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PATRIOTAS, CIDADÃOS E OUTROS BICHOS

Schopenhauer, em seu livro “A arte de escrever”, logo nas primeiras páginas nos diz que podemos mensurar a falta de educação de uma sociedade pela quantidade de escolas que ela possui.   Segundo ele, quanto mais escolas uma sociedade tem, mais mal educada as pessoas tendem a ser.   A partir desta afirmação, podemos levantar vários questionamentos sobre o estado em que se encontra o nosso cambaleante sistema educacional, mas não é esse o ponto desse causo.   Vamos voltar o dedo acusador do filósofo alemão para a nossa cara, para fazermos algumas ponderações a respeito de algo que, devido a nossa inenarrável má educação, acabou tomando conta de grande parte da nossa sociedade.   Pessoas dizendo a plenos pulmões que amam, com todas as forças de sua alma, esse acampamento de desterrados que é o nosso país, tornou-se uma cena comum.   Uns afirmam isso dizendo que são “patriotas” e, outros tantos, declarando que são “cidadãos críticos”.   E nessa crítica situação de cidadãos ideologicamente

A UM PASSO DA BEIRA DO ABISMO

Clausewitz afirma que a política seria tão só e simplesmente a continuação da guerra por outros meios e, naturalmente, o contrário também é a mais cristalina verdade.   Seja numa monarquia parlamentar, ou numa república presidencialista, ou no raio que nos parta, é sempre bom que não nos esqueçamos que debaixo de todo formalismo, de toda encenação institucional, está presente uma massa incandescente de caos, doidinha para aflorar e mostrar todo o seu terrificante esplendor.   Dito de outra forma, em todo pleito eleitoral, como em toda sucessão de um monarca, a sociedade sempre está a um passo de uma insurreição, de uma quartelada, de um golpe ou de uma revolução que, no frigir dos ovos, é apenas um golpe, mas que recebe um nome pomposo para ficar bem na fita da história.   Por essa razão Thomas Jefferson dizia que de tempos em tempos a árvore da liberdade precisaria ter suas raízes regadas com sangue de inocentes, e de tiranos também, para renovar as suas forças, para que todos se lemb

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 17)

Tratar com deferência um vigarista mal intencionado é a única atitude aceita como plausível pelos corações desfibrados dos cidadãos de alma sebosa. Qualquer coisa diferente disso, para essa gente, é inaceitável.   #   #   #   É praticamente impossível ser um conservador sincero sem uma franca inclinação anarquista.   #   #   #   Antes de apontarmos um defeito em algo feito por alguém, pensemos em pelo menos três formas diferentes de realizar a mesma tarefa, com os mesmo recursos e nas mesmas condições. Se não formos capazes disso, o melhor que temos a fazer é calar a boca e procurarmos ser minimamente prestativos em algo que esteja ao alcance de nossas mãos e da nossa imaginação.   #   #   #   A grande ameaça à democracia não se encontra nas manifestações realizadas, as claras, nas ruas, avenidas e praças. O perigo efetivo para a república reside naquilo que é mancomunado e decidido, em reuniões discretas, realizadas em salas fechadas, por um punhado de almas sebosas, que não faz a men

ESTULTICE GREGARIAMENTE ADQUIRIDA

Graciliano Ramos, e outros feras do mesmo calibre, eram conhecidos por lerem dicionários. Para nós, reles mortais, tal hábito pode parecer apenas uma excentricidade, porém, há uma razão para tal prática.   O autor de “Memórias do Cárcere”, em uma entrevista, havia explicado que ele considerava a leitura de dicionários algo de suma importância porque é imperioso que procuremos pesar as palavras, compreender a profundidade e amplitude de cada uma delas para sabermos utilizá-las de forma adequada e, é claro, para conseguirmos, com a indispensável reverência, captar com o máximo de clareza possível, aquilo que está sendo partilhado conosco por meio delas.   Tal observação, no mundo atual, possivelmente poderá não encontrar abrigo no coração de muitos, tendo em vista que tornou-se um lugar comum afirmar que ler seria somente a atribuição de significados, não um esforço sincero para apreender uma realidade que foi codificada por meio de palavras.   Quando o esforço para compreender algo acab

PIOR QUE CRACA PRESA NO CHINELO

Os demônios, como todos nós sabemos, nos fazem de besta levando-nos a crer que somos muito espertos, muito inteligentes, muito críticos e por aí segue o andor, tendo em vista que o pecado que eles mais apreciam é a dita cuja da vaidade.   E como nos envaidecemos com nosso conhecimento ralo sobre meia dúzia de coisinhas. Como somos arrogantes com nossos diplomas, títulos e carreira. Meu Pai do céu! Quem nunca caiu nessa tentação que atire o primeiro capelo.   Todo santo dia corremos o risco de resvalar na ladeira da soberba e, se imaginamos que não corremos esse risco é porque, bem possivelmente, estamos lambuzados dos pés à cabeça com essa bagaça.   Porém, tal envaidecimento com a nossa suposta esperteza, com nossa hipotética criticidade, não é uma exclusividade para aqueles que se ufanam de serem detentores de títulos e diplomas. Nada disso “mermão”.   Se tem um trem que é distribuído democraticamente nesse mundão sem porteira, para toda a humanidade, é esse trem fuçado chamado vaidad

A CONSCIÊNCIA DE UM CÁGADO TRANQUILO

Poder, sem muitos rodeios, seria a influência da vontade de um sobre a vontade de outro. Para realizar essa empreitada, podemos argumentar para persuadir uma pessoa, oferecer vantagens materiais ou pecuniárias para convencer o sujeito a fazer o que queremos e, é claro, se tudo isso falhar, pode-se coagi-lo a realizar o que é da nossa vontade.   Qualquer um dos meios indicados para exercer o poder não são bons nem ruins em si. São apenas meios para exercê-lo. Agora, aquilo que é de nossa vontade, isso sim meu amigo, pode ser algo minimamente bom ou tremendamente mau.   Por exemplo, posso tentar persuadir uma pessoa pela força dos argumentos, ou por meio de apresentação de vantagens, ou através de elementos coercitivos, para que ela não faça uma bobagem, ou para que realize uma besteira.   Nas duas situações estaríamos procurando fazer valer a nossa vontade, logo, estaríamos tentando exercer o poder que nos cabe no latifúndio da vida.   Imbuídos de boa ou má vontade, tal exercício tem um

ABRACE-O QUE DÓI MENOS

Todos temos uma ferida na alma que nos dói e, por isso, algumas vezes, nos sentimos como alguém que partiu ou morreu, e entregamo-nos a uma sucessão de lamentos sem fim diante desse ou daquele problema que nos atinge, frente a uma e outra crítica que nos é dirigida.   Claro, nenhum de nós é de ferro, apesar de nos considerarmos fortes feito uma rocha, só porque repetimos algum “mantra” supostamente filosófico, ou pretensamente edificante.   Tanto não o somos que, incontáveis vezes, lá estamos nós, reclamando de tudo e de todos, menos de nós mesmos. Lá estamos nós, nos sentido melindrados, derrotados diante da vida, fazendo caras e bocas para que alguma alma generosa se apiede de nós.   É óbvio que nenhum de nós irá admitir que em algum momento nos entregamos a esse papelão – ridículo, porém, humanamente compreensível – porque só de lembrarmos que já fizemos isso inúmeras vezes, mais do que depressa sentimo-nos envergonhados e, mesmo assim, não conseguimos largar essa mania pra lá de fe