Pular para o conteúdo principal

O RASTRO EMPOEIRADO DO ESQUECIMENTO

Tudo neste mundão veio do pó e ao pó voltará. Não tem lesco-lesco. Não adianta vir com essa lengalenga de “mamãe, a barriga me dói”. Ao fim e ao cabo, é isso que somos diante dos olhares oblíquos deste mundo.

 

Tendo essa árida obviedade em vista, lembro-me de uma entrevista que foi concedida pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, para a revista Veja em novembro de 1980. Uma longa entrevista. Uma bela entrevista.

 

Das inúmeras coisas que foram ditas pelo poeta, há algo que, como direi, é uma baita de uma pedra no meio do nosso torto caminho.

 

Zuenir Ventura, em nome da revista Veja, perguntou: “A posteridade o preocupa?” Drummond, de forma direta, disse que não dava a mínima para essa tal de posteridade, pois, com o tempo, todos nós seremos esquecidos. Todos.

 

Hoje podemos desfrutar de alguma evidência junto aos olhos midiáticos, ou à sombra dos senhores deste mundo, mas, com o tempo, todos seremos somente sombras do passado.

 

O poeta de Itabira lembrou o caso do escritor Humberto de Campos – que eu amo - que, em vida, contava com boleiras de leitores. Tamanho era o apreço por ele que, quando adoeceu, praticamente todo o Brasil acompanhou o seu calvário até a sua morte.

 

Os anos se passaram e, atualmente, não há um único editor que lembre-se de republicá-lo. Como diria Nelson Rodrigues, hoje, o falecido começa a ser esquecido no próprio velório.

 

Aí, ele concluiu, com modéstia, que o seu destino não seria diferente, tendo em vista que o julgamento proferido pelos nossos contemporâneos é muito, muito falível.

 

E falível é porque somos apenas pó diante da vastidão do mundo, porém, para além da amnésia que impera debaixo do sol, há o olhar de Deus, que nos acompanha atentamente desde a eternidade e, em Seu coração, jamais seremos esquecidos e, por isso, podemos dizer, com alegria, que do pó viemos e do pó seremos resgatados pelo amor Daquele que nos ensinou a amar.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #007

Nada se transforma mais rápido em indiferença do que o horror, quando este se torna cotidiano.   #   A ironia, um dia desses, há de nos redimir, ou terminará de nos achatar.   #   Não tenhamos medo de sermos espezinhados; e, se formos pisados, alegremo-nos, porque as ervas, quando são pisoteadas, se tornam caminho.   #   Quanto mais um sujeito se imagina livre, livre da Silva, mais suscetível a ser doutrinado e subjugado ele está.   #   A conversa mofada sobre cultura não é tanto um sintoma daquilo que poderíamos chamar de “a religião dos ateus”, mas sim um claro indicativo da idolatria dos incultos.   #   Toda paixão igualitária é um veneno, uma peçonha que perverte o sentido crítico de qualquer um até o tutano, por atrofiar na alma do indivíduo a faculdade que nos permite fazer distinções.   #   Um dos primeiros passos rumo ao santuário da sabedoria reside na capacidade de admitirmos que nossas ideias – nossas amadas e idolat...

QUANDO O CALDO ENTORNA

Prudência e canja de galinha, como nos ensina o velho ditado, nunca fizeram mal a ninguém. Agora, a falta da primeira tem feito um estrago danado na vida de muita gente. Os antigos nos ensinam que a prudência é a mãe de todas as virtudes, porque ela nos convida a arrancar nossas ações do guiamento das sombras da ignorância para que possam ser alumiadas e orientadas pelas labaredas da sabedoria. E sabedoria não é, de maneira nenhuma, aquela coleção de colóquios aguados que encantam e iludem muitos, sem incomodar ninguém. Sabedoria, antes de qualquer coisa, é o cultivo amoroso pela procura da verdade, onde quer que ela esteja, para que possamos conhecê-la e, conhecendo-a, permitir que ela redima nossos equívocos passados através das nossas decisões no momento presente, projetando, desse modo, uma nova orientação para as nossas escolhas futuras. Por essa razão, ela jamais será um conjunto de frases insossas, reverberadas por pessoas ocas, cheias de presunção e ornadas com títulos toscos e...