Pular para o conteúdo principal

UMA VISÃO CONSERVADORAMENTE ANARQUISTA

É importante que tenhamos, ao mesmo tempo, um olhar anarquista e uma visão conservadora. A meu ver, essa é a forma mais apropriada para não cairmos nos devaneios revolucionários, nem nos delírios reacionários.

 

Explico-me: o olhar anarquista nos convida a termos sempre uma saudável desconfiança frente ao poder. Uma postura cética diante dos poderes que emanam do Estado, o mais frio dos monstros frios; que germinam das corporações, as mais cínicas chupadoras de almas; e que brotam das multidões, as mais psicodélicas das bagas.

 

Tal desconfiança não deve ser encarada como uma afetação de superioridade. Muito pelo contrário. É uma franca postura de humildade e de caridade.

 

Todos nós dizemos que não somos melhores que ninguém - ao menos dizemos isso da boca pra fora - e, ao dizê-lo, estamos reconhecendo que nós sabemos o quão ruins nós podemos ser se formos tentados de forma apropriada.

 

Por isso, desconfiar de todos aqueles que exercem algum tipo de poder é um ato de humildade e de caridade e, com essa atitude, torna-se inevitável que compreendamos que há certos valores, bens e concepções de mundo que devem ser preservadas com sabedoria. Isso mesmo. Sabedoria.


Respeitar, com certa reverência, as conquistas que nos foram legadas pelas gerações que nos antecederam, é a base para que possamos, de forma ousada, renovar e inovar, porque não existe mudança edificante sem o devido respeito ao que é permanente.

 

Ora, toda vez que procurou-se, de forma reacionária preservar algo, este acabou necrosando e perdendo a sua vivacidade; todas as vezes que procurou-se, de maneira revolucionária transubstanciar a realidade, o resultado foi a confluência de desgraças que perverteram brutalmente o coração humano.

 

Por isso, é tão importante procurarmos preservar os patamares conquistados pelos nossos antepassados. Sem eles, acabamos sempre aflorando o que há de mais vil em nós.

 

Por essa mesma razão é imprescindível que nos esforcemos para sermos céticos frente às boas intenções, principalmente diante das nossas que, na maioria das vezes, são o caminho mais que perfeito para a nossa irrefreável danação.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CAMINHANDO SEM PRESSA NA CONTRAMÃO

Recentemente tive a alegria de encontrar em um Sebo o livro “Rubem Braga – um cigano fazendeiro do ar”, de Marco Antonio de Carvalho. Na ocasião, não tive como comprá-lo. Já havia fechado minha compra e, em consequência, não tinha mais nenhum tostão no bolso, por isso, deixei o baita na estante, torcendo para que ninguém o comprasse.   As semanas se passaram e lá estava eu, mais uma vez, no mesmo Sebo e, graças ao bom Deus, lá estava o bicho velho, esperando o Darta para levá-lo. Na ocasião estava indo para uma consulta médica e, enquanto aguardava, iniciei minha jornada pelas páginas da referida obra.   Rubem Braga, o homem que passava despercebido no meio da multidão, percebia tudo, tudinho, que a multidão não era capaz de constatar e de compreender. Não é à toa que ele era e é o grande mestre da crônica.   Ao indicar esse caminho, não estamos, de modo algum, querendo insultar ninguém não. O fato é que toda multidão, por definição, vê apenas e tão somente o que os mil olhos da massa

BUKOWSKI DIANTE DAS AREIAS DO TEMPO

O filósofo argentino José Ingenieros, em seu livro “Las fuerzas morales”, nos lembra que cada época tem que lutar para reconquistar a história. As pessoas de todos os tempos, dentro de suas circunstâncias, devem esforçar-se nessa empreitada. O conhecimento, por sua natureza, encontra-se espalhado pela sociedade, em repouso sobre incontáveis fragmentos, como se fosse um oceano de areia diante do horizonte da existência e, cada geração, deve procurar reconstruir, com as areias do tempo, o palácio da memória, o templo da história porque, sempre, cedo ou tarde, vem a roda-viva e sopra novas circunstâncias em nossa vida mal vivida, que vão erodindo todo o trabalho que foi realizado por nós e pelas gerações que nos antecederam. A cada nova circunstância que se apresenta, é necessário que procuremos atualizar a nossa visão do passado, para que possamos melhor compreender o momento presente e, principalmente, a nós mesmos. Nesse sentido, podemos afirmar, sem medo de errar, que a história é sem

REFLEXÕES INOPORTUNAS (p. 02)

A pressa é inimiga da perfeição, todo mundo sabe disso; mas a inércia covarde, fantasiada de prudência e sofisticação, não é amiga de ninguém e isso, infelizmente, é ignorado por muita gente de alma sebosa.   #   #   #   A soberba precede a queda. E entre ela e a queda há sempre uma grande tragédia.   #   #   #   Todo parasita se considera tão necessário quanto insubstituível, especialmente os sacripantas burocráticos e perdulários.   #   #   #   Fetiche por novas tecnologias não é sinônimo de uma educação de qualidade. É apenas um vício invadindo descaradamente a praia das virtudes.   #   #   #   O maior de todos os erros, que podemos cometer por pura estupidez, é imaginar que estamos imunes a eles só porque temos um diploma na parede e algum dinheiro na conta bancária.   #   #   #   Qualquer um que diga que tudo é relativo, não deveria, por uma questão de princípio, jamais queixar-se [depre]civicamente contra a presença de nenhum político, nem reclamar das picaretagens dos incontávei