Se tem um trem que as pessoas na sociedade moderna gostam de se ufanar é das suas opiniões e, quando se vangloriam disso, fazem questão de destacar que as suas opiniões sobre tudo e sobre todos não são opiniões chinfrim; nada disso, meu amigo, elas são “opiniões críticas”. Mas o que há de tão especial nisso para nos gabarmos? Como nos lembra o professor Gregório Luri, quando alguém começa a dizer que é muito crítica, a única coisa que esse abençoado está querendo dizer é que despreza e rechaça tudo aquilo que destoa dos seus pontos de vista e que irá tratar a pão de ló qualquer pataquada que esteja de acordo com tudo aquilo que ela supostamente pensa. Ui! Eu escrevi que muitas pessoas supostamente pensam? Sim. Eu queria ver — ah, como eu queria — essas mesmas alminhas críticas realizarem um inclemente exame de consciência sobre suas formosas opiniões a partir de uma questão, tão simples quanto modesta, como essa: quantas das nossas amadas e idolatradas opiniões são apenas e tão somente a repetição de frases que nós ouvimos aqui e acolá? Tempo (tic-tac-tic-tac). Pois é. E essa é toda a criticidade das nossas mimadas opiniões. Há muito tempo, José Ortega y Gasset, em seu livro “A rebelião das Massas”, nos chama a atenção para isso quando nos lembra, de forma lacônica, que uma opinião, seja ela crítica ou não, seria apenas um estranho que nos habita (lá ele). Só isso e olhe lá. Ora, se nós afirmamos e defendemos algo que não sabemos claramente como chegou até nós, cujo fundamento somos incapazes de explicar e esmiuçar, como podemos dizer que esse trem seria o nosso ponto de vista? Complicado, não é mesmo? E o mais engraçado nisso tudo é que todos os indivíduos que permitem que suas mentes e corações sirvam de caixa de ressonância para ideias, ideais e valores que não compreendem, exigem que as “suas opiniões” sejam respeitadas por todos, mesmo que eles nunca tenham se dado ao respeito de parar para matutar um pouco sobre o que estão falando. Por essa razão, opiniões não foram feitas para serem respeitadas, muito pelo contrário: elas existem para serem discutidas e questionadas para, com o tempo, podermos superá-las.
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Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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