Pular para o conteúdo principal

O INDISCRETO PRESSUPOSTO

Todo aquele que se dedique, com sinceridade, à sociologia, acaba, inevitavelmente, se batendo no espinhoso dilema de que fazemos parte do objeto de estudo da referida ciência. Uma parte bastante problemática, diga-se de passagem.

 

Não é à toa que muitas vezes os estudiosos não acertam os seus ponteiros quando vão tratar das questões que versam sobre o seu amado objeto.

 

E esse problema não é de hoje. Já foi abordado por gente muito graúda, como o sociólogo Norbert Elias.

 

E a encrenca não é miúda não, porque a sociedade pode ser categorizada de muitas maneiras, tudo depende do ponto que se deseja enfatizar e do referencial teórico que se pretende utilizar.

 

Pois é. Aí, meu amigo, é um Deus que nos acuda.

 

Porém, todavia e entretanto, apesar da grande variedade de conceitos, definições, teorias, proposições e figuras de linguagem paridas nesse esforço explicativo, digno do mito de Sísifo, mesmo assim, iremos encontrar um ponto comum que, também, é bem problemático.

 

Ora, da mesma forma que dois e dois são quatro, iremos encontrar no âmago de cada uma dessas construções teóricas, um elemento norteador, que nada mais seria do que a soma das estupidezes individuais multiplicada pelos delírios ululantes das idiotizantes coletividades.

 

Na dúvida, se tal apontamento não nos parecer crível, verifiquemos e, feliz ou infelizmente, será bem isso que iremos encontrar como um discreto pressuposto “epistemológico” presente em incontáveis "teorizações".

 

Enfim, para não nos estendermos demais, resumamos esse entrevero: todos nós, quando cremos estar entendo algo das tretas políticas, econômicas e sociais, mais do que depressa, passamos a imaginar que todos aqueles que não estão enxergando o que estamos vendo, seriam apenas perfeitos idiotas, tamanha é a soberba teorizante que impera em nosso coração, todas as vezes que imaginamos ter uma explicação aparentemente “razoável” para qualquer coisa absurda.

 

Fim.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...