Podemos realizar muitas coisas, boleiras, porém, não podemos fazer nada que preste quando estamos tomados, até o tutano, pela dita-cuja da má vontade.
E é claro que jamais iremos admitir que somos movidos por essa impostura, pois não acreditamos, de jeito-maneira, que somos embalados por ela.
Na real, muitas vezes nos recusamos a tomar consciência disso porque, se nos tornássemos cônscios desse mal, teríamos de aboli-lo de vereda.
Ou, como diria Platão: verdade conhecida, verdade obedecida.
Ela, a verdade, como todos nós sabemos, é desconcertante, principalmente quando nos apresenta um retrato cristalino das más inclinações que nos guiam.
Inclinações essas que assimilamos quando nos habituamos a fazer pequenas tarefas de qualquer jeito, simplesmente para cumprir uma formalidade.
E a nossa sociedade, desde tenra idade, nos apresenta inúmeras ocasiões para agirmos bem desse jeitão para nos configurar ao contínuo desleixo.
Por isso, o cumprimento de nossas pequenas obrigações, como nos lembra Simone Weil, seria algo similar à prática de uma oração; uma oportunidade singular para exercitarmos a autodisciplina, que é a base de uma vida virtuosa.
Ora, quando ensinamos nossos filhos a se esmerar na feitura de um trabalho escolar, por mais simples que ele seja, estamos ensinando-os valores que irão robustecer o caráter da gurizada. Robustez essa que impactará profundamente a vida deles.
Agora, quanto os pais nem mesmo procuram acompanhar a vida escolar dos seus filhos e, ainda por cima, não os tratam como sujeitos responsáveis por tudo aquilo que eles fazem ou deixam de fazer, ao invés de ajudar os infantes a crescerem com um caráter vigoroso, eles estarão apenas fragilizando-os, abrindo caminho para que eles se tornem adultos infantilizados, de coração mimado, que imaginam que todos devem acatar os seus caprichos.
Lembremos: educar, em grande medida, é contrariar os desejos desordenados que imperam no coração humano. É saber dizer não.
Preparar uma criança para a vida madura é levá-la a aprender, abnegadamente, a servir ao próximo, de forma digna, útil e generosa; o que é bem diferente do ato vil de nos servirmos dos nossos semelhantes.
Em resumo, podemos colocar tudo a perder, quando não compreendemos o sentido das pedras que foram levianamente retiradas do meio do caminho.
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Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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