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Mostrando postagens de dezembro, 2022

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 25)

Ter pressa além de ser um desperdício absurdo de tempo é uma forma estúpida, tremendamente cretina, de envenenar o nosso discernimento.   #   #   #   Juízos e opiniões afobados mofam bem depressa e perdem o seu valor com a mesma velocidade que foram evacuados.   #   #   #   Não existem soluções simples. Seja no mundo concreto, seja num conto de fadas, elas são o que são: delírios perigosos.   #   #   #   Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que os habitantes da Terra Média, do Brasil e demais adjacências, são capazes de imaginar.   #   #   #   Uma das grandes burrices que cometemos, frequentemente, é a de reduzirmos a amplitude da nossa alma à medida limitante das circunstâncias presente, ao invés de procurarmos, a partir do presente limitado, ampliar as nossas circunstâncias à medida da amplitude das possibilidades latentes na alma humana.   #   #   #   Um bom combate não se trava apenas com um único tipo de golpe, repetido esquizofrenicamente até a exaustão. Uma boa peleja s

HERMES DIANTE DA CENSURA VELADA

Por volta de 2004 (meu Deus, como o tempo passa), encontrei-me com um professor alemão em uma fila, onde ambos aguardávamos uma consulta médica. Puxei prosa e, para minha alegria, o alemão falava muito bem a língua de Camões. Fazia pouco que ele estava por cá, mas já havia morado no Brasil nos anos 70.   Papo vai, papo vem, perguntei o que estava achando do Brasil do início do terceiro milênio e ele me disse, de forma lacônica: “eu acho que está muito legal.” Perguntei o porquê e, com humor, disse: “cara, o fato de você poder chamar seus governantes de FDP não tem preço”.   Esse senhor, cujo nome escapa pelos dedos da minha memória, viveu a ditadura Nacional-Socialista, imposta por Hitler e suas abóboras selvagens; e no Brasil dos tempos da ditadura do “Ama-o ou deixe-o.” Ou seja, ele sabia muito bem o valor dessa tal liberdade.   Bem, o mundo dá vodkas e, atualmente, vemos políticos e demais charlatães de Estado defenderem a “limitação da liberdade de expressão”. Isso não me espanta,

O ESPÍRITO NATALINO ESTÁ LOGO ALI

Como de costume, pipocaram mensagens de Natal neste fim de ano. E vejam só como são as coisas: boleiras dessas mensagens natalinas, escritas por figurões e figurinhas, celebravam o Natal retratando Jesus Cristo como sendo um revolucionário, o primeiro comunista, etc.   Claro que o fervo foi um trem lindo de se ver, tanto da parte dos signatários da mensagem, quanto daqueles que ficaram pau da vida com ela.   Mas quem está certo nessa confusão infernal? Nenhuma das partes. Ambos os lados desse entrevero estão certos no que negam e errados no que afirmam.   Quando pintamos Cristo com as tintas que nos agradam, além de estarmos fechando os nossos olhos para a verdadeira face do Redentor, estamos, de forma indevida, nos colocando num patamar elevado demais para a nossa pequenez.   Toda vez que procedemos desse modo, invariavelmente, estamos condenando sem clemência o nosso semelhante, que detestamos com todas as forças do nosso ser. E fazemos isso dizendo: o que Jesus diria pra você se ele

UMA VISÃO CONSERVADORAMENTE ANARQUISTA

É importante que tenhamos, ao mesmo tempo, um olhar anarquista e uma visão conservadora. A meu ver, essa é a forma mais apropriada para não cairmos nos devaneios revolucionários, nem nos delírios reacionários.   Explico-me: o olhar anarquista nos convida a termos sempre uma saudável desconfiança frente ao poder. Uma postura cética diante dos poderes que emanam do Estado, o mais frio dos monstros frios; que germinam das corporações, as mais cínicas chupadoras de almas; e que brotam das multidões, as mais psicodélicas das bagas.   Tal desconfiança não deve ser encarada como uma afetação de superioridade. Muito pelo contrário. É uma franca postura de humildade e de caridade.   Todos nós dizemos que não somos melhores que ninguém - ao menos dizemos isso da boca pra fora - e, ao dizê-lo, estamos reconhecendo que nós sabemos o quão ruins nós podemos ser se formos tentados de forma apropriada.   Por isso, desconfiar de todos aqueles que exercem algum tipo de poder é um ato de humildade e de c

GULODICE INFORMACIONAL

Durante milênios as pessoas viveram suas vidas, bem ou mal, sem a volúpia de estarem diariamente se alimentando dos dejetos noticiosos desejados evacuados por monstrengos como a grande imprensa e a mídia nanica (que não é tão nanica assim).   E nós acreditamos que somos safos, muito safos, muito críticos por estarmos acompanhando tudo o que nos é apresentado com o rótulo de notícia, informação e “conteúdos”, um nome fofo dado pelos bruxos do marketing digital.   Por alimentarmos essa presunçosa esperteza em nosso peito, não nos tocamos que estamos cada vez mais reféns dessa estrovenga.   E por estarmos com a cabeça cheia de informações com hálito de noite mal dormida, cremos que esse vozerio todo em nossa cuca seria a nossa própria voz.   Na verdade, bem na verdade, de tanto nos empanturrarmos com informações, acabamos por cultivar em nosso íntimo uma certa “surdez” brutal frente a voz da nossa consciência, justamente por confundirmos essa algazarra toda que nos habita com aquilo que d

UM MÍNIMO DE SANIDADE

Não julgar o próximo. Aí está um trem difícil pra caramba. Difícil porque todos nós temos em nosso peito aquela terrível inclinação para a soberba que não nos deixa e, infelizmente, muitas e muitas vezes, nós mesmos não queremos nem saber de deixá-la de lado.   Porém, se há em nós uma porção desse tal senso de realidade, que é a humildade, penso que uma passagem da vida de São Francisco de Assis pode nos ser de alguma valia, ou de nenhuma serventia. Ao final, você decide.   Dito isso, vem comigo. A história, essa louca velha, nos conta que “São Chico”, quando rezava, em suas preces, dizia ao Altíssimo que ele reconhecia que era o pior dos homens.   Um frade ouviu ele várias vezes dizendo isso e, um dia, resolveu ter um dedo de prosa com o santo e, proseando, disse que ele não poderia dizer isso de si mesmo, tendo em vista quem ele era.   Francisco, com um doce sorriso no rosto, disse que ele era sim o pior homem que havia no mundo, pior que o mais cruel dos assassinos.   Diante dessa r

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 24)

Honra é algo raro, muito raro e, por isso mesmo, não esperemos encontrar esse bem precioso presente no coração das víboras togadas, nem nas ações dos sicofantas e, muito menos, no olhar dos chacais de terno e gravata.   #   #   #   Há homens de valor que, por isso mesmo, não tem preço. Esses são tão raros quanto imprescindíveis. Há também aqueles que têm preço e que, por essa razão, não valem nada. E eles são muitos e se vendem por qualquer bagatela para quem estiver no poder. E é claro que esses biltres até fazem aquele charminho na hora da barganha, mas cedem tudo, tudinho, “facim, facim”, desde que lhes garantam um lugarzinho bacana no parquinho da Ilha da Fantasia.   #   #   #   O que muitíssimas pessoas chamam de “princípios” e “valores”, não passa de um punhadinho de slogans publicitários e de estereótipos políticos. Só isso e olhe lá.   #   #   #   Se estamos diante de uma situação que nos parece insolúvel, isso não quer dizer que não há nada que possa ser feito para resolver a

A INSUSTENTÁVEL LEVIANDADE DO SER

“Nós fizemos tudo o que podíamos”. Essa frase, de teor lazarento, frequentemente dita por nós, quando estamos cara a cara com uma derrota, oculta com suas letras um punhado de fraquezas nossas.   Qualquer empreitada que nos propomos realizar, deve, necessariamente, ser feita não apenas tendo em mente a obtenção de uma vitória cabal. Nada disso. Elas devem ser sempre realizadas até o fim, doa a quem doer, mesmo que o fracasso pareça inevitável.   Se pararmos para refletir um pouco a respeito, iremos constatar que, no correr de nossa vida, nós acabamos obtendo mais fracassos que realizações; e veremos, inclusive, que aqueles indivíduos que são tidos como vencedores, em tudo na vida, não são diferentes de nós nesse quesito.   E se todos nós temos em nossa conta vital mais fracassos que êxitos, o que então diferencia os vencedores dos demais mortais? É que essas pessoas veem, em cada pancada que a vida lhes dá, uma preciosa lição que deve ser aprendida e assimilada.   Sim, eu sei, todo mun

MUITO ALÉM DAS QUATRO LINHAS

Não entendo nada de futebol, não aprecio o referido esporte e, por isso mesmo, não tenho time do coração, nem sofro pela seleção.   Não digo isso para contar vantagem. Não mesmo. Para ser franco, gostaria muito de compartilhar das mesmas emoções que muitos dos meus amigos externam quando falam do assunto, mas, infelizmente, não consigo. Sou, definitivamente, um caso perdido.   Porém, frente a Copa do Qatar, duas imagens me chamaram a atenção. Duas. Uma era a do técnico da seleção japonesa curvando-se, diante da torcida, em sinal de reverência, após a derrota do seu time.   Antes disso, ele cumprimentou cada um dos jogadores, com altivez, tal qual um líder após o fim de uma dura batalha, dizendo aos seus: “foi uma honra lutar ao seu lado”. Na verdade não sei o que o técnico disse a cada um dos jogadores, mas imagino que teria sido algo mais ou menos assim. Enfim, uma cena linda de se ver.   A outra imagem foi uma foto do técnico da seleção da Croácia, durante o jogo em que o Brasil foi

DO ORDINÁRIO AO EXTRAORDINÁRIO

Quando identificamos o nosso cantinho existencial, nós acabamos dando de cara com o nosso dever fundamental e, sem querer querendo, descobrimos para que fomos talhados.   O problema é que muitas e muitas vezes, nós não queremos tomar conhecimento desse trem porque acreditamos, piamente, que nós podemos realizar o que nos der na telha e que tá tudo bem, porque ninguém pode nos dizer o que fazer, não é mesmo?   E que a verdade seja dita: sim, nós podemos fazer o que bem entendermos, mas isso não significa que será bem feito, que será realizado com genuína bondade e, principalmente, ao final nós teremos que arcar com as consequências das nossas decisões fora de prumo.   E o angu fica mais encaroçado ainda quando acreditamos que o nosso dever fundamental, a tal da nossa vocação, seria algo que nós amamos fazer, que nos dá prazer, coceirinha e tal.   É óbvio que não há nada de errado em sentirmos satisfação naquilo que fazemos. O problema está em querermos identificar o dever fundamental da

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 23)

Quando estamos envolvidos em uma disputa política, com todos os conflitos que lhe cabem, nós não medimos esforços para nos destruir uns aos outros. É um trem lindo - e doido - de se ver.   Agora, quando estamos entregues ao remanso das banalidades nossas de cada dia, acabamos por nos empenhar pacas para destruirmos a nós mesmos, de fio a pavio, por inteiro. Bah! Que bosta.   #   #   #   Não precisamos de um monte de equipamentos modernosos para sermos civilizados. Mas conseguimos, com muita facilidade, nos bestializar estando munidos com um punhado desses modernosos equipamentos que tanto idolatramos.   #   #   #   Se não sabemos conversar com alguém, olhando bem nos seus olhos, sem sermos agressivos, nós estamos, literalmente, mais próximos da barbárie do que podemos imaginar.   #   #   #   É muito perigoso quando um grupo, maquiavelicamente, passa a rotular a torto e a direito, todos aqueles que não rezam de acordo com a cartilha do seu credo ideológico, que não caminham conforme a s

O QUE DE FATO É

Há mais ou menos 22 anos atrás, Al Gore, então candidato Democrata à presidência dos Estados Unidos, havia perdido o pleito para o Republicano George W. Bush.   Fim de jogo? Não senhor. O jogo continuou, tendo em vista que Al Gore pediu a tal da recontagem dos votos das urnas do Estado da Flórida.   O candidato do Partido Democrata tentou, tentou, tentou, mas, ao final, não conseguiu provar o seu ponto.   Frente a essa reminiscência, pergunto: Al Gore estava agindo como um golpista? Ninguém na época disse isso e, imagino, ninguém pensou algo assim.   Ele estava promovendo ataques contra as instituições democráticas? Também não. Nenhuma palavrinha foi ventilada por ninguém nesse sentido.   Espere aí! Ele estava agindo feito um fascista para solapar o Estado Democrático de Direito e implantar uma ditadura? Não cara pálida. Nenhuma linha escrita na época apontou para essa direção.   E por que não? Simplesmente porque ele estava apenas questionando o resultado das eleições e, por isso, ped