Pular para o conteúdo principal

O QUE DE FATO É

Há mais ou menos 22 anos atrás, Al Gore, então candidato Democrata à presidência dos Estados Unidos, havia perdido o pleito para o Republicano George W. Bush.

 

Fim de jogo? Não senhor. O jogo continuou, tendo em vista que Al Gore pediu a tal da recontagem dos votos das urnas do Estado da Flórida.

 

O candidato do Partido Democrata tentou, tentou, tentou, mas, ao final, não conseguiu provar o seu ponto.

 

Frente a essa reminiscência, pergunto: Al Gore estava agindo como um golpista? Ninguém na época disse isso e, imagino, ninguém pensou algo assim.

 

Ele estava promovendo ataques contra as instituições democráticas? Também não. Nenhuma palavrinha foi ventilada por ninguém nesse sentido.

 

Espere aí! Ele estava agindo feito um fascista para solapar o Estado Democrático de Direito e implantar uma ditadura? Não cara pálida. Nenhuma linha escrita na época apontou para essa direção.

 

E por que não? Simplesmente porque ele estava apenas questionando o resultado das eleições e, por isso, pediu a recontagem dos votos. Numa democracia, isso faz parte do jogo.

 

Ah! Antes que eu me esqueça: Al Gore não reconheceu a vitória do seu adversário e, detalhe, isso também faz parte do jogo.

 

Outra reminiscência: nos anos 70, durante a Ditadura Militar, o então deputado Ulisses Guimarães questionou, de forma corajosa, a legitimidade das eleições presidenciais, via colégio eleitoral. Para tanto, ele lançou-se como “Anticandidato”. O magrelo não era fraco.

 

Ele não foi eleito, é verdade. Mas escancarou a palhaçada toda. Aí, fico pensando, cá com meus alfarrábios: os supremos, os politicamente limpinhos e cheios de amor, classificariam Ulisses Guimarães como fascista? Será que diriam o mesmo a respeito de Al Gore?


Não apenas isso: quem foi que inventou essa história de que questionar o resultado de uma eleição seria um atentado à democracia? Desde quando cobrar transparência e clareza num pleito eleitoral é sinal de ascensão totalitária?

 

Enfim, me diga o que você condena com palavras bonitinhas, que eu te direi o que a sua hiperbólica “defesa da democracia” de fato é.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CAMINHANDO SEM PRESSA NA CONTRAMÃO

Recentemente tive a alegria de encontrar em um Sebo o livro “Rubem Braga – um cigano fazendeiro do ar”, de Marco Antonio de Carvalho. Na ocasião, não tive como comprá-lo. Já havia fechado minha compra e, em consequência, não tinha mais nenhum tostão no bolso, por isso, deixei o baita na estante, torcendo para que ninguém o comprasse.   As semanas se passaram e lá estava eu, mais uma vez, no mesmo Sebo e, graças ao bom Deus, lá estava o bicho velho, esperando o Darta para levá-lo. Na ocasião estava indo para uma consulta médica e, enquanto aguardava, iniciei minha jornada pelas páginas da referida obra.   Rubem Braga, o homem que passava despercebido no meio da multidão, percebia tudo, tudinho, que a multidão não era capaz de constatar e de compreender. Não é à toa que ele era e é o grande mestre da crônica.   Ao indicar esse caminho, não estamos, de modo algum, querendo insultar ninguém não. O fato é que toda multidão, por definição, vê apenas e tão somente o que os mil olhos da massa

BUKOWSKI DIANTE DAS AREIAS DO TEMPO

O filósofo argentino José Ingenieros, em seu livro “Las fuerzas morales”, nos lembra que cada época tem que lutar para reconquistar a história. As pessoas de todos os tempos, dentro de suas circunstâncias, devem esforçar-se nessa empreitada. O conhecimento, por sua natureza, encontra-se espalhado pela sociedade, em repouso sobre incontáveis fragmentos, como se fosse um oceano de areia diante do horizonte da existência e, cada geração, deve procurar reconstruir, com as areias do tempo, o palácio da memória, o templo da história porque, sempre, cedo ou tarde, vem a roda-viva e sopra novas circunstâncias em nossa vida mal vivida, que vão erodindo todo o trabalho que foi realizado por nós e pelas gerações que nos antecederam. A cada nova circunstância que se apresenta, é necessário que procuremos atualizar a nossa visão do passado, para que possamos melhor compreender o momento presente e, principalmente, a nós mesmos. Nesse sentido, podemos afirmar, sem medo de errar, que a história é sem

REFLEXÕES INOPORTUNAS (p. 02)

A pressa é inimiga da perfeição, todo mundo sabe disso; mas a inércia covarde, fantasiada de prudência e sofisticação, não é amiga de ninguém e isso, infelizmente, é ignorado por muita gente de alma sebosa.   #   #   #   A soberba precede a queda. E entre ela e a queda há sempre uma grande tragédia.   #   #   #   Todo parasita se considera tão necessário quanto insubstituível, especialmente os sacripantas burocráticos e perdulários.   #   #   #   Fetiche por novas tecnologias não é sinônimo de uma educação de qualidade. É apenas um vício invadindo descaradamente a praia das virtudes.   #   #   #   O maior de todos os erros, que podemos cometer por pura estupidez, é imaginar que estamos imunes a eles só porque temos um diploma na parede e algum dinheiro na conta bancária.   #   #   #   Qualquer um que diga que tudo é relativo, não deveria, por uma questão de princípio, jamais queixar-se [depre]civicamente contra a presença de nenhum político, nem reclamar das picaretagens dos incontávei