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REFLEXÕES EM TORNO DO QUIXOTISMO ESQUECIDO

Negociar é a arte de saber ocupar e ceder espaços; é a arte de saber quando avançar intrepidamente e quando recuar estrategicamente.   #   #   #   A pressa é inimiga da nossa compreensão, e a maior aliada dos nossos piores inimigos.   #   #   #   Todo intelectual, seja de direita, de esquerda ou isentão, tem um “Q” de ressentimento em seu coração. E quanto mais o sujeito nega esse fato, maior é esse “Q” de amargura recolhida.   #   #   #   Terceirizar um problema é lavar as mãos com a água suja da própria displicência.   #   #   #   Alguém que entrega nas mãos de terceiros a responsabilidade pela sua família pode ser considerado uma boa pessoa? Logo, pode se dizer o mesmo de políticos e burocratas que lavam as mãos e entregam a terceiros o futuro das tenras gerações.   #   #   #   Os problemas do sistema educacional brasileiro não estão entre a estatização e a privatização. As encrencas que atravancam o sistema de ensino do nosso país estão muito além disso. Mas, infelizmente, burocrat

QUANDO A EXCEÇÃO É A NOVA REGRA

Muitas são as conquistas e perdas que obtemos no correr de nossa jornada. De todas as perdas, com certeza a mais temível é a perda da coragem. Como nos lembra Miguel de Cervantes, ao perdê-la, perdemos tudo.   Desde priscas eras, o medo foi utilizado como uma arma política; arma essa que insufla na alma de suas vítimas uma percepção distorcida da realidade, levando os indivíduos a abrirem mão de suas liberdades por qualquer coisa que lhes traga alguma sensação de segurança. Não é à toa, como nos lembra o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que o número de pessoas angustiadas, nos últimos anos, cresceu tanto.   Já o filósofo italiano Giorgio Agamben, em suas cáusticas críticas à política contemporânea, nos chama a atenção para o fato de que, atualmente, o “Estado de Exceção” tornou-se a regra. Desde ameaças terroristas até crises sanitárias são usadas como subterfúgio para implementar, de forma nada sutil, novos mecanismos de controle da população civil.   Claro que tais medidas, necessar

DESONRANDO OS BIGODES PERANTE A ETERNIDADE

Chico Anísio, em um dos contos do seu livro “A curva do Colombo”, nos chama a atenção para um sujeito, prestes a comemorar seu aniversário de 56 anos, sujeito esse que malandramente deixava a vida passar, curtindo-a adoidado, ao mesmo tempo em que, sem dó, enrolava os seus pais. Enrolava e dizia: “mama, a vida é para se viver”. A vida é para ser aproveitada ao máximo, em cada um dos seus momentos, em cada segundo do tempo que temos.   Pois é. Pensando assim, dá-se a impressão de que tudo é uma questão de tempo. Na verdade, na grande maioria das vezes o pomo da discórdia não seria o tempo, mas sim, a falta dele. Ao menos, essa é a história que é frequentemente contada por nós para justificar a não realização dos inúmeros planos e sonhos que [supostamente] temos, ou da não realização das mais comezinhas obrigações diárias.   Seja como for, a “falta de tempo” está na boca do povo, nos lábios de todos. Mas e se nós passássemos a ter tempo, tempo à rodo, pra dar e vender, conseguiríamos rea

REFLEXÕES SOBRE A IMPERTINÊNCIA DO ESTADOSSAURO

Órgão de verificação de notícias, para garantir que apenas a “verdade” será comunicada, não é e nunca será um instrumento de manutenção das instituições democráticas. Um órgão com esse feitio sempre foi, e sempre será, um mecanismo tirânico de censura.   #   #   #   Se o indivíduo clama para que o Estado controle os meios de comunicação social para que ele não seja “vítima” de uma notícia enganosa, além de ser um otário mais que perfeito, é um sicofanta da pior espécie.   #   #   #   As tragédias espelham a alma, revelam a face que se oculta por trás das infinitas máscaras sociais, que usamos todo santo dia, como se fosse nossa segunda pele.   #   #   #   O amor ao próximo é a pedra angular de uma sociedade. É ele, o amor ao semelhante, que leva as pessoas a se esforçarem para se tornarem melhores, mais dignas e prestativas. Agora, ver na hipotética “boa-vontade” das potestades estatais, algo similar ao amor, é a forma mais cínica que há de promover a perversão de tudo o que existe de

AS OFICIOSAS MENTIRAS E SUAS ARTIMANHAS

Frequentemente ouvimos algumas vozes dizerem, com aquele ar de sobriedade postiça, que no mundo atual, seria de fundamental importância termos apenas “fontes confiáveis” para nos informar. Tal afirmação, à primeira vista, até parece bonitinha, porém, quando olhamos mais de perto, vemos com clareza o que de fato ela é. De mais a mais, quais seriam as tais “fontes confiáveis”? Sejamos sinceros: todos nós, cada um ao seu modo, acaba se informando a esmo, conforme as notícias vão sendo atiradas em suas ventas pelos mais variados canais, considerando como confiável qualquer coisa que seja regurgitada pelo Jornal Nacional, ou por qualquer outra tranqueira similar, pela qual se nutre uma vaga afeição, nem um pouco criteriosa.   E por mil raios e trovões, quem será a excelsa autoridade, acima do bem e do mal, que dirá para todos que essa ou aquela seria uma “fonte confiável”? Quais critérios seriam utilizados para avaliar a credibilidade de algo? Aí, meu amigo, quando chegamos nesse ponto, é a

REFLEXÕES SOBRE OS AFETOS POLÍTICOS DO NOSSO TEMPO

Para um esquerdista, seja ele inveterado ou de primeira-viagem, todo aquele que não for marxista, ou simpatizante dessa folia, só pode ser uma coisa: um facínora de extrema-direita. Não interessa quem você seja.   #   #   #   Crítica feita a uma figura pública, investida de poder, não é agressão, nem ameaça às instituições; é apenas um modesto exercício de cidadania que revitaliza a democracia e suas instituições.   #   #   #   Se temos uma opinião ruim sobre algo ou alguém, isso não é, de jeito-maneira, um insulto ou algo similar. É apenas a expressão de uma desaprovação manifesta sobre algo ou alguém. E o fato de alguém não ser bem quisto por alguns indivíduos, isso não deveria ser motivo de escândalo para nenhuma pessoa que tenha um pingo de bom senso e uns litros de vergonha na cara.   #   #   #   Se uma pessoa resolve aventurar-se na vida política, ela deve estar preparada para não dizer tudo o quer e ter de ouvir tudo o que não quer. Se o indivíduo não tem essa disposição, e quer

SÓ MACHADO DE ASSIS NA CAUSA

O poeta e filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em “A visão dionisíaca do mundo”, ensina-nos a que a cultura seria tal qual a casca que envolve uma maçã, uma fina película que encobre o caos incandescente da realidade, que encobre uma besta-fera que, aliás, está sempre ciosa para devorar a nossa humanidade sem a menor compaixão. Mas o que seria essa fina casquinha que encobre e limita a besta-fera que habita em nosso coração? Como todos nós sabemos, a palavra cultura nos remete àqueles bens que, por sua singularidade, merecem ser devidamente cultuados e cultivados de modo apropriado.   Tudo aquilo que cultuamos, por definição, é colocado por nós no centro pulsante da nossa vida, pois reflete tudo aquilo que consideramos precioso, que inunda a nossa vida de sentido e profundidade e, por isso mesmo, faz o nosso coração bater mais forte.  Quando cultivamos algo, nós o fazemos porque consideramos que isso seja bom e, por essa razão, esperamos que as sementes lançadas no solo da alma deem mu