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QUASE POESIA (p. 02)

# 008

 

Se Sócrates bebeu a Cicuta

Para não negar a verdade,

Indo contra a vontade

Da canalhada corrupta,

Se Cristo morreu crucificado

Para com seu sangue nos redimir,

Dos nossos inúmeros pecados,

Se no caminho para Damasco

Um clarão de luz cegou Saulo

Que caiu vergonhosamente do cavalo

Para tornar-se São Paulo

O grande e ousado apóstolo

Daquele que venceu a morte,

Quem somos nós na ordem do dia

Para rir e fazer pouco caso

Daqueles que procuram sem cessar,

Num misto de fervor e agonia,

A luz que há de nos libertar?

Somos a negação daquilo que

Poderíamos um dia ter sido,

Apenas uma pálida sombra

Desprovida de sentido.

 

# 009

 

Todo menino mimado e metido

Que torna-se um tirano constituído

Pela batuta da letra morta da lei

Age como se fosse um poderoso rei

Apesar de ser apenas um menino

Mimado, togado e cretino.

 

# 010

 

Tombou o velho Nabucodonosor

Depois de ter causado

E espelhado tanta dor

Da mesma forma tombará também

Todos aqueles se negarem

Realizar graciosamente o bem.

 

# 011

 

Todos aqueles que temem

Ficar no estado de dúvida

Acabam tornando-se reféns

Da idiotia absoluta.

 

# 012

 

Escrevinhar tortas linhas

É uma grande alegria,

Agora, lecionar todo dia

Para mim, é pura poesia.

 

# 013

 

Podemos beber civilizadamente

Mesmo que no último trago

Caiamos vergonhosamente.

 

# 014

 

Uns dizem que é sorte

Outros tantos que é destino

Quando encontramos pelo caminho,

Que vai além dos umbrais da morte

A pessoa mais do que certa

Para com ela dividir os dias

Compartilhar todas as alegrias,

Tristezas, sonhos e fadigas.

Bem, de minha parte eu digo e repito,

Sem medo algum de parecer ridículo

Que tal fato da vida eu vivo,

E é uma dádiva, uma bênção divina

Tê-la em meu coração e ao meu lado,

Dilvana, minha amada, minha linda.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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