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Mostrando postagens de novembro, 2023

BULIMIA INFORMACIONAL

Não faz muito, estava lendo o livro “Israel em Abril”, de Érico Veríssimo, onde o mesmo relata as peripécias vividas por ele no período que esteve no Estado Hebreu nos anos sessenta. Uma obra similar ao livro “Gato preto em campo de neve”, do mesmo autor.   Bem, lembro da referida obra porque, logo nas primeiras páginas, Érico Veríssimo nos chama a atenção para a forma como a nossa memória, toda melindrosa, trabalha.   Ele nos diz que, quando menino, havia encontrado uma edição da revista “Leitura para todos” e nela havia uma fotografia do palácio de Vosges, que lhe encantou. Quarenta anos depois ele visitou Paris e, a primeira coisa que ele fez, foi conhecer a paisagem que, quando menino, havia visto em uma fotografia estampada nas páginas da dita-cuja da revista.   No entanto, quando ele voltou para o Brasil, para o seu espanto, a imagem que lhe vinha à mente, quando lembrava do referido palácio, não era a da experiência que ele teve ao visitar a cidade luz, mas sim, a imagem da foto

QUASE POESIA (p. 04)

# 021   Não sou, não mesmo, amigo de rei nenhum. Nem de presidente, nem de governador, Muito menos de deputado ou de senador, Desprezo igualmente a todos, um por um; Gente mesquinha que faz da dissimulação Da intriga ardilosa e da treinada mentira A matéria-prima da magia do seu dia a dia Usada para engambelar toda essa triste nação Encenando gestos de prodigalidade e alegria Perante as câmeras metidas de todas mídias Que não querem saber de espiar os bastidores Onde os biltres se derretem em vilanias Com dinheiro, tramoias e muitas baixarias Que, no fundo, são seus únicos amores.   # 022   Num estalar de dedos Somem os delírios E todos os medos.   # 023   Imaginar que O tal do materialismo Ou do cientificismo Seriam equivalentes Ao saber científico É um trem ridículo Um tremendo mico Pra dizer o mínimo.   # 024   O poder não é corruptor Ele apenas potencializa Todo o fel e desamor De quem o cobiça.   # 025   Quem com exuberância Fala o que bem entende Imaginando em sua mente Mesquinha

ENTRE GOLPES E CONCILIAÇÕES

Um livro que fez a cabeça de muita gente esquisita é a obra “Técnicas de golpes de Estado”, do escritor italiano Curzio Malaparte. Aliás, o autor odiava essa obra. Não apenas por não considerá-lo o seu melhor livro, mas também e principalmente, por apresentá-lo como sendo uma espécie de Nicolau Maquiavel do século XX.   Falando em gente diferente, José Dirceu, esse mesmo, em entrevista concedida ao jornalista Paulo Henrique Amorim, em 03 de setembro de 2018, por ocasião do lançamento do primeiro volume do seu livro de memórias, havia dito que a obra de Curzio Malaparte, em particular os livros “kaputt” e “A Pele”, tiveram uma grande influência sobre ele porque, nas suas palavras, o autor mostrava a realidade como ela é e era isso que lhe interessava, pouco importando qual fosse a orientação ideológica do escritor (só para constar: Curzio era um simpatizante do fascismo).   Tendo isso em vista, podemos, se assim desejarmos, junto com nossos alfarrábios, refletir um pouco a respeito da h

QUASE POESIA (p. 03)

# 015   O grande problema, meu irmão, Não é a nossa falta de motivação. A encrenca toda é a fraqueza adquirida Por nossa desídia e falta de perspectiva, Fruto da ausência esculachada e desinibida De todo e qualquer tipo de disciplina Em nossa porca vida mal vivida.   # 016   Enquanto a chuva cai Lentamente e sem cansar A saudade com ela se vai E com o correr das águas São levadas e lavadas Todas as velhas mágoas.   # 017   Na vida tudo tem peso, tudo Tem número e alguma medida, Especialmente os frutos Da nossa indisciplina.   # 018   De forma sonsa e insólita Com um golpe traiçoeiro A República foi proclamada No Brasil brasileiro.   # 019   Em Banânia, a vida pública Tanto na era republicana Como nos idos da monarquia Sempre foi uma porcaria Regida por uma camarilha De inigualável vilania.   # 020   O Quinze de novembro é uma farsa, O dia sete de setembro também. Porque hoje, nessa terra cansa

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 55)

Se nós acreditamos que somos imunes a toda e qualquer forma de manipulação, se cremos que estamos acima de toda e qualquer idiotia, é porque nós, com toda certeza, já nos encontramos mergulhados até a goela na mais abjeta imbecilidade.   #   #   #   Um adolescente mal educado, que vive fazendo pirraça e baixarias com os demais, das duas, uma: ou sente um prazer sádico e doentio em fazer ou outros sofrer e em deixar seus pais morrendo de vergonha, ou está apenas revelando com clareza, aos olhos de todos, a educação porca que recebeu no aconchego do seu lar.   #   #   #   É preciso tempo e dedicação para podermos conhecer um cadinho da tal da história. É necessário tempo para estudá-la e refletir sobre as suas incontáveis lições. Agora, ficar nesse clima de afobação, doido, doidinho para dar uma opinião furada a respeito de tudo, em toda e qualquer treta, é um atestado de profundo desamor pela Mestra da vida e de um tremendo desapreço por tudo aquilo que ela tem a nos ensinar.   #   #   

O CONSENSO MIDIÁTICO

O filósofo Vicente Ferreira da Silva, em seu livro “Dialética das Consciências”, nos lembra que cada tema, cada um ao seu modo, oferece algum risco, bem característico, a todo aquele que for refletir e ponderar a seu respeito, podendo levar o sujeito a perder-se em uma trama de ramificações, edificada a partir da dita-cuja da questão inicial que provocou a curiosidade do caboclo.   Sem dúvida alguma, um desses temas espinhosos que pode, com facilidade, nos levar a cair numa “dialética artificiosa e falaz”, é a fabricação do consenso midiático que, malandramente, se apresenta como sendo a “opinião pública”.   Ora, há muitas luas, se a cachorra da minha memória não está me pregando uma peça, Samuel Butler afirmou que o dever número um da imprensa seria instigar os seus leitores a duvidar de tudo aquilo que fosse publicado por ela e, assim deveria ser, por uma razão, que em épocas mais divertidas, parecia ser algo ululantemente óbvio: de que os formadores de opinião deveriam estimular os

QUASE POESIA (p. 02)

# 008   Se Sócrates bebeu a Cicuta Para não negar a verdade, Indo contra a vontade Da canalhada corrupta, Se Cristo morreu crucificado Para com seu sangue nos redimir, Dos nossos inúmeros pecados, Se no caminho para Damasco Um clarão de luz cegou Saulo Que caiu vergonhosamente do cavalo Para tornar-se São Paulo O grande e ousado apóstolo Daquele que venceu a morte, Quem somos nós na ordem do dia Para rir e fazer pouco caso Daqueles que procuram sem cessar, Num misto de fervor e agonia, A luz que há de nos libertar? Somos a negação daquilo que Poderíamos um dia ter sido, Apenas uma pálida sombra Desprovida de sentido.   # 009   Todo menino mimado e metido Que torna-se um tirano constituído Pela batuta da letra morta da lei Age como se fosse um poderoso rei Apesar de ser apenas um menino Mimado, togado e cretino.   # 010   Tombou o velho Nabucodonosor Depois de ter causado E espelhado tanta dor Da mesma forma tombará também Todos aqueles se negarem Realizar graciosamente o bem.   # 011  

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 54)

A verdade fundamental, de cada um de nós, é sempre um trem tremendo e, por isso mesmo, acaba sendo muito bem escondido de todos, principalmente, de nós mesmos.   #   #   #   Muitas e muitas vezes pecamos por pura falta de ousadia.   #   #   #   O desprezo pelo conhecimento é o refúgio dos canalhas, que vivem com aquela pose afetada de bom-moço, de defensor das grandes causas da humanidade, sem ser capaz de amar o próximo de verdade.   #   #   #   Uma espada, mais que uma arma, é uma linha que interliga o finito ao eterno, que une a carne ao espírito, uma ponte que conecta a existência que termina à vida que nunca finda.   #   #   #   Muitos falam, pelos cotovelos, sobre os resultados pífios que são apresentados pelo sistema educacional do nosso país, mas poucas são as pessoas, que falam pelos cotovelos, que dedicam parte do seu dia, mesmo que pequena, para a leitura de um livro.   #   #   #   Se nós não somos minimamente exigentes conosco mesmo, provavelmente é porque nunca formos real

QUASE POESIAS (p. 01)

# 001   Tudo, tudinho, fica muito confuso, Sem norte, sem rumo, nem prumo, Quando alimenta-se indevidamente a expansão Dos rotos controles burocráticos tolos Que tornam-se os únicos itinerários Que regem as trilhas da educação, Deixando todos desolados, perdidos e apáticos Diante da avalanche infindável de formulários, Desprovidos de qualquer senso de razoabilidade, Servindo apenas e tão somente Para fazer todos de otário Forjando números artificiosos de araque Que ocultam sem o menor pudor ou piedade A nossa deprimente e soturna realidade.   # 002   A burocracia não mata Mas essa bruta papelada Desfibra até o tutano A alma do camarada Até reduzi-lo a nada.   # 003   Toda perseguição brutal Começa com uma lengalenga De bom-mocismo afetado Para justificar o mal Que, sem a menor piedade, Será perpetrado.   # 004   A agressão a inocentes É uma das ações prediletas Das ideologias decrépitas Que alimentam as mentes Das vis almas indolentes Covardes e decadentes.   # 005   Quando o sol da ve

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 53)

Por conta do politicamente-correto, que entope as veias e artérias da sociedade contemporânea, exalta-se a tal da tolerância como se essa fosse a mais excelsa das virtudes e, tal ufanismo indevido, tem levado os seus cultores a promover toda ordem de ações infames em nome, é claro, da tal da tolerância [dos intolerantes].   #   #   #   A tolerância é um trem totalmente diferente da misericórdia. Se nós não percebemos a diferença abissal que há entre uma coisa e outra é porque, bem provavelmente, nós somos pessoinhas tremendamente fúteis, intransigentes e cruéis com tudo aquilo que não é acolhido e afagado por nosso intolerável ego militante, que ignora soberbamente o que vem a ser essa tal de misericórdia, que não tem nada que ver com aquilo que, de forma afetada, chamamos de tolerância.   #   #   #   A misericórdia é intolerante com tudo aquilo que é torto, mas está sempre de braços abertos para perdoar e acolher todos aqueles que vivem uma vida torta.   #   #   #   A misericórdia aco

O MEIO É A MENSAGEM, OU A FALTA DELA

Alguns dias atrás, não faz muito, fui com minha família num atacado, daqueles que tem meio de tudo, pra comprar algumas utilidades para casa que, de um modo geral, não tem serventia nenhuma.   Pra ser bem sincero, todas as vezes que vou neste tipo de lugar, me divirto pacas com a seção das ferramentas, com o setor dos materiais escolares e de escritório e, diante de todas aquelas fascinantes tranqueiras, que mais olho com as mãos do que coloco no carrinho, sempre acabo por levar algumas daquelas maravilhosas quinquilharias de serventia duvidosa.   Dentre as ciladas que voluntariamente caí, destaco a compra de um pacotinho com envelopes postais, com as laterais ornadas com listras verde e amarela. Um pacote com dez unidades ao custo de R$ 3,00.   Tudo bem, na hora fiquei faceiro da vida com a aquisição, mas o que leva uma pessoa, no terceiro milênio, a comprar envelopes postais? Francamente, eu não sei. No momento me pareceu uma boa ideia. Bah! E que ideia.   Mentira. Sei muito bem porq