Pular para o conteúdo principal

GULODICE INFORMACIONAL

Durante milênios as pessoas viveram suas vidas, bem ou mal, sem a volúpia de estarem diariamente se alimentando dos dejetos noticiosos desejados evacuados por monstrengos como a grande imprensa e a mídia nanica (que não é tão nanica assim).

 

E nós acreditamos que somos safos, muito safos, muito críticos por estarmos acompanhando tudo o que nos é apresentado com o rótulo de notícia, informação e “conteúdos”, um nome fofo dado pelos bruxos do marketing digital.

 

Por alimentarmos essa presunçosa esperteza em nosso peito, não nos tocamos que estamos cada vez mais reféns dessa estrovenga.

 

E por estarmos com a cabeça cheia de informações com hálito de noite mal dormida, cremos que esse vozerio todo em nossa cuca seria a nossa própria voz.

 

Na verdade, bem na verdade, de tanto nos empanturrarmos com informações, acabamos por cultivar em nosso íntimo uma certa “surdez” brutal frente a voz da nossa consciência, justamente por confundirmos essa algazarra toda que nos habita com aquilo que deveria ser a nossa atitude reflexiva.

 

Se nós não procuramos controlar o fluxo de informações que deglutimos, se persistimos em consumir “conteúdos” de forma conspícua e sem a menor cerimônia, nós não encontraremos tempo para refletir.

 

Aliás, meditar e refletir seriam operações similares à digestão dos alimentos e a absorção dos nutrientes.

 

Já parou pra pensar como seria a nossa nutrição se comecemos, sem o menor critério, a qualquer hora e, digamos, de maneira quase que ininterrupta? Pois é, meu caro Darth Vader, o trem não seria nem um pouco bonito, da mesma forma que não o é frente ao modo frenético e histriônico que consumimos as notícias e “conteúdos” que são despejados diariamente em nosso bandejão mental.

 

A diferença é que percebemos, com relativa clareza, os efeitos da má alimentação em nossa saúde física, já no caso da gulodice informacional, os seus efeitos em nosso discernimento, e na nossa saúde mental e espiritual, não são assim tão tangíveis, principalmente porque esses bens são daqueles que quanto mais perdemos, menos falta sentimos, infelizmente.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUITO ALÉM DA CRETINICE DIGITAL

Desconfio sempre de pessoas muito entusiasmadas, da mesma forma que não levo a sério os alarmistas, que fazem uma canja rançosa com qualquer pé de galinha.   Bem, esse não é o caso de Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”. Aliás, um baita livro.   No meu entender, essa deveria ser uma leitura obrigatória para pais, professores e, principalmente, para os burocratas e políticos que não se cansam de inventar traquitanas que, hipoteticamente, melhorariam a qualidade da educação.   Não duvido que políticos e burocratas, que se empolgam com toda ordem modismos, estejam cheios de boníssimas intenções, não mesmo. O problema, como todos nós sabemos, é que o inferno está cheio delas.   Enfim, em resumidas contas, a obra de Desmurget nos apresenta estudos, dados, fatos e evidências que demonstram o quão lesivo é para a formação das nossas crianças a exposição precoce e desmedida às telas, da mesma forma que desmitifica inúmer...

UMA ARMADILHA OCULTA EM NOSSO CORAÇÃO

Somos movidos pelo desejo, não temos para onde correr. E esse é um problema que todos nós temos que enfrentar, no íntimo do nosso coração, com as parcas forças do nosso ser.   Diante desse entrevero, Siddhartha Gautama diria que bastaria abdicarmos deles para os problemas se escafederem. Nas suas palavras, desejos seriam como pedras: quanto mais desejamos, mais pesada torna-se a vida.   E ele, em grande medida, está coberto de razão. O ponto é que essa não é uma tarefa tão simples assim. Na verdade, é uma tarefa hercúlea porque, o desejo, não é um mero adereço que usamos e descartamos quando nos dá na ventana. Nada disso.   Ele ocupa um lugar central em nossa vida e, por isso, todos nós temos em nosso âmago um vazio que apenas o absoluto pode preencher. Vazio esse que nos torna um ser sedento por ser. O problema é que não sabemos como fazer isso, nem por onde começar.   Segundo René Girard, o desejo não se manifesta em nós de maneira direta, mas sim, de forma triangu...

NADICA DE NADA

Quanto mais um sujeito fala em liberdade, quanto mais ele acredita ser plenamente livre, “livre da Silva”, mais susceptível ele está a toda ordem de doutrinações e, consequentemente, mais facilmente ele poderá ser subjugado, escravizado, seja por senhores sombrios, seja pelos seus abjetos caprichos.   #   Se tem um negócio que realmente aporrinha é essa conversa toda sobre o poder libertador da cultura. À esquerda vemos a galera falando de cultura como se fosse uma trincheira de luta contra a opressão; à direita tem toda aquela conversa azeda sobre o resgate da alta cultura para salvar a civilização Ocidental. Enfim, apenas pessoas tremendamente incultas tratam a cultura como se fosse uma religião.   #   O igualitarismo é, em sua essência, um veneno terrível, porque quando passamos a tratar a igualdade como critério moral supremo, sem nos darmos conta, acabamos por minar as bases da nossa capacidade de discernir. E isso é uma terrível ameaça, um grande perigo.  ...