Pular para o conteúdo principal

DO ORDINÁRIO AO EXTRAORDINÁRIO

Quando identificamos o nosso cantinho existencial, nós acabamos dando de cara com o nosso dever fundamental e, sem querer querendo, descobrimos para que fomos talhados.

 

O problema é que muitas e muitas vezes, nós não queremos tomar conhecimento desse trem porque acreditamos, piamente, que nós podemos realizar o que nos der na telha e que tá tudo bem, porque ninguém pode nos dizer o que fazer, não é mesmo?

 

E que a verdade seja dita: sim, nós podemos fazer o que bem entendermos, mas isso não significa que será bem feito, que será realizado com genuína bondade e, principalmente, ao final nós teremos que arcar com as consequências das nossas decisões fora de prumo.

 

E o angu fica mais encaroçado ainda quando acreditamos que o nosso dever fundamental, a tal da nossa vocação, seria algo que nós amamos fazer, que nos dá prazer, coceirinha e tal.

 

É óbvio que não há nada de errado em sentirmos satisfação naquilo que fazemos. O problema está em querermos identificar o dever fundamental da nossa existência com aquilo que nos deixa momentaneamente faceiros. Feliz ou infelizmente, não é assim que a banda toca.

 

O nosso lugar no show da vida corresponde, necessariamente, àquilo que apenas nós somos capazes de fazer e que ninguém pode realizar em nosso lugar.

 

Quer dizer, até pode, mas, ao virarmos nossas costas para ele, estamos negando a nossa generosidade frente à vida e, ao mesmo tempo, maculando uma parte significativa da nossa alma.

 

E esse aviltamento que fazemos conosco pode até, num primeiro momento, ser indolor e aparentar ser apenas um gesto banal, porém, conforme os anos passam, e a vida encurta, as consequências passam a nos acompanhar do nascer ao pôr do sol.

 

E se estivermos angustiados quanto ao que deveria ser a nossa idolatrada vocação, não fiquemos acabrunhados não, apenas sigamos em frente cumprindo com cada um dos nossos deveres ordinários e, de repente, estaremos indo de encontro àquilo que é muito mais nós do que nós mesmos: a nossa vocação. E isso, meu caro Watson, é extraordinário.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...