Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan.
Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral.
O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros.
Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se veem enredados nas sombras do desconhecimento ou que estejam subjugados pelas trevas da ignorância presunçosa.
E todo aquele que, hoje, se dedica de corpo e alma ao magistério sabe muito bem que tudo à nossa volta conspira contra essa hercúlea tarefa, tendo em vista que muitíssimos jovens e adultos encontram-se ébrios deste licor que é a onisciência virtual que, a cada dia que passa, é mais e mais consumida de forma indiscriminada por todos, independentemente da faixa etária.
Sobre esse ponto, lembro-me de que Ortega dizia que a grande missão da educação é levar os indivíduos a deixarem de ficar gravitando em torno daquilo que lhes parece meramente agradável, para passar a orbitar junto à realidade. E, se o mestre espanhol está certo — e creio piamente que está —, algo me diz que estamos, a cada dia que passa, reduzindo severamente as perspectivas da educação em nosso país, infelizmente.
De mais a mais, para que, de fato, algo possa ser feito, antes de qualquer coisa, temos de reconhecer o quão maculados fomos em nossa formação, pouco importa a idade que tenhamos, porque esse mal, em alguma medida, habita em nós.
Por isso, o remédio é amargo e não será fornecido nem pela iniciativa privada, nem pelo Estado, porque não há solução em massa para essa encrenca.
Em resumo, o abacaxi é esse e está em nossas mãos.
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Escrevinhado
por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor
de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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