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Mostrando postagens de dezembro, 2023

O INSONDÁVEL ABISMO

Todos conhecemos o velho, e sempre atual, “Mito da Caverna”, presente nas páginas do livro VII da “República” de Platão, que nos conta o causo de uma certa “galera galerosa”, que estava agrilhoada em um buraco bem fundo, com as ventas voltadas para o fundo desse buraco profundo, sendo assombrados pelas sombras projetadas na parede por meio de um mirrado feixe de luz. Porém, todavia e, entretanto, um dia, um dos abençoados da caverna, num golpe de sorte, ou por um milagre, conseguiu desfazer-se dos grilhões e, zaz, conseguiu dar o fora da dita-cuja e aí, foi um Deus que nos acuda. Como havíamos dito, todos conhecemos essa alegoria. Alegoria essa que nos apresenta uma imagem mais do que perfeita da jornada que nos leva a libertação da alma humana do abismo frio de ignorância que, muitas e muitas vezes, nos aprisiona. Cárcere esse que nos impede de ter os vitrais da nossa alma inundados pela luz do conhecimento da Verdade, que se encontra além das gélidas paredes cavernosas de nossa presu

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 57)

Ficar por dentro de qualquer assunto não é a mesma coisa que assistir um punhado de vídeos nas redes sociais, ou uma reportagem de um telejornal. Lembremos disso - e contemos até dez - antes de darmos qualquer pitaco a respeito de qualquer babado.   #   #   #   Quem quer porque quer problematizar tudo e todos, frequentemente o faz porque não quer encarar os problemas que habitam e perturbam o seu coração.   #   #   #   Todo avanço tecnológico, em alguma medida, representa uma forma de emancipação, mas também, em grande proporção, todo progresso apresenta inúmeras novas ameaças para a liberdade.   #   #   #   Nunca se esqueça que tudo aquilo que não for dito por nós, com toda certeza, será usado contra nós.   #   #   #   Numa época como a nossa, onde todo mundo zela cuidadosamente da própria imagem, praticar a arte de quebrar a cara é um exercício de sanidade.   #   #   #   Quem não sabe amar, não sabe lembrar nem esquecer.   #   #   #   Na leitura da Bíblia, nos aproximamos de Deus; na

MUITO ALÉM DO ALARIDO MIDIÁTICO

Em uma sociedade onde, como nos ensina Guy Debord, o espetáculo midiatizado é o seu coração pulsante, torna-se imprescindível que procuremos, de tempos em tempos, nos isolar da enxurrada de informações que batem, sem dó, nas encostas da nossa mente para desbarrancar as ladeiras da nossa alma.   Todos nós estamos expostos a isso, não tem lesco-lesco, não adianta negar.   Basta um clique e lá estamos nós, de peito aberto e com a alma desarmada, de frente para as correntezas das redes sociais, ou diante dos tsunamis televisivos.   Lá estamos nós, vidrados com as imagens aliciantes que estimulam o cultivo do amor desmedido pelo dinheiro, que fomentam o deslumbre pelos sucessos ocos e que provocam, sem sutileza alguma, o deleite pelos prazeres fugazes.   E, tudo isso, junto e misturado, acaba esvaziando a nossa vida e destruindo a nossa mirrada capacidade de discernimento, agrilhoado o nosso olhar ao frenesi de uma sucessão de imagens que espelham, em nossa alma, um turbilhão de desejos que

O BONDE DA VIDA PASSA

O poeta Manoel de Barros dizia que ela gostava, mesmo, das coisas úteis quando elas se tornavam imprestáveis. Claro, ele não disse isso nesses termos xucros não; o poeta das “pré-coisas” confessou-nos esse gosto, daquele jeito que apenas ele sabia fazer. No caso, foi assim: “prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias de areia de formiga e musgo – elas podem um dia milagrar de flores”. Há outras passagens na obra do poeta em que ele nos chama a atenção para a belezura, para a importância singular daquilo que não tem serventia alguma neste mundo escravizado pela batuta das funcionalidades mil, mas, confesso: essa é uma das minhas prediletas.  Bem, independente de todas as sutilezas captadas pelo poeta, e de todos os xucrismos rasurados pelo escrevinhador, verdade seja dita: quando a utilidade é elevada à condição de suprema categoria, tomando o lugar da beleza, da bondade e da verdade, a vida, inevitavelmente, torna-se uma estrovenga, uma tranqueira maquinal sem igu

ENTRE FORMIGAS E CIGARRAS

Uma das minhas músicas favoritas é “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin. Gosto especialmente na interpretação que foi apresentada no Kennedy Center Honors, em 2012, onde os integrantes da banda foram homenageados. A canção foi executada por Ann e Nancy Wilson, juntamente com diversos músicos, uma orquestra e um magnífico coral. Robert Plant e os demais integrantes do Led Zeppelin assistiam a tudo e mal conseguiam segurar as lágrimas durante a apresentação. Se você não sabe do que estou falando, acesse o You Tube e confira. Sim, eu sei, divaguei já no primeiro parágrafo. Me perdoem e sigamos em frente. O filósofo argentino José Ingenieros, em seu livro “As forças morais”, nos adverte dizendo que todo aquele que fala, o tempo todo, a respeito dos nossos direitos, sem procurar, com a mesma insistência, nos recordar dos nossos deveres, está atraiçoado a justiça e maculando a nossa alma. Detalhe: justiça não enquanto uma instituição formatada pela letra constitucionalmente moribunda, mas

QUASE POESIA (p. 05)

# 028   Nunca se apaga a luz da verdade. Somos nós que cerramos as vistas Para que ela não nos faça visitas Com a candura da sua bondade Em nossa pobre alma aflita.   # 029   Toda paciência se esgota Quando o amor-próprio vem E, sem dó, a sufoca.   # 030   A cerejeira da velha praça Quanto tem as suas flores Pela brisa de leve tocadas Inflamam todos os amores Com as fragrâncias exaladas Que aliviam as velhas dores Das almas fatigadas.   # 031   O erro encontrado No meio do caminho É parte necessária Da tortuosa jornada Que nos permitirá Ficar face a face Diante da verdade Que nos encontrará No final da estrada Desta nossa vida Porcamente vivida.   # 032   Cristo, Rei do Universo, De quem sou indigno servo Entrego esses pobres versos Aos pés do trono do Senhor, Que é o divino Verbo.   # 033   É pornográfico, Triste pra caralho, Vermos um inocente Ser feito de otário Por um delinquente Engravatado.   # 034   O que não é Aprendido Com calma Não pode ser Redimido Na alma.   # 035   Nunca h

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 56)

Para realmente podermos ser perseverantes, é imprescindível que tenhamos um claro ideal para caçar, para correr atrás. Se não temos algo para almejar em nossa porca vida, definitivamente, não temos nada, nada que imprima algum valor em nossa alma.   #   #   #   A disciplina apenas começa a ser forjada em nossa alma, quando começamos a realizar aquelas tarefas banais do dia a dia que tanto desprezamos. Se não somos capazes de dobrar nossa má vontade diante dessas pequenas obrigações, dificilmente iremos conseguir, algum dia, edificar algo minimamente digno e bom.   #   #   #   A má vontade de um grupelho de burocratas não reflete, de jeito-maneira, a vontade de um povo.   #   #   #   Não é necessário muito para vivermos plenamente. O enrosco está no fato de que, muitas e muitas vezes, consideramos tudo o que é radicalmente supérfluo como sendo indispensável. Aí, como todos nós bem sabemos, não tem como alguma coisa dar certo numa vida com esse tipo de prioridade.   #   #   #   Apenas fa