Pular para o conteúdo principal

MUITOS VAGALUMES NÃO ALUMIAM O SERTÃO

O historiador Fernand Braudel, quando viveu aqui em nosso país, disse que foi no Brasil que ele se tornou inteligente. Porque ele disse isso é um causo para outra conversa, num outro momento.

 

Mas, umas das coisas que ele aprendeu aqui, é que os acontecimentos são similares aos vagalumes que adornam as noites brasileiras: brilham, brilham, como brilham, mas não alumiam nada.

 

Essa é uma lição preciosa, tendo em vista a atenção desmesurada que muitas vezes damos a um acontecimento isolado, onde o mesmo muitas vezes é tratado pela grande mídia como se tivesse uma importância em si.

 

Quando passamos a encarar os acontecimentos deste modo, nós acabamos por perder de vista qual é o seu real significado, o seu verdadeiro lugar na trama espinhosa da história. Agora, se abrirmos nossa mente e formos capazes de ligar os pontos, e fazer as perguntas apropriadas, iremos ver o mar sem fim que há para além dos acontecimentos.

 

Diante disso, reflitamos sobre o seguinte: imaginemos uma pessoa. Não um caboclo qualquer, mas sim, um caboclo bem importante, com três mil evidências e sessenta delações contra ele, acusado de ter recebido 80 milhões em propina e que, por conta disso, foi condenado por um juiz federal e, em seguida, pelo TRF4 com um “placar” de 3 a 0 e, por fim, terminou levando 5 a 0 no STJ.

 

Imaginemos que, mais tarde, esse homem tenha sido agraciado por um ministro do STF com a anulação de suas condenações, para que tudo comece de novo, do zero.

 

Imaginemos também que o ministro, que concedeu essa "benção de Themis”, a concedeu por considerar que quem o condenou inicialmente não teria competência para julgar o caso, que não seria o “juiz natural”. Dito de outro modo: por um problema de CEP todo o processo foi anulado.

 

Imaginemos agora o seguinte: porque isso tudo teria acontecido? Sim, nós podemos imaginar uma resposta razoável. Depois disso ter acontecido, o que mais poderia acontecer? Pois é, outra resposta que está bem ao alcance da nossa imaginação. Agora, o que mais pode vir a acontecer? Creio que todos nós somos capazes de imaginar e, por isso, não queremos responder, não é mesmo?

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

COMPLEXO DE CHICÓ

Se tem um trem que as pessoas na sociedade moderna gostam de se ufanar é das suas opiniões e, quando se vangloriam disso, fazem questão de destacar que as suas opiniões sobre tudo e sobre todos não são opiniões chinfrim; nada disso, meu amigo, elas são “opiniões críticas”. Mas o que há de tão especial nisso para nos gabarmos? Como nos lembra o professor Gregório Luri, quando alguém começa a dizer que é muito crítica, a única coisa que esse abençoado está querendo dizer é que despreza e rechaça tudo aquilo que destoa dos seus pontos de vista e que irá tratar a pão de ló qualquer pataquada que esteja de acordo com tudo aquilo que ela supostamente pensa. Ui! Eu escrevi que muitas pessoas supostamente pensam? Sim. Eu queria ver — ah, como eu queria — essas mesmas alminhas críticas realizarem um inclemente exame de consciência sobre suas formosas opiniões a partir de uma questão, tão simples quanto modesta, como essa: quantas das nossas amadas e idolatradas opiniões são apenas e tão somen...

OS CRÍTICOS DO PAU OCO

Quando uma palavra passa a ser utilizada em demasia pela grande mídia e pelos autoproclamados “bem-pensantes”, é sinal de que o pobre vocábulo acabou perdendo praticamente todo o seu crédito cognitivo. Quando isso ocorre, ela passa a ser utilizada para sinalizar qualquer coisa e, por isso mesmo, termina significando coisa alguma. E isso, cara pálida, é uma tremenda enrascada porque abre as porteiras da vida para toda ordem de barbaridades. Um bom exemplo disso são os usos e abusos da palavra “crítico”. É educação crítica para cá, é opinião crítica para lá, pensamento crítico acolá; enfim, é um Deus nos acuda porque a única coisa que se faz presente em meio a tanta pretensa criticidade é o espírito de rebanho que, por sua própria natureza, sufoca qualquer possibilidade de uma opinião serena, de um pensamento independente e de uma educação emancipatória. Mas é claro que nós não iremos vestir, jamais, essa carapuça porque, “sacumé”, nós somos “críticos de fato”, não apenas de nome, como...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #026

Tal como a um falsário que cunha moedas falsas, os indivíduos com a alma embebida no cientificismo não se cansam de nos propor uma falsa imagem do ser. # Nascemos no tempo, mas não encontramos a nossa medida e razão de ser no tempo. # A cultura é o espelho amplificador da nossa vida espiritual. # Amizade é destino. Amigo não se escolhe, encontra-se. # Um escritor é o professor do seu povo, como nos ensina Soljenítsin e, por isso, um grande escritor é, por assim dizer, um segundo governo. Eis aí a razão por que nenhum governo, em parte alguma, ama os grandes escritores, só os menorzinhos. # Todo ser humano, em alguma medida, é feito de um sutil contraste de luz e sombra. # Quem tem amor no coração sempre tem algo para oferecer. Quem tem tudo, menos amor no coração, sempre sente falta de algo, de muita coisa; só não sabe dizer do quê. * Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. http...