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AOS TRANCOS E BARRANCOS

Um lugar comum, repetido aqui e acolá, quando o assunto é essa tal de educação, é aquele que afirma que nós deveríamos apenas e tão somente estudar aquilo que gostamos, que nos traz algum tipo de satisfação. Bem provavelmente, todos nós já ouvimos alguém dizer isso.

 

Ora, se formos apenas direcionar a nossa atenção para aquilo que nos apetece, se deixarmos a gurizada apenas se dedicar àquilo que lhes agrada, com o perdão da palavra, estaremos todos nos entregando de braços abertos à idiotia sem fronteiras, não à educação.

 

Se apenas procuramos “aprender” aquilo que não nos causa nenhum tipo de “desconforto intelectual”, estaremos limitando o nosso horizonte, ao mesmo tempo em que dizemos, para nós mesmos, que estamos “nos realizando” como pessoa.

 

Essa atitude lúdica e hedonista, frente ao aprendizado, é uma deformidade que domina a mentalidade contemporânea. Essa é uma justificativa esfarrapada feita sob medida para legitimar o desdém pelo conhecimento.

 

Esquecemo-nos que o aprendizado de qualquer coisa é, necessariamente, a assimilação de algo novo e que, tal assimilação, leva tempo, é muitas vezes cansativo e exige, de nossa parte, uma grande disposição para superarmos as nossas limitações.

 

Se não enfrentamos tarefas que, num primeiro momento, nos parecem difíceis de serem executadas, tudo o mais em nossa vida irá parecer insuportável, tendo em vista que nunca procuramos ampliar o nosso espectro de ação e compreensão.

 

E é claro que muitos caboclos irão afirmar que tudo o que for ensinado deve parecer interessante, divertido e assim por diante, repetindo mais uma vez a cantilena hedonista e lúdica, para não lembrar a ninguém que todos nós temos a responsabilidade de nos interessar por tudo o que a vida tem de bom a nos ensinar e assim, quem sabe, possamos, com o tempo, nos tornar pessoas minimamente mais interessantes.

 

Enfim, enquanto continuarmos caminhando por esse riscado, que apenas valoriza aquilo que nos parece “legal” e “divertido”, continuaremos a ser os mesmos caboclos tediosos e desinteressantes de sempre, que pensam que sua idiotização voluntária seria sinônimo de uma excelsa educação, crítica e de qualidade, como tantos gostam de dizer por aí.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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