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DO ORDINÁRIO AO EXTRAORDINÁRIO

Quando identificamos o nosso cantinho existencial, nós acabamos dando de cara com o nosso dever fundamental e, sem querer querendo, descobrimos para que fomos talhados.

 

O problema é que muitas e muitas vezes, nós não queremos tomar conhecimento desse trem porque acreditamos, piamente, que nós podemos realizar o que nos der na telha e que tá tudo bem, porque ninguém pode nos dizer o que fazer, não é mesmo?

 

E que a verdade seja dita: sim, nós podemos fazer o que bem entendermos, mas isso não significa que será bem feito, que será realizado com genuína bondade e, principalmente, ao final nós teremos que arcar com as consequências das nossas decisões fora de prumo.

 

E o angu fica mais encaroçado ainda quando acreditamos que o nosso dever fundamental, a tal da nossa vocação, seria algo que nós amamos fazer, que nos dá prazer, coceirinha e tal.

 

É óbvio que não há nada de errado em sentirmos satisfação naquilo que fazemos. O problema está em querermos identificar o dever fundamental da nossa existência com aquilo que nos deixa momentaneamente faceiros. Feliz ou infelizmente, não é assim que a banda toca.

 

O nosso lugar no show da vida corresponde, necessariamente, àquilo que apenas nós somos capazes de fazer e que ninguém pode realizar em nosso lugar.

 

Quer dizer, até pode, mas, ao virarmos nossas costas para ele, estamos negando a nossa generosidade frente à vida e, ao mesmo tempo, maculando uma parte significativa da nossa alma.

 

E esse aviltamento que fazemos conosco pode até, num primeiro momento, ser indolor e aparentar ser apenas um gesto banal, porém, conforme os anos passam, e a vida encurta, as consequências passam a nos acompanhar do nascer ao pôr do sol.

 

E se estivermos angustiados quanto ao que deveria ser a nossa idolatrada vocação, não fiquemos acabrunhados não, apenas sigamos em frente cumprindo com cada um dos nossos deveres ordinários e, de repente, estaremos indo de encontro àquilo que é muito mais nós do que nós mesmos: a nossa vocação. E isso, meu caro Watson, é extraordinário.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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