Pular para o conteúdo principal

DO ORDINÁRIO AO EXTRAORDINÁRIO

Quando identificamos o nosso cantinho existencial, nós acabamos dando de cara com o nosso dever fundamental e, sem querer querendo, descobrimos para que fomos talhados.

 

O problema é que muitas e muitas vezes, nós não queremos tomar conhecimento desse trem porque acreditamos, piamente, que nós podemos realizar o que nos der na telha e que tá tudo bem, porque ninguém pode nos dizer o que fazer, não é mesmo?

 

E que a verdade seja dita: sim, nós podemos fazer o que bem entendermos, mas isso não significa que será bem feito, que será realizado com genuína bondade e, principalmente, ao final nós teremos que arcar com as consequências das nossas decisões fora de prumo.

 

E o angu fica mais encaroçado ainda quando acreditamos que o nosso dever fundamental, a tal da nossa vocação, seria algo que nós amamos fazer, que nos dá prazer, coceirinha e tal.

 

É óbvio que não há nada de errado em sentirmos satisfação naquilo que fazemos. O problema está em querermos identificar o dever fundamental da nossa existência com aquilo que nos deixa momentaneamente faceiros. Feliz ou infelizmente, não é assim que a banda toca.

 

O nosso lugar no show da vida corresponde, necessariamente, àquilo que apenas nós somos capazes de fazer e que ninguém pode realizar em nosso lugar.

 

Quer dizer, até pode, mas, ao virarmos nossas costas para ele, estamos negando a nossa generosidade frente à vida e, ao mesmo tempo, maculando uma parte significativa da nossa alma.

 

E esse aviltamento que fazemos conosco pode até, num primeiro momento, ser indolor e aparentar ser apenas um gesto banal, porém, conforme os anos passam, e a vida encurta, as consequências passam a nos acompanhar do nascer ao pôr do sol.

 

E se estivermos angustiados quanto ao que deveria ser a nossa idolatrada vocação, não fiquemos acabrunhados não, apenas sigamos em frente cumprindo com cada um dos nossos deveres ordinários e, de repente, estaremos indo de encontro àquilo que é muito mais nós do que nós mesmos: a nossa vocação. E isso, meu caro Watson, é extraordinário.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #009

Todo orgulhoso se borra de medo da imagem das suas incontáveis imperfeições.   #   Onde não há preferência sincera, há indiferença cínica.   #   Tudo termina tragicamente quando a paciência finda melancolicamente.   #   O impulso de querer racionalizar tudo é o maior inimigo da racionalidade e do bom senso.   #   A verdadeira história da consciência individual começa com a confissão da primeira mentira contada por nós para nós mesmos.   #   Frequentemente somos firmes por pura fraqueza e audaciosos por mera teimosia.   #   Podemos usar as novas tecnologias para sermos reduzidos a uma escravidão abjeta, ou nos servirmos delas para lutarmos para preservar a nossa liberdade interior e a nossa sanidade.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. https://l...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #011

A vida sem momentos de recolhimento e silêncio é um convite a uma sucessão de erros.   #   Concentremo-nos no resultado que almejamos atingir, não na desculpa que iremos apresentar caso fracassemos.   #   É mais importante administrar acordos do que ficar tentando nos concentrar na criação de mecanismos para controlar as pessoas.   #   Todo escritor, ou escrevinhador, que quiser namorar a crônica deve ter o coração aberto para amar os momentos fugidios e saber amá-los.   #   Só os histéricos estão faceiros da vida na atual conjuntura em que nos encontramos.   #   Falemos apenas o necessário e o façamos apenas quando, realmente, a nossa fala for indispensável.   #   Lembremos desse velho ensinamento estoico: o que impede a ação pode sempre favorecer a ação, que aquilo que fica no meio do nosso caminho pode tornar-se o nosso caminho.   *   Escrevinhado por Dartagna...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...