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Mostrando postagens com o rótulo velhas escrevinhadas

OURO DE TOLO E OUTRAS QUINQUILHARIAS

Toda história tem, no mínimo, dois lados. Duas versões, no mínimo, toda história tem.   Se uma pessoa nos apresenta apenas uma versão de um acontecimento, isso não significa necessariamente que ela esteja querendo nos engambelar.   Na maioria dos casos, é a versão que a pessoa acredita ser verossímil e, de boa ou má fé, está lhe vendendo como sendo “a história”.   Agora, se somos daquele tipo de cidadão que se considera a “fina flor da criticidade”, nós teríamos o dever grave de procurar conhecer o maior número possível de versões, interpretações e relatos sobre os fatos que são apresentados; inclusive os detalhes não contados a respeito de todo e qualquer causo.   Parêntese: essa seria uma obrigação todinha nossa e não daqueles que estão nos comunicando uma das versões sobre os fatos. Fecha parênteses.   Infelizmente, muitos de nós acreditam mesmo que as pessoas que representam os interesses de grupos de pressão, que militam em prol de uma ideologia ou partido ...

SOMOS MAIS QUE UM ACESSÓRIO PARA MÁQUINAS

Inovar [tecnologicamente] não é educar. É apenas usar uma traquitana nova para não parecer retrógrado aos olhos modernosos dos outros. Sim, é claro que inovar, em si, não é algo ruim, nem malévolo. Claro que não. Agora, colocá-lo como se fosse o centro da vida, como se fosse o trem mais importante do mundo é, no mínimo, uma baita de uma imprudência. Pior! Tratar a inovação como se fosse a pedra angular da educação é uma atitude, no mínimo, inconsequente. Explico-me. A cada dia que passa, sem nos darmos conta, muitos de nós estão projetando inúmeras de suas funções cognitivas em brinquedinhos eletrônicos e, ao fazer isso, não há dúvidas de que estamos tomando posse de uma ou de outra habilidade nova, porém, às custas de um punhado de deficiências que adquirimos, involuntariamente, junto com o pacote. Os exemplos desse problema não são poucos, infelizmente. Por isso, peço licença para “chegar chegando” e apresentar apenas uma ou outra situação que, a meu ver, são bem perceptíveis, para n...

UMA ADOLESCÊNCIA SEM FIM

Artigo escrevinhado e publicado em 08 de julho de 2003,  com o título “A CONDIÇÃO HUMANA – PARTE I”.   Feliz é ser humano; infeliz é a sua condição. Ou seria: infeliz é o ser humano e feliz a sua condição? Somos realmente muito semelhantes àquelas equações matemáticas confusas, com pretensão de grandeza, a querer explicar o universo — sem, muitas vezes, nos darmos conta de que não passamos de alguns sinais de tinta numa folha de papel.   Não consigo, neste momento, pensar noutra imagem que melhor possa exemplificar a derradeira condição humana senão a cena do filme O Gladiador, onde o senhor dos gladiadores — proprietário de Quinto Máximo — está com o rosto voltado para o horizonte, olhar sereno, empunhando a espada de madeira que Marco Aurélio lhe oferecera como símbolo de sua nova condição: a liberdade. E, com esse semblante tranquilo, quando os centuriões romanos invadem a sua alcova, diz com calma, num tom de poeta guerreiro: “...apenas pó e sombras.” Lição essa que n...

OS NOSSOS PECADOS ESQUECIDOS

Notas e reflexões escrevinhadas  e publicadas em  03 de julho de 2016.   Tudo quanto existe em sociedade é, simultaneamente, solução e problema. As instituições sociais — tal como a própria sociedade — são, a um tempo, bálsamos e feridas abertas, coexistindo ao nosso redor e cravadas na fragilidade da alma humana. Pensar a vida ignorando tais tensões é como tratar uma enfermidade unicamente pelos sintomas.   # Lembra-se: a Verdade não é espetáculo nem uma bandeira ideológica para ser desfraldada perante multidões que, em regra, sempre escarnecem dela. Antes de ser dita ou defendida, a verdade há-de ser conhecida, interiorizada e acolhida e isso, como todos nós sabemos, contraria o furor das massas.   # Reflexões caninas: os malfeitos da vida pública assemelham-se às necessidades evacuadas por cães num canil. Limpa-se, desinfeta-se, perfuma-se — mas o cheiro permanece. Seja figuras públicas ou adoráveis cães, todos sabemos o que é feito nos seus respectivos canto...

VOTO DE ABSTINÊNCIA

Não tenho o costume de ler as notícias logo que elas saem, fresquinhas, na última edição de um jornal. Tento evitar isso porque procuro seguir à risca um conselho que a muito me foi dado pela minha finada nona: quem tem pressa sempre acaba queimando os beiços. Sim, ela não estava se referindo as notícias. Estava, na época, me advertindo sobre a minha gula frente aos quitutes que ela preparava amorosamente; mas, seu conselho, que é um ditame dado por todas as nonas desse mundão de meu Deus, é algo que se aplica a inúmeras situações, inclusive essa, principalmente essa: os entreveros no universo da informação. Por isso, desde muito cedo, procurei não dar muita importância para as informações da última hora. Na verdade, não apenas por isso. Há outras razões por detrás dessa atitude motivada por um velho brocardo popular. Dito isso, vamos por partes. Primeiro: não sou tão importante assim para necessitar saber quais são os últimos acontecimentos que afetam os altos círculos do poder. Sou a...

LONGE VÁ TEMOR SERVIL

Comemoramos, como em todos os anos, a independência do Brasil no dia sete de setembro. Quer dizer, uns comemoram, outros protestam e muitos aproveitam o feriadão para descansar e divertir-se com seus familiares e amigos. Enfim, cada um agindo conforme a sentença que é ditada pela sua cabeça.   Sobre a data, claro, há incontáveis pontos que merecem ser rememorados e devidamente refletidos, como também há muitíssimas controvérsias em torno da conquista da nossa emancipação da tutela Lusitana que, inclusive, não podemos nos dar ao desfrute de varrer para debaixo do tapete da memória, pois, é no contraste entre uma e outra que abrem-se as águas do mar da história para que possamos caminhar na direção da prometida terra da verdade esquecida.   Dito isso, sigamos com o andor. Como é do conhecimento de todos, o processo de conquista da nossa independência não se realizou, pontualmente, no dia 07 de setembro de 1822. Não. A data é apenas uma referência, escolhida posteriormente para r...

A EDUCAÇÃO SEGUNDO A MALANDRAGEM

Olá caríssimo! Meu nome é Arsênico [sem dores, nem prazeres], e venho apresentar para vocês uma visão revolucionária sobre essa tal de educação que, com toda certeza, irá gerar um randevu em suas cumbucas, da mesma forma que causou na minha moringa.   Durante séculos, todos aqueles que procuraram se dedicar ao ato de educar, tinham claro em seus horizontes que o que se deveria primar era pela formação de pessoas retas, dignas e capazes. Mas hoje, não mais. A parada, agora, é diferenciada. O esquema do momento é preparar todo mundo para a virtude [transviada] da malandragem que instiga, de forma sutil, mancebos e adultos dessa terra, onde o fracasso subiu à cabeça, a aprenderem a apreciar a vida vivida no desvio e a se sentirem verdadeiros “protagonistas” por estarem nessa vibe de outro mundo.   E o que é mais importante! Dá menos trabalho e o resultado é “realmente” mais efetivo do que toda aquela quinquilharia antiquada de querer ficar com essa firula de formar as tenras alma...

ADMIRÁVEL MUNDO MORTO

    Recentemente assisti, por recomendação do meu filho mais velho, uma série chamada “Love, Death & Robots”, uma animação que está disponível nas prateleiras digitais da Netflix. Esta série foi produzida por Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller e Tim Miller. A mesma reúne 18 episódios independentes, todos bem curtinhos, mas muito bem feitos, intensos e profundos.   Um dos episódios me marcou de forma contundente. No caso seria o episódio três da segunda temporada, intitulado “Esquadrão de extermínio”. Nele temos a apresentação de uma sociedade futurista onde havia sido descoberto uma substância que tornava as pessoas imortais, transformando todo o mundo numa espécie de Shangri-Lá hi-tec. Quer dizer, apenas participavam desse mundo aqueles que podiam pagar pelo elixir da juventude eterna. Ou seja: não muitos.   Aí já deu pra sacar que o mundo virou literalmente um retrato revisado do “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley onde, no lugar do psic...

DA VERGONHA AO TERROR

O ESCRITOR ISRAELENSE Amos Oz, certa feita, quando tinha sido perguntado sobre os procedimentos que adota para escrever, disse que mantém em sua mesa duas canetas. Uma azul e outra preta. A azul ele utiliza quando quer escrever algo agradável e a preta para xingar o governo. Ou seria o contrário? Bem, imagino que a ordem das canetas, nesse caso, não altera a escrevinhada. De mais a mais, não é disso, exatamente, que pretendo escrevinhar. Ou seria? Não sei. Vamos ver.   O “X” da questão, no ato de escrevinhar qualquer coisinha para que outras pessoas possam deitar suas vistas, não é, em meu ver, o impulso para bajular ou a inclinação para insultar. Pode parecer estranho o que afirmo, mas, como reza o dito popular, a malícia não está tanto na boca, ou na pena, mas sim e principalmente, no ouvido e, nesse caso, no zóio de quem lê.   Em se falando nisso, ocorre-me o que fora declarado, há muitas primaveras, pelo escritor goiano José J. Veiga, sobre seus livros. Segundo e...

PARA ALÉM DA INTOXICAÇÃO IDEOLÓGICA

Durante muito tempo em nosso triste país, ser chamado de conservador era uma forma [retórica e rasa] de insultar uma pessoa cujo espectro político não estava alinhado com os passos turvos que eram reinantes no meio bem pensante.   Em muitos círculos deste feitio, rubro, até hoje é assim.   Bem, seja ontem ou hoje, o termo conservador levanta muitas querelas, sem que seja – necessária e devidamente – claramente definido e razoavelmente compreendido.   Aliás, se perguntarmos para nós mesmos quais seriam os grandes nomes do pensamento conservador que nós conhecemos e, por que não, estudamos, com toda certeza não virá nenhum nome em nossa mente. No melhor dos casos, pode-se citar o nome de uma e outra figura que esteja sendo, no momento atual, apontado [a contra gosto] no cenário cultural e político como tal o que, por si, demonstra que não apenas não sabemos claramente o que seria o tal do conservadorismo, como também indica que ignoramos o que seja uma tradição intelectual....

A SOMBRA DO REI BARBUDO

“Não é a religião, mas sim a revolução o ópio do povo”.  (Simone Weil) [publicado em 22 de abril de 2018] CERTA FEITA, O ESCRITOR José J. Veiga, autor do livro “A hora dos ruminantes”, havia dito, numa entrevista, que o escritor não deve escrever os livros que quer, mas sim, aqueles que precisam ser escritos. Uma sentença simples que, penso eu, nos leva a considerações bem interessantes. Não apenas sobre o ofício de escrevinhar, mas também sobre todas as atividades humanas. Essas palavras nos convidam a volver nossas vistas, e mover nossas energias, para aquilo que, de fato, precisa ser realizado; não apenas e unicamente para as coisas que desejamos que sejam feitas. Por isso, deixo de lado aquilo que gostaria de assuntar, para voltar minha lapiseira na direção de outros traços que me parecem mais urgentes. Em dezembro de 2015, o senador petista Paulo Paim - por quem tenho um grande respeito apesar das inumeráveis discordâncias que possuo com relação às suas posições políticas – ha...