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UMA NAU DESGOVERNADA

A educação, nesta "terra de desterrados", como diria Sérgio Buarque de Holanda, descarrilou de vez e, francamente, quem não percebe isso provavelmente vive no mundo da lua ou na terra do nunca.

 

É importante lembrar que a falência do sistema educacional não é obra exclusiva de um governo ou fruto específico de um único intelectual. Nada disso, cara-pálida. Esse medonho bebê reborn tem muitos pais e mães que, por um lapso de dissonância cognitiva, não querem nem saber de reconhecer o seu pimpolho grotesco.

 

Dito de outro modo: da mesma forma que o subdesenvolvimento não é improvisado, como nos ensina Celso Furtado, a antieducação que impera em nosso país é o resultado de uma série de decisões tomadas ao longo dos séculos e, diga-se de passagem, estão sendo muito bem cimentadas pelas opções adotadas nas últimas décadas.

 

O problema não está presente apenas nesta terra onde há palmeiras [sem mundial] e onde canta o sabiá. O problema está presente em toda a América Latina e, para infelicidade de todas elas, abundam os especialistas que nunca educaram efetivamente ninguém (nem a si mesmos) ou que, literalmente, fugiram da sala de aula, escondendo-se em alguma sinecura. Eles brotam do nada para dizer o que deve ser feito para corrigir os males que afetam o sistema de ensino e arruínam o futuro das tenras gerações, seja por meio de modismos pedagógicos hi-tech ou através de normativas burocráticas sem sentido.

 

Qualquer um que esteja em sala de aula percebe com clareza cristalina que, infelizmente, praticamente tudo que é apontado como solução por esses indivíduos demonstra o quanto seu olhar sobre a educação está divorciado da realidade. Aliás, essa observação não é feita por este que vos escrevinha, mas sim por Inger Enkvist, professora com mais de trinta anos de experiência e autora de vários livros, como "La educación en peligro", "Repensar la educación" e "La buena y la mala educación".

 

A professora Enkvist nos chama a atenção para o óbvio ululante: as novas pedagogias são um erro e, para começar a corrigir a rota da educação, é urgente que se restaure a autoridade docente e que as escolas tenham parâmetros claros. Se esse passo não for dado, se a restauração dessas duas colunas não for realizada, a educação continuará, em passo acelerado, nessa longa marcha da vaca para o brejo.

 

*

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.

https://lnk.bio/zanela



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