Pular para o conteúdo principal

OS GRILHÕES INVISÍVEIS DO ESPELHO NEGRO

Inquietude é o que não nos falta. Uns mais, outros menos, mas todos nós, em alguma medida, sentimos aquele comichão que não nos permite aquietar, um cadinho que seja, para nos desconectar do fluxo contínuo de informações e estímulos que recebemos todo o santo dia, das mais diversas fontes.

 

Não precisamos consultar um especialista para sabermos que uma vida vivida nesse ritmo não é um troço bom não. É algo praticamente evidente. Somente um tonto acha isso um trem bom barbaridade.

 

Tão evidente que até os indivíduos que vivem grudados nas redes sociais sabem disso, da mesma forma que um bebum sabe que o álcool consumido de forma desregrada lhe causa grandes malefícios, porém, “sacumé”, mesmo assim a gente não larga o osso.

 

Indo direto ao ponto, podemos dizer que, de forma similar a situação de um dependente químico, mesmo estando cientes do mal que estamos causando a nós mesmos, não temos consciência do quão grande esse mal é e, por isso, seguimos ziguezagueando com o andor.

 

E devido àquela dose de soberba que transborda em nosso coração, imaginamos que nós somos fortes o bastante para controlar essas forças que brotam dos nossos hábitos - pessoalmente impensados e socialmente aceitos - feito cogumelos após uma chuvarada.

 

Imaginamos que somos mais fortes do que de fato somos, cremos ser melhores do que realmente nos esmeramos em ser e, por ignorarmos nossas fraquezas, que são num número e numa proporção muito maior do que gostaríamos de admitir, acabamos por nos entregar a costumes que, de forma sutil, vão corroendo nossa personalidade e mutilando o nosso caráter.

 

E, de bobeira em bobeira, lá estamos nós, incapazes de parar para entregarmo-nos a leitura de um livro, inaptos para ouvir um álbum de boa música e impossibilitados para assistir um bom filme sem estarmos, a cada instante, abrindo o whatsapp, ou consultando algo similar, tamanho é o desassossego que impera em nossa alma, tão grande é a servidão em que nos encontramos e que subjuga de forma aviltante as portas da nossa percepção.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...