Notas e reflexões escrevinhadas e publicadas em 03 de julho de 2016.
Tudo quanto existe em sociedade é, simultaneamente, solução e problema. As instituições sociais — tal como a própria sociedade — são, a um tempo, bálsamos e feridas abertas, coexistindo ao nosso redor e cravadas na fragilidade da alma humana. Pensar a vida ignorando tais tensões é como tratar uma enfermidade unicamente pelos sintomas.
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Lembra-se: a Verdade não é espetáculo nem uma bandeira ideológica para ser desfraldada perante multidões que, em regra, sempre escarnecem dela. Antes de ser dita ou defendida, a verdade há-de ser conhecida, interiorizada e acolhida e isso, como todos nós sabemos, contraria o furor das massas.
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Reflexões caninas: os malfeitos da vida pública assemelham-se às necessidades evacuadas por cães num canil. Limpa-se, desinfeta-se, perfuma-se — mas o cheiro permanece. Seja figuras públicas ou adoráveis cães, todos sabemos o que é feito nos seus respectivos cantos. Em suma: os dejetos podem desaparecer, mas o fedor da imundície permanece entranhado no ar.
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Quando se perde de vista a dimensão simbólica da realidade, a existência reduz-se a um plano raso e mutilado. Ignorar essa face do real é cegar o olhar interior, é asfixiar lentamente a nossa capacidade de compreender.
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Há forças que nos reconduzem ao centro, ao nosso centro, como há forças que nos dissociam de nós mesmos. Todos o sabem. O que por vezes ignoramos é que essa tensão é constitutiva da condição humana, porque a alma é um campo de batalha. E ignorar essa dilaceração é, em si, uma brutal forma de alienação.
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Todos pecamos; todos, sem exceção. Há quem, no limite do possível, se penitencie, enquanto outros desdenham da gravidade da própria culpa. Há ainda aqueles que se vangloriam das suas impurezas — e não poucos exigem que as aclamemos como se fossem elevadas virtudes libertadoras.
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Pecadores somos todos. Por isso, rezemos uns pelos outros, para que Deus tenha compaixão dos que, vacilantes, atravessam este vale de lágrimas. Enfim, confiemos mais na misericórdia divina do que no ímpeto acusador das nossas palavras.
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Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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