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Mostrando postagens de outubro, 2022

ESTÁ NA HORA DA AUTOCRÍTICA

Após o tombo de uma derrota é mais do que natural que pinte aquela indignação e, junto com ela, o desejo de encontrar um bode expiatório para descarregar nossa frustração. Sim, é natural, mas tal atitude não faz muito bem não.   Na real, após uma derrota, como em qualquer revés que a vida nos apresente, o que primeiramente nós deveríamos fazer é encarar estoicamente a situação e realizar, sem dó, uma baita autocrítica.   Não sei se aqueles que se declaram conservadores, ou algo similar a isso, de fato estão disposto a fazê-lo, porém, se acreditamos realmente que é necessário edificar uma perspectiva política mais elevada para o nosso triste país, é imprescindível que, neste momento, engula-se o furor para refletir sobre os erros que foram cometidos nestes últimos anos que, diga-se de passagem, não foram poucos.   Não me refiro aos erros da presidência da República e das grandes lideranças políticas. Isso fica para outra conversa. Neste primeiro momento, a autocrítica deve ser feita com

PARA SUPERARMOS A MORNIDÃO

A eleição que parecia que não iria acabar mais, enfim terminou e, diante de seu fim, muitas são as questões que ficaram nas valetas da apuração.   De cara, vem à minha mente, uma questão: a tal da “polarização”. Muitos se manifestaram alarmados diante dessa divisão como se isso fosse uma ameaça à democracia, um perigo para as instituições, uma fonte inexaurível de tensões e assim por diante.   De minha parte, francamente, não vejo a dita cuja da “polarização” como sendo um mal. Muito pelo contrário. Vejo nela um sinal benfazejo para o amadurecimento político da nossa sociedade.   Explico-me: até pouco tempo atrás, o que tínhamos era uma encenação farsesca de rinhas eleitorais onde não havia uma clara disputa entre projetos de Brasil, ideologias e visões de mundo diferentes, mas apenas e tão somente uma "lutinha ensaiada" entre compadres para disputar cargos públicos entre o que poderíamos chamar de “esquerda”, a “direita da esquerda” e as “forças do atraso”, as agremiações fi

ROUBA, DIZ QUE FEZ, MAS NÃO FEZ NÃO

Ademar de Barros, figuraça carimbada da política brasileira, foi imortalizado em nossa história pela frase: "Adhemar rouba, mas faz".   Tudo começou mais ou menos assim: seu adversário Paulo Duarte, à época, denunciou inúmeros escândalos de corrupção do dito cujo, as famosas “negociatas”, dizendo: "Adhemar rouba”!   Diante das acusações, surgiu a frase "Adhemar rouba, mas faz”. Num primeiro momento, era apenas um slogan extraoficial e, em 1957, foi, de fato, utilizado como slogan de campanha para a prefeitura de São Paulo.   Com o tempo, muitos brasileiros, dos mais diversos rincões, quando iam defender seu candidato corrupto do coração, diziam, com todas as letras: “pois é, Fulano rouba, mas faz”.   Nos anos 90, lembro-me com clareza das inúmeras vezes que muitos de meus amigos marxistas, dos mais variados tons e matizes, diziam, e com razão, que esse tipo de defesa era um absurdo de fio a pavio, absurdo esse que, para a infelicidade geral da nação, refletia muito

LIGANDO OS PONTOS ENTRE OS CONTOS

A qualidade de tudo o que sabemos a respeito de qualquer assunto depende, necessariamente, de uma forte disposição para levantar perguntas adequadamente e de muita paciência para respondê-las.   Se não temos na algibeira da nossa alma nem a primeira, muito menos a segunda, tudo o que sabemos não passará de um amontoado de jargões publicitários e alguns punhados de cacoetes mentais que consumimos de forma conspícua aqui e acolá. Só isso e olhe lá.   Sim, eu sei que muitos olham para a figura de “Loola” e veem nele a imagem de um redentor dos pobres e pai dos desvalidos, mas vejamos: no tempo em que a picanha abundava, o Brasil desfrutava dos juros mais altos do mundo e, junto com isso, a dívida pública Federal mais que dobrou, chegando a módica quantia de R$ 1,69 trilhões.   Bah! Diante desses números, perguntemos: quais foram as consequências desse endividamento em curto, médio e longo prazo? Se formos sinceros, diremos que não sabemos, porém, podemos imaginar uma resposta honesta, não

MUITOS VAGALUMES NÃO ALUMIAM O SERTÃO

O historiador Fernand Braudel, quando viveu aqui em nosso país, disse que foi no Brasil que ele se tornou inteligente. Porque ele disse isso é um causo para outra conversa, num outro momento.   Mas, umas das coisas que ele aprendeu aqui, é que os acontecimentos são similares aos vagalumes que adornam as noites brasileiras: brilham, brilham, como brilham, mas não alumiam nada.   Essa é uma lição preciosa, tendo em vista a atenção desmesurada que muitas vezes damos a um acontecimento isolado, onde o mesmo muitas vezes é tratado pela grande mídia como se tivesse uma importância em si.   Quando passamos a encarar os acontecimentos deste modo, nós acabamos por perder de vista qual é o seu real significado, o seu verdadeiro lugar na trama espinhosa da história. Agora, se abrirmos nossa mente e formos capazes de ligar os pontos, e fazer as perguntas apropriadas, iremos ver o mar sem fim que há para além dos acontecimentos.   Diante disso, reflitamos sobre o seguinte: imaginemos uma pessoa. Nã

O PODER FOFO DAS ANTENINHAS DE VINIL

Em 2018, após a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro, muitas foram as reações manifestas pelas pessoas que se dizem “esclarecidas”, “empáticas”, “sensíveis” e “do bem” [não de bem].   Tais reações, são um excelente mostruário do estado de espírito que toma conta do coração de muitas pessoas. Sim, um estado onde uma pesada sombra paira sobre o peito, mesmo que suas palavras aveludadas tentem, através de subterfúgios mil, disfarçar o indisfarçável.   Uma dessas reações, que considero muito ilustrativa, era uma que havia sido manifestada, com ares de indignação militante, diante da ausência do então candidato "Jair esfaqueado" nos debates que foram promovidos à época por vários veículos de comunicação. Achavam isso um absurdo, o fim da picada, o espanar da rosca.   Pois é. As pessoas que se consideram um poço cheinho de empatia e sensibilidade ignoravam solenemente que o candidato estava se recuperando de uma facada que o havia deixado com um dreno no abdômen, ligado a uma

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

É sabido de todos que os censuradores, de todos os tempos, nunca tiveram o menor embaraço para calar as vozes que tem a petulância de dizer algumas verdades que esculhambam com suas fantasias políticas.   E é mais do que compreensível que tais figurões sejam assim, tão desinibidos, no exercício de sua tirania, tendo em vista que essa gente sente um prazer dionisíaco quando, do alto de sua vetusta majestade, abusa descaradamente da autoridade que lhe foi investida.   Pois é. Amordaçaram a Jovem Pan e a Brasil Paralelo. A Gazeta do Povo, a Revista Oeste e inúmeros jornalistas e influenciadores digitais receberam também um cala boca e, tudo isso, [dizem] em nome das "instituições". Acusação: de estarem supostamente divulgando “Fake News”.   Lembremos: todos os censores sempre agiram assim. Seja na extinta URSS, seja na finada Alemanha Nazista, a censura era por lá realizada sob justificativas similares. A verdade era chamada de mentira, conspiração e tutti quanti e, para o bem d

OS MIL OLHOS DA VIGILÂNCIA TOTALITÁRIA

Um dos mecanismos de controle mais eficiente que existe é o medo diante das línguas maldizentes. Todo mundo pela-se de medo de acabar recebendo uma saraivada de olhares de reprovação. E o medo paralisa, invariavelmente é mau conselheiro e engessa o nosso discernimento.   Sim, admitamos: a vergonha é um santo remédio. Nos corrige e nos aprimora, desde que tomemos como referência uma tábua de valores sólidos. Porém, o trem muda de figura, tornando-se um instrumento de fragilização da nossa personalidade, e de desfibramento do nosso caráter, quando a referência do embaraço é o vociferar da grande mídia e das multidões, as futricas dos grupinhos de escarnecedores, enfim, quando o parâmetro de certo e errado passa a ser o que os outros irão pensar e dizer a nosso respeito sem saber exatamente quem nós somos.   Quando alimentamos esse tipo de medo em nosso íntimo, estamos literalmente nos permitindo ser guiados e moldados por aquilo que seria a face inconstante e volúvel do moralismo disform

MUITO ALÉM DAS ROUPAS VERMELHAS DO PAPAI NOEL

Um amigo me mandou um trem que ele encontrou em um canto qualquer da internet e pediu minha opinião a respeito do dito cujo.  Ele não tem dó da gente, mas vamos lá.   O trem seria esse: “Acabaram com o 07 de setembro e profanaram o 12 de outubro, no Natal vão querer espancar o Papai Noel só porque ele usa vermelho”. Sejamos francos, a piada não é tão ruim assim, tem seus méritos, mas não chega a ser boazinha. Mesmo assim, procuremos ver o que há para além dos maliciosos risinhos de deboche.   O dia da independência não foi avacalhado por um grupo político, ele foi resgatado pela população que, pela primeira vez, por livre e espontânea vontade, vestiu-se de verde/amarelo e foi para as ruas cantar o hino nacional e rezar. Mas isso escandaliza algumas almas sensíveis, pelo visto.   Quanto ao dia 12 de outubro, o presidente Bolsonaro participou de uma das Missas realizadas na Basílica de Aparecida. Foi ovacionado quando chegou (o que não deveria ter ocorrido, pois não se bate palmas nem pa

A PERVERSIDADE ESTÁ DENTRO DE NÓS

“De onde saíram tantos seres perversos? Em que trevas se escondiam? E a resposta vem: eles sempre estiveram aqui. Só faltava alguém para representá-los. Agora, não falta mais”.   Tais palavras, que foram ditas por aí, pelas vielas tortas das redes sociais por um militante marxista que procurava afirmar, de forma indiscreta e maliciosa, que os cidadãos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro seriam figuras similares aos cidadãos alemães que, na década de 30 do século passado, haviam apoiado Adolf Hitler e que, Bolsonaro, seria uma representação deste biltre.   Esse tipo de subterfúgio seria o que o filósofo Leo Strauss chamou de “Reductio ad Hitlerum”, também conhecido como “argumentum ad Hitlerum”, que em resumidas contas, seria a tentativa canhestra de associar os adversários à imagem do líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores da Alemanha, vulgo Partido Nazista.   Ora, todas as pessoas com um mínimo de bom-senso sabem muito bem que o nazismo é uma ideologia perversa, ign

APENAS UM ZOOLÓGICO BEM MODERNOSO

Tudo o que existe tem uma finalidade, e a finalidade de uma determinada coisa aponta para a razão de ser dela, para o sentido da sua existência.   Se ignorarmos essa realidade, corremos o risco de ficarmos perdidos, feito um morto-vivo num universo inundado de propósito, como bem nos adverte o filósofo Paul Ricouer e, no mundo contemporâneo, todos nós, cada um no seu quadrado, corremos o risco de perder de vista os fins substanciais, os objetivos maiores de uma vida bem vivida.   Diante disso, penso que devemos lembrar que a finalidade de qualquer coisa não está nela mesma, mas sim, para além dela.   Por exemplo, a finalidade de uma cadeira não se encontra nela mesma, ela está para além dela. Ou seja: cadeiras são feitas em razão da existência de nossos traseiros. Elas podem ter os mais variados estilos, podem ser feitas com os mais variados tipos de materiais, mas elas apenas são produzidas porque seres humanos tem bunda.   Do mesmo modo, a finalidade da vida humana não está na nossa

O DESTINO ETERNO E OS DESCAMINHOS TERRENOS

Toda pessoa que se considera "esclarecida" fica horrorizada quando vê pessoas que levam em consideração suas convicções religiosas no momento em que irão escolher os seus representantes públicos.   Em suas cabeças iluminadas, todas as convicções, devidamente aprovadas por elas, podem ser consideradas importantes na escolha de um candidato, todas, menos, é claro, as convicções religiosas cristãs. Essas não tem o selo de aprovação da turminha criticamente crítica, porque o cristianismo não está de acordo com a sua agenda política totalitária.   Na verdade, o cristianismo não está plenamente de acordo com nenhuma agenda política porque, em maior ou menor medida, todos nós, com nossas convicções ideológicas furadas, somos figurinhas reprovadas por Deus e, por isso mesmo, os valores cristãos devem ser levados em consideração frente ao jogo do poder.   O fato de utilizarmos os valores cristãos como critério de avaliação dos candidatos, e de suas agendas, significa que os conceitos

A PONTA DO RABO DA SERPENTE

O ser humano é um bichinho falador. Um baita contador de causo. Todos nós gostamos de ouvir uma boa história e, é claro, gostamos mais ainda de passa-la pra frente, recontando-a para os nossos como se fôssemos os primeiros a fazê-lo.   Tal atitude vê-se claramente presente em torno de uma mesa de bar, como também nos meandros discretos de um grupo de whatsapp. Tanto na primeira como na segunda situação, lá estamos nós repassando uma informação e, ao repassá-la, acabamos aumentando, em alguma medida, um ponto do conto.   Não há dúvida alguma que é muitíssimo prazeroso fazer isso, tanto ouvir quanto contar histórias, porém, a porca torce o rabo, e torce disfarçadamente, quando começamos a confundir a sensação agradável que nos é propiciada por esses momentos, com a impressão de estarmos realmente por dentro de todos os fatos e acontecimentos.   Quando contamos um causo, quando repassamos uma notícia, ou uma sequência de informações, essas acabam sendo comunicadas a nós, e repassadas por

A HISTERIA COMO ESPETÁCULO PARA AS MASSAS

É preciso ter mais sensibilidade diante dos sofrimentos do mundo. Aí está uma frase que é dita e repetida de muitas formas por incontáveis pessoas. Mas, no frigir dos ovos, o que é entendido como sendo uma pessoa sensível? Eis aí uma daquelas questões pra lá de espinhosas.   Digo isso pois, como bem nos lembra o filósofo Guy Debord, nós vivemos numa sociedade onde tudo acaba sendo espetacularizado e, quanto maior for a espetacularização, mais limitada fica a nossa capacidade de apreensão da realidade e mais superficial acaba sendo a nossa compreensão da vida e, consequentemente, nos tornamos mais levianos, e leviandade não é sinal de sensibilidade, nem de empatia.   Deste modo, se refletirmos sobre as inúmeras vezes que acusamos alguém de não ser suficientemente sensível, provavelmente nós perceberemos que o fizemos com base naquilo que nos foi apresentado como um show de horrores com tons apocalípticos.   Não apenas isso. Se nos distanciarmos um pouco do clima de histeria coletiva, qu

OS TENTÁCULOS DA HIDRA VERMELHA

O Brasil todo acompanhou o debate presidencial que foi organizado pela TV Bandeirantes, em parceria com outros órgãos de mídia. Naturalmente, os partidários de cada um dos debatedores irão dizer que o seu “malvado favorito” foi melhor que o dos outros e, como todos nós sabemos, essas coisas são assim mesmo e, por isso, nada direi a respeito do arranca-rabo presidencial.   Porém, há uma fala, realizada pelo jornalista Josias de Souza, que merece ser destacada. Ele disse que, no debate, Bolsonaro enfatizou a estreita relação do PT com ditaduras da América Latina e confessou não entender porque Lula não teceu críticas contundentes contra, por exemplo, a ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua, para se desvencilhar de vez dessa figura e de sua tirania vermelha.   Ora, a resposta a essa inquietação do jornalista é simples, tão simples quanto dez e dez são vinte. Não critica, nem se desvencilha, porque ambos são membros do Foro de São Paulo e, nesta condição, eles têm compromissos que vão mui

A REVOLTA DAS LAGOSTAS

E os Supremos lagostinos, do alto da obscuridade de suas luzes, querem apagar, a qualquer custo, a chama da liberdade do cidadão comum e, ousam fazer isso sob a nobre desculpa [esfarrapada] de proteger os reles mortais, com título de eleitor, contra tudo aquilo que eles, os lagostíssimos supremos, consideram [hipoteticamente] nocivo às instituições.   Há muito foi-nos ensinado por Alexis de Tocqueville, que o livre acesso às informações é uma das colunas fundamentais de uma democracia que, diga-se de passagem, não é o “governo do dianho”, mas sim, do povo, pelo povo e para o povo, sob o império da lei, não de uma juristocracia.   Para que esse “tal de povo” possa minimamente exercer a sua soberania, ele tem que ter garantido a possibilidade de acessar livremente toda e qualquer informação, tendo em vista que apenas podemos tomar uma decisão razoável quando nos é facultado a possibilidade de contrastar e confrontar todas as informações divergentes. Repito: todas.   Obviamente, o fato de

O SANTO DE PALAVRAS OCAS

Confúcio, o grande sábio chinês, em seu “Analectos”, ensina-nos que, para uma sociedade poder superar uma crise, primeiramente deve-se procurar retificar as palavras.   Ora, quando estamos em uma situação de crise é porque, necessariamente, não mais conseguimos nos entender com um mínimo de clareza a respeito do que estamos discutindo e, se não conseguimos dizer com relativa precisão o que está nos causando desassossego, provavelmente nós não conseguimos identificar de uma forma minimamente razoável o problema que está nos causando sofrimento.   E se não sabemos identificar o problema para o qual precisamos redirecionar as nossas energias, admitamos ou não, nós não sabemos o que estamos fazendo e, obviamente, não temos a menor noção do que estamos dizendo.   Por isso, numa situação de crise, é urgente retificar o sentido das palavras para que elas, de fato, sejam ferramentas úteis nessa tarefa, caso contrário, serão apenas um agravante às encrencas presentes.   Podem até servir para ex