podemos realizar muitas coisas, boleiras, porém, não podemos fazer nada que preste quando estamos tomados, até o tutano, pela dita-cuja da má vontade.   E é claro que jamais iremos admitir que somos movidos por essa impostura, pois não acreditamos, de jeito-maneira, que somos embalados por ela. Na real, muitas vezes nos recusamos a tomar consciência disso porque, se nos tornássemos cônscios desse mal, teríamos de aboli-lo de vereda.   Ou, como diria Platão: verdade conhecida, verdade obedecida.   Ela, a verdade, como todos nós sabemos, é desconcertante, principalmente quando nos apresenta um retrato cristalino das más inclinações que nos guiam.   Inclinações essas que assimilamos quando nos habituamos a fazer pequenas tarefas de qualquer jeito, simplesmente para cumprir uma formalidade. E a nossa sociedade, desde tenra idade, nos apresenta inúmeras ocasiões para agirmos bem desse jeitão para nos configurar ao contínuo desleixo.   Por isso, o cumprimento de nossa...

UMA ARMADILHA OCULTA EM NOSSO CORAÇÃO

Somos movidos pelo desejo, não temos para onde correr. E esse é um problema que todos nós temos que enfrentar, no íntimo do nosso coração, com as parcas forças do nosso ser.   Diante desse entrevero, Siddhartha Gautama diria que bastaria abdicarmos deles para os problemas se escafederem. Nas suas palavras, desejos seriam como pedras: quanto mais desejamos, mais pesada torna-se a vida.   E ele, em grande medida, está coberto de razão. O ponto é que essa não é uma tarefa tão simples assim. Na verdade, é uma tarefa hercúlea porque, o desejo, não é um mero adereço que usamos e descartamos quando nos dá na ventana. Nada disso.   Ele ocupa um lugar central em nossa vida e, por isso, todos nós temos em nosso âmago um vazio que apenas o absoluto pode preencher. Vazio esse que nos torna um ser sedento por ser. O problema é que não sabemos como fazer isso, nem por onde começar.   Segundo René Girard, o desejo não se manifesta em nós de maneira direta, mas sim, de forma triangu...

MUITO ALÉM DA CRETINICE DIGITAL

Desconfio sempre de pessoas muito entusiasmadas, da mesma forma que não levo a sério os alarmistas, que fazem uma canja rançosa com qualquer pé de galinha.   Bem, esse não é o caso de Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”. Aliás, um baita livro.   No meu entender, essa deveria ser uma leitura obrigatória para pais, professores e, principalmente, para os burocratas e políticos que não se cansam de inventar traquitanas que, hipoteticamente, melhorariam a qualidade da educação.   Não duvido que políticos e burocratas, que se empolgam com toda ordem modismos, estejam cheios de boníssimas intenções, não mesmo. O problema, como todos nós sabemos, é que o inferno está cheio delas.   Enfim, em resumidas contas, a obra de Desmurget nos apresenta estudos, dados, fatos e evidências que demonstram o quão lesivo é para a formação das nossas crianças a exposição precoce e desmedida às telas, da mesma forma que desmitifica inúmer...

O PIOR DOS PIORES

Aprender a ler é uma dádiva que, infelizmente, nós não damos o devido valor, como bem nos lembra Karl Kraus.   Ele diz isso e, para infelicidade geral da nação, os fatos confirmam o quão grande é esse desleixo.   A sexta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, nos mostra que o número de leitores em nosso país vem decrescendo, ano após ano, a passos largos.   E, para a surpresa de zero pessoas, a quantidade de horas que são gastas com entretenimento digital, vem crescendo de forma avassaladora; e esse crescimento não é constatado apenas entre os jovens, então, não me venham com aquela pose afetada de moralista cansado.   Na verdade, o desprezo do brasileiro pelo conhecimento é uma velha praga que a muito tempo infecta a alma nacional e que, na atualidade, ao que tudo indica, degringolou de vez.   No fundo, para a maioria das pessoas, a leitura foi apenas uma enfadonha obrigação escolar que era cumprida para a conquista de uma nota e que, logo após a o...

O REAL PREÇO DO AMOR

Se há uma palavra que é vilipendiada é esta: amor. É um Deus que nos acuda. Todos usam-na para dizer o que bem entendem, ao mesmo tempo em que negam aquilo que o amor de fato é. Muitas outras palavras também são avacalhadas, mas essa, como bem nos ensina o sociólogo Pitirim Sorokin, ocupa o cerne da vida em sociedade e, sua mutilação, tem severas consequências no tecido social.   Mas, afinal, o que é esse tal de amor? Pra começo de conversa, não é só uma palavra, nem um sentimento que faz o coração bater mais forte. Como nos ensina L. Lavelle, o amor é um estado do ser. O amor é aquilo que mais profundamente somos e, por isso, devemos, com humildade, cultivá-lo em nosso modo de ser, como nos lembra Gabriel Marcel.   Logo, podemos dizer que, quando um grupo de pessoas sai dizendo que é “a turma do amor” e que, aqueles que se opuserem a “sua turma”, seriam os “comensais do ódio”, é sinal de que estamos diante de uma arapuca mal armada para capturar figuras desavisadas.   Le...

SENDO FEITO DE GATO E SAPATO

Todo pacato cidadão, uma vez ou outra, acaba ficando meio apoquentado quando recebe as últimas notícias. Todo indivíduo que se sujeita a acompanhar caninamente o que é vinculado pela grande mídia, e pelas redes sociais, necessariamente irá se sentir, em alguma medida, sufocado e, tal sensação, acaba, por distração nossa, sendo vista como um sintoma de “profundidade”, só que não.   Quando cremos que estamos muito bem informados, a respeito de tudo, simplesmente porque mantemos os olhinhos, vidrados, junto as últimas “micagens noticiosas” que são apresentadas pelos telejornais e similares, é sinal de que a nossa compreensão do que seja essa tal de “profundidade” é, no mínimo, questionável.   Quando olhamos o presente midiatizado como sendo o centro de toda a realidade, sem nos darmos conta, terminamos por amputar qualquer possibilidade de análise da atualidade dentro de um quadro mais amplo, que apenas pode ser apresentado pela história com suas múltiplas referências, narrativas...

NO CAMINHO PARA DAMASCO A PORCA TORCE O RABO

Uma das cenas mais impactantes da história da humanidade, com toda certeza, é a conversão de São Paulo; aquela cena onde Saulo se esborracha com as ventas no chão quanto um clarão o cega e uma voz - titânica, porém, mansa - pergunta-lhe porque ele, zeloso fariseu, estava perseguindo-O.   Essa cena que, confesso, sempre me comove quando medito sobre ela, é um poderosíssimo símbolo que, de modo cristalino, nos exibe uma possibilidade latente na vida de cada um de nós.   Podemos dizer que todos nós iremos, em algum momento, ter a nossa viagem rumo a Damasco, para realizar aquilo que acreditamos ser a grande missão da nossa vida e, bem no meio do caminho, como diria Drummond, iremos nos deparar com uma pedra que poderá mudar para sempre os rumos do nosso caminho.   Quando isso ocorrerá não temos como saber; e nem devemos especular. Mas uma coisa é certa: um dia teremos o nosso encontro com a verdade sobre nós mesmos e, quando isso ocorrer, cairemos rente ao chão como Saulo e,...

PARA QUE A ALMA NÃO VENHA A GANGRENAR

O escritor Osman Lins, em seu livro “Do ideal e da Glória – problemas inculturais brasileiros”, nos ensina que a escrita, com sua humildade e discrição, acaba sendo colocada no espírito do homem contemporâneo numa posição de inferioridade, devido à presença privilegiada que outros meios de comunicação acabam tendo na atualidade.   Tal situação, por certo e por óbvio, acaba por afetar a forma como nós pensamos o mundo e, é claro, o modo como encaramos a vida, tendo em vista que é inegável que o desdém pela leitura modifica, de forma tragicômica, a nossa capacidade de reflexão e ponderação.   E não adianta ficarmos dizendo que isso afeta apenas e tão somente as tenras gerações. Nada disso cara pálida. Como bem nos lembra Umberto Eco, eu, você, todos nós, em alguma medida, temos o nosso horizonte de compreensão ferido pelas velhas e novíssimas mídias.   Como filhos do nosso tempo, paridos e misturados a tudo que nele há, sem nos darmos conta, acabamos sofrendo a corrosão que...

O ESPELHO FOSCO QUE NOS ROUBA A VITALIDADE

Foi sancionada a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas. Podemos dizer que tal medida é um facho de razoabilidade em um tempo que perdeu de vista o bom senso. Porém, é triste precisar do peso de uma lei para que as famílias reflitam a respeito dos males que a exposição desmedida aos celulares causa.   Sim, até as pedras do calçamento sabem que um celular pode ser muito útil no aprendizado de muitíssimas coisas. No entanto, sejamos francos: na maioria dos casos, é para finalidades edificantes que, frequentemente, os celulares são utilizados pelos infantes? Pois é, foi o que pensei.   Mas há outra pergunta que podemos nos fazer: de que modo usamos nossos celulares fora das nossas lides profissionais? O que fazemos com esses trens? Foi o que imaginei.   E essa é a tragédia que margeia a nova lei, porque em nosso dia a dia, provavelmente, nossos jovens continuarão com os mesmos maus hábitos digitais. Não porque eles são uma geração perdida, mas porq...

O ULTRAJE DA RETINA

Certa feita, Roland Barthes havia dito que, no século XXI, os analfabetos não seriam apenas aqueles que não sabem ler, nem escrever, mas todo aquele que não sabe ler, escrever e interpretar imagens. Não apenas porque vivemos num mundo onde os canais de televisão, e as mídias digitais, estão praticamente presentes em todos os cantos e recantos da nossa vida (e, sem o menor recato, procuram emoldurar a nossa percepção dos acontecimentos), mas também, porque toda informação comunicada é formatada a partir de uma trama de intenções.   Intenções essas que, muitas vezes, desconhecemos; outras tantas, ignoramos e, em alguns casos, comungamos. Nos dois primeiros, cedo ou tarde, podemos corrigir nosso entendimento, quando procuramos nos nutrir com outras informações que podem ser contrapostas às primeiras, fazendo saltar, diante dos nossos olhos, as suas contradições.   Agora, quanto ao terceiro, esse é um trem pra lá de danado, porque, quando comungamos de algo, consciente ou não dos ...