Pular para o conteúdo principal

O SANTO DE PALAVRAS OCAS

Confúcio, o grande sábio chinês, em seu “Analectos”, ensina-nos que, para uma sociedade poder superar uma crise, primeiramente deve-se procurar retificar as palavras.

 

Ora, quando estamos em uma situação de crise é porque, necessariamente, não mais conseguimos nos entender com um mínimo de clareza a respeito do que estamos discutindo e, se não conseguimos dizer com relativa precisão o que está nos causando desassossego, provavelmente nós não conseguimos identificar de uma forma minimamente razoável o problema que está nos causando sofrimento.

 

E se não sabemos identificar o problema para o qual precisamos redirecionar as nossas energias, admitamos ou não, nós não sabemos o que estamos fazendo e, obviamente, não temos a menor noção do que estamos dizendo.

 

Por isso, numa situação de crise, é urgente retificar o sentido das palavras para que elas, de fato, sejam ferramentas úteis nessa tarefa, caso contrário, serão apenas um agravante às encrencas presentes.

 

Podem até servir para extravasar as nossas frustrações, mas não mais que isso.

 

Aliás, façamos um experimento muito simples: todos nós, independente de nossas predileções políticas, dizemos aos quatro ventos, e a plenos pulmões, que somos defensores dessa tal de democracia e que, no nosso entendimento, não existe na face da terra pessoa mais democrática do que nós. Porém, todavia e entretanto, quantas vezes nós paramos para refletir a respeito do que seria essa tal de democracia? Quanto tempo, realmente, nós dedicamos para conhecer esse trem “maravilindo”?

 

Provavelmente muito pouco, para não dizer menos que isso e, mesmo assim, nos consideramos pessoas tremendamente democráticas, seja lá o que isso queira dizer. E, com base nessa palavra cujo significado foi esvaziado de forma [depre]cívica pela nossa ignorância e má vontade, nós acabamos rotulando, com nossos juízos malformados, boleiras de pessoas como sendo [supostamente] antidemocráticas.

 

Por isso, não existe a menor possibilidade de sanar de forma minimamente decente uma crise enquanto não procurarmos, com honestidade, rever os nossos conceitos e valores através da retificação das palavras que usamos.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #009

Todo orgulhoso se borra de medo da imagem das suas incontáveis imperfeições.   #   Onde não há preferência sincera, há indiferença cínica.   #   Tudo termina tragicamente quando a paciência finda melancolicamente.   #   O impulso de querer racionalizar tudo é o maior inimigo da racionalidade e do bom senso.   #   A verdadeira história da consciência individual começa com a confissão da primeira mentira contada por nós para nós mesmos.   #   Frequentemente somos firmes por pura fraqueza e audaciosos por mera teimosia.   #   Podemos usar as novas tecnologias para sermos reduzidos a uma escravidão abjeta, ou nos servirmos delas para lutarmos para preservar a nossa liberdade interior e a nossa sanidade.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. https://l...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #011

A vida sem momentos de recolhimento e silêncio é um convite a uma sucessão de erros.   #   Concentremo-nos no resultado que almejamos atingir, não na desculpa que iremos apresentar caso fracassemos.   #   É mais importante administrar acordos do que ficar tentando nos concentrar na criação de mecanismos para controlar as pessoas.   #   Todo escritor, ou escrevinhador, que quiser namorar a crônica deve ter o coração aberto para amar os momentos fugidios e saber amá-los.   #   Só os histéricos estão faceiros da vida na atual conjuntura em que nos encontramos.   #   Falemos apenas o necessário e o façamos apenas quando, realmente, a nossa fala for indispensável.   #   Lembremos desse velho ensinamento estoico: o que impede a ação pode sempre favorecer a ação, que aquilo que fica no meio do nosso caminho pode tornar-se o nosso caminho.   *   Escrevinhado por Dartagna...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...