Pular para o conteúdo principal

ABRACE-O QUE DÓI MENOS

Todos temos uma ferida na alma que nos dói e, por isso, algumas vezes, nos sentimos como alguém que partiu ou morreu, e entregamo-nos a uma sucessão de lamentos sem fim diante desse ou daquele problema que nos atinge, frente a uma e outra crítica que nos é dirigida.

 

Claro, nenhum de nós é de ferro, apesar de nos considerarmos fortes feito uma rocha, só porque repetimos algum “mantra” supostamente filosófico, ou pretensamente edificante.

 

Tanto não o somos que, incontáveis vezes, lá estamos nós, reclamando de tudo e de todos, menos de nós mesmos. Lá estamos nós, nos sentido melindrados, derrotados diante da vida, fazendo caras e bocas para que alguma alma generosa se apiede de nós.

 

É óbvio que nenhum de nós irá admitir que em algum momento nos entregamos a esse papelão – ridículo, porém, humanamente compreensível – porque só de lembrarmos que já fizemos isso inúmeras vezes, mais do que depressa sentimo-nos envergonhados e, mesmo assim, não conseguimos largar essa mania pra lá de feia.

 

Bem, não sou ninguém na ordem do dia para dar conselhos a alguém sobre como lidar com os perrengues da vida, porém, se derem uma licencinha a essa figura quixotesca, permitam-me dar um pitaco. Só um.

 

Toda vez que estivermos sentindo pena de nós mesmos, clamando aos céus para que alguém tenha dó da gente, faça o seguinte: chegando a noite, no momento em que formos dormir em nossa cama limpinha e confortável, deitemos em posição fetal, peguemos um crucifixo e durmamos abraçado com ele e, abraçado com o crucificado, procuremos lembrar de tudo o que está nos apoquentando e reflitamos sobre isso, abraçadinhos com Nosso Senhor crucificado.

 

Tenho certeza de que nosso mimimi desaparecerá num estalar de dedos. Tenho plena convicção de que o derrotismo transformar-se-á num desejo irresistível de servir ao próximo, de lutar pelo que é digno e justo, sem pestanejar, sem esmorecer, sem lamentar.

 

A vida é, como bem nos lembra a oração da “Salve Rainha”, um vale de lágrimas, não um mar de rosas. Por isso, abrace-o, seja forte e sirva ao próximo com amor, não com murmurações e lamentações.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #009

Todo orgulhoso se borra de medo da imagem das suas incontáveis imperfeições.   #   Onde não há preferência sincera, há indiferença cínica.   #   Tudo termina tragicamente quando a paciência finda melancolicamente.   #   O impulso de querer racionalizar tudo é o maior inimigo da racionalidade e do bom senso.   #   A verdadeira história da consciência individual começa com a confissão da primeira mentira contada por nós para nós mesmos.   #   Frequentemente somos firmes por pura fraqueza e audaciosos por mera teimosia.   #   Podemos usar as novas tecnologias para sermos reduzidos a uma escravidão abjeta, ou nos servirmos delas para lutarmos para preservar a nossa liberdade interior e a nossa sanidade.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. https://l...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #011

A vida sem momentos de recolhimento e silêncio é um convite a uma sucessão de erros.   #   Concentremo-nos no resultado que almejamos atingir, não na desculpa que iremos apresentar caso fracassemos.   #   É mais importante administrar acordos do que ficar tentando nos concentrar na criação de mecanismos para controlar as pessoas.   #   Todo escritor, ou escrevinhador, que quiser namorar a crônica deve ter o coração aberto para amar os momentos fugidios e saber amá-los.   #   Só os histéricos estão faceiros da vida na atual conjuntura em que nos encontramos.   #   Falemos apenas o necessário e o façamos apenas quando, realmente, a nossa fala for indispensável.   #   Lembremos desse velho ensinamento estoico: o que impede a ação pode sempre favorecer a ação, que aquilo que fica no meio do nosso caminho pode tornar-se o nosso caminho.   *   Escrevinhado por Dartagna...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...