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Mostrando postagens com o rótulo velhas escrevinhadas

VOTO DE ABSTINÊNCIA

Não tenho o costume de ler as notícias logo que elas saem, fresquinhas, na última edição de um jornal. Tento evitar isso porque procuro seguir à risca um conselho que a muito me foi dado pela minha finada nona: quem tem pressa sempre acaba queimando os beiços. Sim, ela não estava se referindo as notícias. Estava, na época, me advertindo sobre a minha gula frente aos quitutes que ela preparava amorosamente; mas, seu conselho, que é um ditame dado por todas as nonas desse mundão de meu Deus, é algo que se aplica a inúmeras situações, inclusive essa, principalmente essa: os entreveros no universo da informação. Por isso, desde muito cedo, procurei não dar muita importância para as informações da última hora. Na verdade, não apenas por isso. Há outras razões por detrás dessa atitude motivada por um velho brocardo popular. Dito isso, vamos por partes. Primeiro: não sou tão importante assim para necessitar saber quais são os últimos acontecimentos que afetam os altos círculos do poder. Sou a

LONGE VÁ TEMOR SERVIL

Comemoramos, como em todos os anos, a independência do Brasil no dia sete de setembro. Quer dizer, uns comemoram, outros protestam e muitos aproveitam o feriadão para descansar e divertir-se com seus familiares e amigos. Enfim, cada um agindo conforme a sentença que é ditada pela sua cabeça.   Sobre a data, claro, há incontáveis pontos que merecem ser rememorados e devidamente refletidos, como também há muitíssimas controvérsias em torno da conquista da nossa emancipação da tutela Lusitana que, inclusive, não podemos nos dar ao desfrute de varrer para debaixo do tapete da memória, pois, é no contraste entre uma e outra que abrem-se as águas do mar da história para que possamos caminhar na direção da prometida terra da verdade esquecida.   Dito isso, sigamos com o andor. Como é do conhecimento de todos, o processo de conquista da nossa independência não se realizou, pontualmente, no dia 07 de setembro de 1822. Não. A data é apenas uma referência, escolhida posteriormente para rememorarm

A EDUCAÇÃO SEGUNDO A MALANDRAGEM

Olá caríssimo! Meu nome é Arsênico [sem dores, nem prazeres], e venho apresentar para vocês uma visão revolucionária sobre essa tal de educação que, com toda certeza, irá gerar um randevu em suas cumbucas, da mesma forma que causou na minha moringa.   Durante séculos, todos aqueles que procuraram se dedicar ao ato de educar, tinham claro em seus horizontes que o que se deveria primar era pela formação de pessoas retas, dignas e capazes. Mas hoje, não mais. A parada, agora, é diferenciada. O esquema do momento é preparar todo mundo para a virtude [transviada] da malandragem que instiga, de forma sutil, mancebos e adultos dessa terra, onde o fracasso subiu à cabeça, a aprenderem a apreciar a vida vivida no desvio e a se sentirem verdadeiros “protagonistas” por estarem nessa vibe de outro mundo.   E o que é mais importante! Dá menos trabalho e o resultado é “realmente” mais efetivo do que toda aquela quinquilharia antiquada de querer ficar com essa firula de formar as tenras almas com as

ADMIRÁVEL MUNDO MORTO

    Recentemente assisti, por recomendação do meu filho mais velho, uma série chamada “Love, Death & Robots”, uma animação que está disponível nas prateleiras digitais da Netflix. Esta série foi produzida por Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller e Tim Miller. A mesma reúne 18 episódios independentes, todos bem curtinhos, mas muito bem feitos, intensos e profundos.   Um dos episódios me marcou de forma contundente. No caso seria o episódio três da segunda temporada, intitulado “Esquadrão de extermínio”. Nele temos a apresentação de uma sociedade futurista onde havia sido descoberto uma substância que tornava as pessoas imortais, transformando todo o mundo numa espécie de Shangri-Lá hi-tec. Quer dizer, apenas participavam desse mundo aqueles que podiam pagar pelo elixir da juventude eterna. Ou seja: não muitos.   Aí já deu pra sacar que o mundo virou literalmente um retrato revisado do “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley onde, no lugar do psicotrópico “SOMA”, ha

DA VERGONHA AO TERROR

O ESCRITOR ISRAELENSE Amos Oz, certa feita, quando tinha sido perguntado sobre os procedimentos que adota para escrever, disse que mantém em sua mesa duas canetas. Uma azul e outra preta. A azul ele utiliza quando quer escrever algo agradável e a preta para xingar o governo. Ou seria o contrário? Bem, imagino que a ordem das canetas, nesse caso, não altera a escrevinhada. De mais a mais, não é disso, exatamente, que pretendo escrevinhar. Ou seria? Não sei. Vamos ver.   O “X” da questão, no ato de escrevinhar qualquer coisinha para que outras pessoas possam deitar suas vistas, não é, em meu ver, o impulso para bajular ou a inclinação para insultar. Pode parecer estranho o que afirmo, mas, como reza o dito popular, a malícia não está tanto na boca, ou na pena, mas sim e principalmente, no ouvido e, nesse caso, no zóio de quem lê.   Em se falando nisso, ocorre-me o que fora declarado, há muitas primaveras, pelo escritor goiano José J. Veiga, sobre seus livros. Segundo ele, suas

PARA ALÉM DA INTOXICAÇÃO IDEOLÓGICA

Durante muito tempo em nosso triste país, ser chamado de conservador era uma forma [retórica e rasa] de insultar uma pessoa cujo espectro político não estava alinhado com os passos turvos que eram reinantes no meio bem pensante.   Em muitos círculos deste feitio, rubro, até hoje é assim.   Bem, seja ontem ou hoje, o termo conservador levanta muitas querelas, sem que seja – necessária e devidamente – claramente definido e razoavelmente compreendido.   Aliás, se perguntarmos para nós mesmos quais seriam os grandes nomes do pensamento conservador que nós conhecemos e, por que não, estudamos, com toda certeza não virá nenhum nome em nossa mente. No melhor dos casos, pode-se citar o nome de uma e outra figura que esteja sendo, no momento atual, apontado [a contra gosto] no cenário cultural e político como tal o que, por si, demonstra que não apenas não sabemos claramente o que seria o tal do conservadorismo, como também indica que ignoramos o que seja uma tradição intelectual.   Noves fora

A SOMBRA DO REI BARBUDO

“Não é a religião, mas sim a revolução o ópio do povo”.  (Simone Weil) [publicado em 22 de abril de 2018] CERTA FEITA, O ESCRITOR José J. Veiga, autor do livro “A hora dos ruminantes”, havia dito, numa entrevista, que o escritor não deve escrever os livros que quer, mas sim, aqueles que precisam ser escritos. Uma sentença simples que, penso eu, nos leva a considerações bem interessantes. Não apenas sobre o ofício de escrevinhar, mas também sobre todas as atividades humanas. Essas palavras nos convidam a volver nossas vistas, e mover nossas energias, para aquilo que, de fato, precisa ser realizado; não apenas e unicamente para as coisas que desejamos que sejam feitas. Por isso, deixo de lado aquilo que gostaria de assuntar, para voltar minha lapiseira na direção de outros traços que me parecem mais urgentes. Em dezembro de 2015, o senador petista Paulo Paim - por quem tenho um grande respeito apesar das inumeráveis discordâncias que possuo com relação às suas posições políticas – havia

O LIVRO DA PROFESSORA

Crônica publicada em nosso antigo BLOG em 15 de abril de 2018. GOSTO DE LER. MAIS QUE ISSO. Gosto muito de conhecer. Toda vez que visito uma cidade, a primeira coisa que procuro é a biblioteca pública para apreciá-la e dar uma olhadela nos títulos que ela guarda. Em segundo lugar, naturalmente, procuro ver se há uma livraria na mesma, de preferência de livros usados. É mais do que óbvio que, com uma frequência indesejável, na maioria das cidades que visito, acabo não encontrando biblioteca alguma e, muito menos, um sebo ou livraria. Fazer o quê? Faz parte da vida. Mas, graças a Deus, toda vez que vou para Guarapuava me deleito nos dois sebos da cidade. Ambos muito bons. Detalhe: eles ficam bem próximos um do outro. Nessa semana que passou, na sexta-feira (13) - com o horário apertado, como sempre - consegui dar uma passada apenas num deles, o que já foi suficiente para que eu tivesse uma grata surpresa. Três, na verdade. Dentre os títulos que adquiri - bons livros, diga-se de passagem

ELIAS DALLABRIDA– IN MEMORIAM

  Publicado, originalmente, no jornal FATOS DO IGUAÇU no  começo de 2021. Lá por meados dos anos noventa iniciei minha graduação em História. Era a segunda que eu iria iniciar e, se tudo corresse bem, a segunda que eu iria abandonar. Naqueles idos, que não voltam mais, minha vontade era abandonar o mais rápido possível tudo aquilo e colocar o meu pé na estrada novamente e seguir vagando, sem destino, dum canto para outro do país. Porém, para infelicidade geral da nação, não foi isso que aconteceu. Logo no primeiro dia de aula, lá estava eu, com uma cabeleira ao estilo “Alexandre de Moraes”. Fui ao mural do saguão de entrada, identifiquei qual seria a sala da minha turma e, como bom calouro, me bambeei até ela. Olhei bem para turma, cumprimentei a todos e me dirigi para a última carteira da primeira fila junto à porta. Isso mesmo. Eu era um caipora do fundão, doidinho para abandonar tudo e seguir com minha vida sem rumo e sem destino, bem longe dos bancos escolares. Então, na primeir