Pular para o conteúdo principal

QUASE UM CONSELHO

 

A primeira semana de aula pode ser resumida através da imagem de alunos sorridentes se reencontrando com os seus iguais, com seus companheiros de caminhada, num misto um tanto confuso de emoções, que acaba por tomar conta de seus corações nesse momento.

 

Com esse olhos cansados, e do alto de minha barba e cabelos grisalhos, posso dizer com sobriedade que já vi muitos desses momentos onde bons amigos se reveem no colégio depois de um tempo, onde todos, cada um do seu jeito, e junto com os membros da sua “panelinha”, contam alegremente as venturas e desventuras que foram vividas por eles no período das férias, prosa essa que é seguida pela proposição de planos que eles pretendem executar nos próximos dias do ano letivo que está iniciando. Enfim, é um trem bonito de se ver. Bonito mesmo, mas que passa, bem rapidinho.

 

Todavia, não é a respeito desses momentos de regozijo que proponho-me a escrevinhar. Não senhor. Isso, talvez, fique para outra ocasião. Como ensinador que tento ser, gostaria de compartilhar, por meio dessas linhas tortas, um conselho que, creio eu, seja de suma importância para todo caboclinho que realmente deseja progredir em seus estudos e crescer em espírito e verdade.

 

Dito isso, vem comigo: é imprescindível que nunca nos esqueçamos que o fundamento da nossa inteligência é a nossa capacidade de atenção. Quanto mais nós procuramos exercitar essa capacidade, mais iremos ampliar o nosso poder de compreensão e, obviamente, quanto mais nós desleixarmos desse propósito, mais disperso seremos e, consequentemente, isso acabará por limitar de forma severa nossa capacidade de entendimento.

 

Para tanto, é de suma importância que nos confessemos, de forma humilhante, diante do tribunal da nossa consciência. Confessemos que, para nossa retumbante infelicidade, pouquíssimas vezes, para não dizer nenhuma vez no correr de um ano, nós procuramos exercitar o nosso poder de concentração e, para “compensar”, entregamo-nos garbosamente ao desfrute que nos é propiciado pelas redes sociais com seu fluxo contínuo e infindável de estímulos que vão condicionando a nossa percepção a centrar-se apenas por alguns segundos em algo aqui, ou acolá, que apenas excita superficialmente os nossos sentidos, limitando severamente nossa capacidade de concentração.

 

Isso mesmo. Mídias eletrônicas, de um modo geral, provocam, como um efeito residual devastador, a perda do nosso poder de concentração e, se nossa capacidade de prestar atenção é a base de sustentação e ampliação da nossa inteligência, a exposição excessiva a essas bugigangas eletrônicas arrebenta, sem dó, em trocentos pedaços a nossa inteligência, deixando-nos inquietos, ansiosos e hipersensíveis, limitando à nossa disposição para ficarmos um longo período de tempo centrados na realização de uma leitura ou na resolução de uma série de questões e problemas.

 

Ora, onde impera o desassossego, onde reina a inquietude, o entendimento e a compreensão não conseguem fazer morada.

 

Não é à toa que, segundo estudos recentes - concluídos em 2020 - constatou-se que a capacidade de concentração dos seres humanos está sendo reduzida de forma severa. Isso mesmo cara pálida. Atualmente, em média, uma pessoa consegue se concentrar por apenas oito segundos. Oito segundos maluco! Já parou pra pensar o que isso significa?

 

Abre parênteses: na categoria capacidade concentração, uma pessoa perde para um peixinho dourado, que é capaz de se concentrar em algo por nove segundos. Fecha parênteses.

 

Além disso, junto com a diminuição do poder de concentração, temos o desperdício de tempo, esse bem precioso que nos é confiado por Deus para que façamos um bom uso dele. Apenas a título de ilustração, o brasileiro, em média, dedica três horas e quarenta e dois minutos por dia às redes sociais. Velho! São quase quatro horas por dia literalmente jogadas na privada da vida. Detalhe: estamos em terceiro lugar no ranking desse quesito. Perdemos apenas para os Filipinos e para os Colombianos.

 

Aliás, perguntemos a nós mesmos: quantas e quantas vezes, ao terminar de ler a página de um livro, nós tivemos a clara sensação de que não captamos literalmente nada do que acabamos de ler? Quantas e quantas vezes, após terminarmos a leitura de um parágrafo, nós não fomos capazes de sintetizar o que os nossos olhos acabaram de solver? Quantas? Pois é.

 

Infelizmente, ignoramos olimpicamente que a inteligência, de todos os bens que podemos dispor em nossas mãos, é o único, repito, o único que quanto mais a gente perde, menos falta sentimos e, reconheçamos ou não, quanto menor se torna nossa capacidade de concentração, mais significativa é essa perda e, mais difícil fica a reversão desse mal adquirido.


Enfim, o tempo passa, passa bem rapidinho, mas ainda há tempo para lutarmos contra esse mal que insiste em nos subjugar.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

Nosso site: https://sites.google.com/view/zanela


Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CAMINHANDO SEM PRESSA NA CONTRAMÃO

Recentemente tive a alegria de encontrar em um Sebo o livro “Rubem Braga – um cigano fazendeiro do ar”, de Marco Antonio de Carvalho. Na ocasião, não tive como comprá-lo. Já havia fechado minha compra e, em consequência, não tinha mais nenhum tostão no bolso, por isso, deixei o baita na estante, torcendo para que ninguém o comprasse.   As semanas se passaram e lá estava eu, mais uma vez, no mesmo Sebo e, graças ao bom Deus, lá estava o bicho velho, esperando o Darta para levá-lo. Na ocasião estava indo para uma consulta médica e, enquanto aguardava, iniciei minha jornada pelas páginas da referida obra.   Rubem Braga, o homem que passava despercebido no meio da multidão, percebia tudo, tudinho, que a multidão não era capaz de constatar e de compreender. Não é à toa que ele era e é o grande mestre da crônica.   Ao indicar esse caminho, não estamos, de modo algum, querendo insultar ninguém não. O fato é que toda multidão, por definição, vê apenas e tão somente o que os mil olhos da massa

BUKOWSKI DIANTE DAS AREIAS DO TEMPO

O filósofo argentino José Ingenieros, em seu livro “Las fuerzas morales”, nos lembra que cada época tem que lutar para reconquistar a história. As pessoas de todos os tempos, dentro de suas circunstâncias, devem esforçar-se nessa empreitada. O conhecimento, por sua natureza, encontra-se espalhado pela sociedade, em repouso sobre incontáveis fragmentos, como se fosse um oceano de areia diante do horizonte da existência e, cada geração, deve procurar reconstruir, com as areias do tempo, o palácio da memória, o templo da história porque, sempre, cedo ou tarde, vem a roda-viva e sopra novas circunstâncias em nossa vida mal vivida, que vão erodindo todo o trabalho que foi realizado por nós e pelas gerações que nos antecederam. A cada nova circunstância que se apresenta, é necessário que procuremos atualizar a nossa visão do passado, para que possamos melhor compreender o momento presente e, principalmente, a nós mesmos. Nesse sentido, podemos afirmar, sem medo de errar, que a história é sem

REFLEXÕES INOPORTUNAS (p. 02)

A pressa é inimiga da perfeição, todo mundo sabe disso; mas a inércia covarde, fantasiada de prudência e sofisticação, não é amiga de ninguém e isso, infelizmente, é ignorado por muita gente de alma sebosa.   #   #   #   A soberba precede a queda. E entre ela e a queda há sempre uma grande tragédia.   #   #   #   Todo parasita se considera tão necessário quanto insubstituível, especialmente os sacripantas burocráticos e perdulários.   #   #   #   Fetiche por novas tecnologias não é sinônimo de uma educação de qualidade. É apenas um vício invadindo descaradamente a praia das virtudes.   #   #   #   O maior de todos os erros, que podemos cometer por pura estupidez, é imaginar que estamos imunes a eles só porque temos um diploma na parede e algum dinheiro na conta bancária.   #   #   #   Qualquer um que diga que tudo é relativo, não deveria, por uma questão de princípio, jamais queixar-se [depre]civicamente contra a presença de nenhum político, nem reclamar das picaretagens dos incontávei