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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

O RASTRO EMPOEIRADO DO ESQUECIMENTO

Tudo neste mundão veio do pó e ao pó voltará. Não tem lesco-lesco. Não adianta vir com essa lengalenga de “mamãe, a barriga me dói”. Ao fim e ao cabo, é isso que somos diante dos olhares oblíquos deste mundo.   Tendo essa árida obviedade em vista, lembro-me de uma entrevista que foi concedida pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, para a revista Veja em novembro de 1980. Uma longa entrevista. Uma bela entrevista.   Das inúmeras coisas que foram ditas pelo poeta, há algo que, como direi, é uma baita de uma pedra no meio do nosso torto caminho.   Zuenir Ventura, em nome da revista Veja, perguntou: “A posteridade o preocupa?” Drummond, de forma direta, disse que não dava a mínima para essa tal de posteridade, pois, com o tempo, todos nós seremos esquecidos. Todos.   Hoje podemos desfrutar de alguma evidência junto aos olhos midiáticos, ou à sombra dos senhores deste mundo, mas, com o tempo, todos seremos somente sombras do passado.   O poeta de Itabira lembrou o caso do escritor Humberto

E NÃO SERÁ PARA PIOR

Tudo é uma questão de perspectiva e perspicácia. Não importa a idade que tenhamos, não interessa muito se nosso quinhão é avantajado ou não.   O que realmente interessa, em nossa porca vida, para ela não ser vivida porcamente, é que sejamos audazes o suficiente para procurarmos ver as inúmeras possibilidades que se desenham a dois palmos adiante das nossas ventas.   Para não cairmos nas arapucas armadas pela nossa falta de noção, há um exercício que pode ser de alguma valia, se o praticarmos no silente saguão da nossa alma.   É assim: procuremos lembrar de algumas passagens da nossa vida onde, aquilo que nós mais almejávamos, acabou dando zica. Ao lembrarmos dessas coisinhas, que não gostamos de lembrar, perguntemo-nos o que poderíamos ter feito de diferente para que nossos objetivos fossem atingidos; perguntemos que outros objetivos poderíamos ter almejado.   Ao levantarmos essas perguntas, simples e diretas, constataremos que, infelizmente, nunca paramos para pensar nisso; nunca para

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 30)

A prática das virtudes, de qualquer uma delas, é algo bom, porém, como tudo o mais que há em nossa porca vida, quando se exagera nos balangandã, ao invés das virtudes nos fortalecerem, elas podem nos liquidar, matando praticamente tudo o que há de bom em nosso coração.   #   #   #   Da mesma forma que o excesso de escrúpulos sufoca e mata a nossa pequenina fé, a falta de zelo e, como direi, a idolatria das informalidades, da espontaneidade suspeita, mata de forma inclemente a nossa vacilante fé.   #   #   #   Não existe nada mais asqueroso do que querer parecer moralmente limpinho para poder, a torto e direito, sentir-se autorizado para condenar, sem piedade, todos aqueles que destoam do ritmo carnavalesco ditado pelo mais rasteiro e vil bom-mocismo histriônico.   #   #   #   Uma das maiores demonstrações de mau-caratismo que existe é quando dizemos que respeitamos a opinião dos outros, apesar de discordar dela. Todo caboclo que diz isso, apenas o diz, para melhor convencer o outro do

UM LIVRO, UM ESCRITOR E UMA AUSÊNCIA

Thomas Jefferson certa feita havia dito: não posso viver sem livros. Bem, posso dizer que assino junto com ele a respeito desse quesito.   De todas as alegrias que um bom livro nos oferece - que, aliás, são muitas - uma delas, com toda certeza, é podermos tomar conhecimento da existência de um autor que, até então, não conhecíamos e que, por meio de uma citação, ou de uma menção presente em uma obra, este entra no radar do nosso olhar que, é claro, está a mil léguas de distância de ser um olhar de calibre 43.   Tendo isso em vista, faz algum tempo que conhecia, de ouvir falar, a escritora e poetisa Martha Medeiros, mas nunca me interessei em lê-la até que, certa feita, numa de minhas peregrinações a um sebo, encontrei um livro de sua lavra, publicado em 2010 e que reunia crônicas do final dos anos 90 e, uma e outra, do comecinho do terceiro milênio.   Então, pensei: por que não? Comprei-o, coloquei-me a ler e, confesso: gostei do que encontrei nas suas páginas.   Lá pelas tantas da min

OS GENTIS SERVOS DO PÁSSARO DE MINERVA

É realmente fascinante vermos que o número de pessoas que desejam conhecer melhor a História, essa distinta e elegante senhora, está aumentando a passos largos.   Cada vez mais vemos indivíduos que procuram ocupar o seu tempo livre vendo séries históricas, assistindo filmes do gênero, documentários, lendo livros e procurando artigos desta seara, ao invés de estar preenchendo o seu precioso tempo, ocioso e vadio, com entretenimentos que nada agregam de significativo.   Porém, há um ponto que, muitas vezes, fica mal resolvido diante dessa fome por conhecimento histórico: seria, no caso, a incompreensão, ou mesmo o desdém, frente ao “ofício do historiador”, sobre a forma como a história é escrita e, sou franco em dizer: esse é um trem tão fascinante, senão mais instigante, do que a própria história em si, sobre o que quer que seja.   É importante termos bem claro diante de nossas vistas que a história não brota espontaneamente do passado, não germina voluntariamente dos documentos escrito

ALÉM DO MEDO, DO TEMOR E DA DOR

No comecinho dos anos 90 morei na cidade de Clevelândia. Na época eu estudava no Colégio Agrícola Estadual Assis Brasil.  Eita! Verdes anos que não voltam mais. Muitas são as lembranças que tenho dessa época, muitas. Uma delas era a biblioteca. Ela, como muitas bibliotecas escolares daqueles idos, dispunha de poucos títulos, mas, curiosamente, tinha uma urna de vidro com um esqueleto humano - um esqueleto humano de verdade - que muitas vezes era motivo de chacota de nossa parte e, vez por outra, despertava em nós aqueles confusos sentimentos de apreensão e medo.   Mas essa escrevinhada não é sobre os ossos velhos esquecidos numa biblioteca pouco frequentada. É sobre uma pilha de revistas de surf que faziam parte do acervo da referida. Revistas essas que roubavam a atenção de todos nós que, no intervalo, ou durante a noite, lá íamos, não tanto para ler as matérias sobre o esporte das ondas, mas sim, para vermos as fotografias dos surfistas desafiando a força das águas. E cá entre nós: t

O INDISCRETO PRESSUPOSTO

Todo aquele que se dedique, com sinceridade, à sociologia, acaba, inevitavelmente, se batendo no espinhoso dilema de que fazemos parte do objeto de estudo da referida ciência. Uma parte bastante problemática, diga-se de passagem.   Não é à toa que muitas vezes os estudiosos não acertam os seus ponteiros quando vão tratar das questões que versam sobre o seu amado objeto.   E esse problema não é de hoje. Já foi abordado por gente muito graúda, como o sociólogo Norbert Elias.   E a encrenca não é miúda não, porque a sociedade pode ser categorizada de muitas maneiras, tudo depende do ponto que se deseja enfatizar e do referencial teórico que se pretende utilizar.   Pois é. Aí, meu amigo, é um Deus que nos acuda.   Porém, todavia e entretanto, apesar da grande variedade de conceitos, definições, teorias, proposições e figuras de linguagem paridas nesse esforço explicativo, digno do mito de Sísifo, mesmo assim, iremos encontrar um ponto comum que, também, é bem problemático.   Ora, da mesma

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 29)

O pior cego é aquele que tem olhos e apenas vê e crê naquilo que é exibido pela TV.   #   #   #   Somente depois de muito, muito preparo, podemos realizar certas coisas. Por exemplo: só depois de termos concluído uma graduação, finalizado uma especialização, terminado um mestrado e defendido com pompa e circunstância um doutorado, podemos nos sentir devidamente habilitados para emitirmos, histrionicamente, opiniões furadas, acreditarmos em ideias tortas e defendermos ideologias cretinas, como se tudo isso fosse uma lindeza só.   #   #   #   Há pessoas que irão agradecê-lo, com o coração nas mãos, por você ter tentado socorrê-las de alguma maneira, da mesma forma que há indivíduos que nunca irão te perdoar – nunca, nunquinha - por você ter feito algo para ajudá-los.   #   #   #   Procuremos conformar nossas convicções com nossa profissão, não nossa profissão com nossas convicções. Se seguirmos o primeiro caminho, teremos a oportunidade de crescer em espírito e verdade. Se optarmos pela