Pular para o conteúdo principal

LONGE VÁ TEMOR SERVIL

Comemoramos, como em todos os anos, a independência do Brasil no dia sete de setembro. Quer dizer, uns comemoram, outros protestam e muitos aproveitam o feriadão para descansar e divertir-se com seus familiares e amigos. Enfim, cada um agindo conforme a sentença que é ditada pela sua cabeça.

 

Sobre a data, claro, há incontáveis pontos que merecem ser rememorados e devidamente refletidos, como também há muitíssimas controvérsias em torno da conquista da nossa emancipação da tutela Lusitana que, inclusive, não podemos nos dar ao desfrute de varrer para debaixo do tapete da memória, pois, é no contraste entre uma e outra que abrem-se as águas do mar da história para que possamos caminhar na direção da prometida terra da verdade esquecida.

 

Dito isso, sigamos com o andor. Como é do conhecimento de todos, o processo de conquista da nossa independência não se realizou, pontualmente, no dia 07 de setembro de 1822. Não. A data é apenas uma referência, escolhida posteriormente para rememorarmos essa conquista, da mesma forma que é o 04 de julho para os norte-americanos e o 14 de julho para os franceses.

 

Voltando ao ponto, a conquista da nossa independência foi um longo processo que iniciou-se com a vinda da família real Portuguesa para essas terras de além mar, em 1808, e consolidou-se mais ou menos em 1831, quando sua majestade imperial Dom Pedro I abdicou do trono Brasileiro.

 

Foi um longo e penoso processo que, francamente, merece muito mais uma aula – na verdade, algumas aulas - que uma breve escrevinhada, para que suas minúcias possam ser devidamente contempladas em suas grandezas e mesquinharias. Fora isso, há um e outro ponto que gostaria de ressaltar nessa missiva.

 

Como, também, é do conhecimento de todos, durante o Primeiro Reinado (1822 – 1831), a emancipação do nosso triste país não era comemorado no dia 07 de setembro, mas sim, no dia 12 de outubro, dia em que Dom Pedro comemora anos e, também, data em que ele foi aclamado Imperador do Brasil, no Campo de Santana. Aclamado Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil.

 

Após a abdicação de sua alteza imperial, mudou-se a data e, junto com ela, o hino. Em 1831, foi composto o atual hino nacional que substituiu o primeiro, que atualmente é cantado como o hino da independência. Hino o qual foi composto por Dom Pedro I em 1822 no calor das tretas emancipatórias.

 

Abre parêntese: além do referido hino, Dom Pedro I compôs inúmeras outras músicas, inclusive duas Missa. O cara não apenas curtia um som, como seu pai, Dom João VI, ele também manjava do balacobaco e, sinceramente, era muito bom nisso. Fecha parêntese.

 

Bem, vejam só que coisa: a independência do nosso país, até 1831, era comemorada no dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a padroeira do Brasil. Não apenas isso. Em 22 de agosto de 1822, Dom Pedro prostrou-se diante da imagem de Nossa Senhora, em Aparecida do Norte, colocou-se em oração e consagrou o Brasil à ela, pedindo para que as tretas políticas tivessem um bom fim.

 

Pois é. E você achava que Dom Pedro era apenas um puto mulherengo. É. Ele era isso, mas não somente isso.

 

E tem outra: se voltarmos mais um cadinho no tempo, mais especificamente no ano de 1500, veremos que Pedro Álvares Cabral trazia em sua nau uma imagem de Nossa Senhora da Paz e, no dia 22 de abril deste mesmo ano, num domingo de Páscoa, Cabral, um cavaleiro da Ordem de Cristo - uma Ordem que é herdeira direta da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo de Salomão, os Cavaleiros Templários - e seus comandados, avistaram um monte que recebeu o nome de Monte Pascal e, as terras encontradas, foram batizadam como sendo a “Terra de Vera Cruz”, a terra da verdadeira cruz.

 

Não apenas isso. Como é de conhecimento geral, o primeiro ato público realizado pelos lusitanos, aqui, foi a celebração de uma Santa Missa no dia 26 de abril de 1500; missa essa que foi celebrada por Dom Henrique Soares de Coimbra O.F.M. Isso mesmo. Um frade franciscano.

 

Vejam só que baita mito fundador que nós temos. A terra das tribos que procuravam a “Terra sem mal” encontra-se com os herdeiros da Ordem dos Templários que traziam consigo uma imagem de Nossa Senhora da Paz, batizando essa vastidão sem fim com o nome de Terra da Verdadeira Cruz.

 

Os séculos passaram e, eis que a gente sofrida dessa terra foi abençoada pelo encontro de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, nas águas do rio Paraíba do Sul, em 1717, pelos humildes pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso e, em 1822, diante dessa imagem encontrada pelos humildes pescadores, Dom Pedro consagrou a Terra de Vera Cruz à mãe de Nosso Senhor e, após isso, ele, Dom Pedro, foi aclamado imperador do Brasil, no dia de Nossa Senhora da Aparecida, em 12 de outubro do mesmo ano.

 

Outro detalhe que, penso eu, não podemos desdenhar. A frase que teria sido dita por Dom Pedro, às margens do rio Ipiranga no dia 07 de setembro, após ter dobrado seus joelhos em Aparecida do Norte, é uma adaptação elegante das palavras que foram ditas pelos guerreiros hebreus que haviam sido sitiados pelos romanos na fortaleza do monte Massada na segunda metade do século I d. C., conforme nos é narrado por Flávio Josefo em sua obra “História dos Hebreus”.

 

Enfim, essa é uma bela visão que, de muitas formas, nos permite vislumbrar a profunda vocação cristã que se faz presente na formação da nossa nação e que permanece latente, no momento presente, apontando para o futuro que poderá ser edificado por nós a partir de nossas ações. Uma visão que revela os contrastes e contradições de nossa sociedade e, ao mesmo tempo, nos apresenta um caminho que pode ser trilhado por nós para superá-las.

 

Porém, hoje, para muitos, quando se fala da independência da nossa Pátria amada, tal imagem não mais se faz presente em seus corações. Em seu lugar vemos pessoas criticamente críticas colocando uma ênfase exacerbada, misturada com muitíssimas chacotas e um bom tanto de rancor, unicamente focada nas contradições e contrastes da nossa formação, agrilhoando o olhar de muitíssimos cidadãos, forçando-os a volver suas vistas unicamente para lama pisoteada do chão da história, desestimulando-os a elevar a face para além das estrelas que resplandecem no horizonte do Brasil.

 

Infelizmente, não são poucos aqueles que trocaram o belíssimo mito fundador do nosso país, que poderia e pode muito nos inspirar, para agarrar-se atávica e criticamente a um “mico” fundador que não se cansa de nos arrastar para as profundezas dos precipícios de além mar.

 

Enfim, façamos como Dom Pedro I e dobremos nossos joelhos para rezarmos pelo Brasil, pedindo a Nossa Senhora que ela interceda por nós, por cada um de nós, para que Deus nos dê a força que necessitamos para mostrarmos que o filho teu não foge à luta, força para resistirmos às investidas das vetustas figuras que querem porque querem impingir em nossos corações o mais vil temor servil.


Publicado originalmente em 07 de setembro de 2021, no jornal FATOS DO IGUAÇU.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NA BEIRA DO ABISMO

O escritor Isaac Asimov, como todos nós sabemos, tem uma vastíssima obra. De todas elas, há uma que considero fascinante por ser tremendamente significativa. Refiro-me, especificamente, ao conto “A sensação de poder”, escrito na década de 50 que, em resumidas contas, apresenta-nos a imagem de um futuro nada alvissareiro, onde a humanidade torna-se absurdamente dependente dos computadores, chegando ao ponto de não mais sermos capazes de realizar operações elementares de aritmética, de desenvolver raciocínios básicos sem o auxílio das traquitanas informáticas.   Hoje, todos nós, cada um ao seu modo, encontramo-nos rodeados de parafernálias desse naipe que não apenas resolvem para nós, de forma rápida, praticamente instantânea, cálculos matemáticos, mas também, realizam pesquisas para nós, nos guiam pelas estradas, corrigem nossos erros, alimentam nossos desejos por banalidades e, tudo isso, ao mero toque de um dedo numa tela lisa e fria feito um lâmina de gelo.   Não há como negar que ta

ENTRE ROCINANTE E A EGUINHA POCOTÓ

Com seu típico sarcasmo, Paulo Francis dizia que o jornalismo é a segunda profissão mais antiga do mundo. A primeira, segundo a galhofa popular, todos sabem qual é. Francis também dizia hiperbolicamente que, em matéria de exatidão, nem ao menos na data dos jornais se poderia confiar, sendo oportuno procurar um calendário para confirmá-la.   Em sintonia com essas cáusticas palavras, podemos evocar um trecho da canção “Cowboy fora-da-lei”, de Raul Seixas, que diz que “eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz”.   Exageros exuberantes à parte, sempre foi e sempre será sinal de prudência, nutrir em relação aos meios de comunicação de um modo geral e, frente a grande mídia de maneira especial, uma boa dose de desconfiança. Não uma suspeita sisuda, cheia de pachorra, nada disso. Refiro-me àquela dúvida salutar que procura dar tempo ao tempo, ciente de que a verdade, como nos ensina Santo Tomás de Aquino, é filha do tempo, e ela não tem pressa, não usa whatsapp, nem tem contrato

QUANDO A TROPEADA ELEITORAL ACABAR

Na grande maioria das cidades, deste Brasil brasileiro, o pleito eleitoral findou; noutras tantas, não muitas, teremos uma segunda rodada da roleta da democracia brazuca. Enfim, seja como for, a essa altura do campeonato, podemos dizer que, de certo modo, ele, o ano eleitoral, já está de partida.   E com o fim do som estridente da sinfonia das máquinas de pirlimpimpim, vemos, faceiros da vida, os vencedores, comemorando a conquista e agradecendo aos cidadãos a confiança que lhes foi depositada. Se eles foram uma escolha acertada, saberemos disso daqui a quatro anos, porém, uma coisa é certa: os eleitos foram, sem dúvida alguma, os mais tarimbados no carteado do jogo das cadeiras do poder.   Agora, aqueles que não foram laureados, por certo e por óbvio, não estão festejando. Entretanto, muitos, de forma honrada, já se manifestaram nas redes sociais, nas rádios, enfim, nos meios de comunicação, para agradecer aos cidadãos que confiaram neles e que, mesmo não tendo logrado êxito, são grat