Pular para o conteúdo principal

O VOO DA AVE DE MINERVA

Relembrar é viver, diz-nos o ditado popular e, para variar, o dito está mais do que certo. Está certíssimo. Porém, todavia e, entretanto, é importante enfatizar que o ato de lembrar exige de nós, de cada um de nós, um determinado tanto de esforço. Um grande esforço.

 

É necessário um grande empenho de nossa parte para lembrarmos dos dias que já se foram, que a muito partiram, e que não voltam mais, tendo em vista que o ser humano tem uma forte inclinação para querer esquecer, o mais rápido possível, principalmente tudo aquilo que pode nos colocar em nosso devido lugar.

 

Lembrar é preciso porque, no frigir dos ovos, nós nada somos sem as nossas lembranças, sem as nossas memórias. Sobre isso, basta que lembremos que, quando perguntamos para um amigo quem é Fulano, nós estamos querendo saber qual foi o caminho percorrido por ele para ser quem ele é. Ou seja: queremos ser informados sobre a sua história ou, ao menos, um cadinho dela.

 

Nesse sentido, uma sociedade sem memória está condena a mergulhar num terrível poço de anomia, de caos e insanidade, pois, um povo que não sabe nada, ou sabe muito pouco e vagamente, a respeito das venturas e desventuras que foram vividas e sofridas pelos seus antepassados, para que chegássemos onde chegamos, não é um povo. Não, não é um povo. É apenas uma massa amorfa.

 

Se não nos esforçamos para nos lembrar do caminho percorrido por nós, enquanto povo, nós não sabemos claramente quem nós somos e, neste estado de amnésia e orfandade histórica, acabamos nos tornando presas fáceis daqueles que se apresentam a nós para nos dizer quem somos, contando-nos qualquer lorota como se essa fosse a nossa História.

 

Enfim, se queremos que a luz brilhe no nosso futuro, nos dias que estão por vir, é mais do que necessário, é urgente, que procuremos alumiar o nosso presente com as chamas do farol do nosso passado, para que a nossa história permaneça viva e pulsante em nosso coração.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CAMINHANDO SEM PRESSA NA CONTRAMÃO

Recentemente tive a alegria de encontrar em um Sebo o livro “Rubem Braga – um cigano fazendeiro do ar”, de Marco Antonio de Carvalho. Na ocasião, não tive como comprá-lo. Já havia fechado minha compra e, em consequência, não tinha mais nenhum tostão no bolso, por isso, deixei o baita na estante, torcendo para que ninguém o comprasse.   As semanas se passaram e lá estava eu, mais uma vez, no mesmo Sebo e, graças ao bom Deus, lá estava o bicho velho, esperando o Darta para levá-lo. Na ocasião estava indo para uma consulta médica e, enquanto aguardava, iniciei minha jornada pelas páginas da referida obra.   Rubem Braga, o homem que passava despercebido no meio da multidão, percebia tudo, tudinho, que a multidão não era capaz de constatar e de compreender. Não é à toa que ele era e é o grande mestre da crônica.   Ao indicar esse caminho, não estamos, de modo algum, querendo insultar ninguém não. O fato é que toda multidão, por definição, vê apenas e tão somente o que os mil olhos da massa

BUKOWSKI DIANTE DAS AREIAS DO TEMPO

O filósofo argentino José Ingenieros, em seu livro “Las fuerzas morales”, nos lembra que cada época tem que lutar para reconquistar a história. As pessoas de todos os tempos, dentro de suas circunstâncias, devem esforçar-se nessa empreitada. O conhecimento, por sua natureza, encontra-se espalhado pela sociedade, em repouso sobre incontáveis fragmentos, como se fosse um oceano de areia diante do horizonte da existência e, cada geração, deve procurar reconstruir, com as areias do tempo, o palácio da memória, o templo da história porque, sempre, cedo ou tarde, vem a roda-viva e sopra novas circunstâncias em nossa vida mal vivida, que vão erodindo todo o trabalho que foi realizado por nós e pelas gerações que nos antecederam. A cada nova circunstância que se apresenta, é necessário que procuremos atualizar a nossa visão do passado, para que possamos melhor compreender o momento presente e, principalmente, a nós mesmos. Nesse sentido, podemos afirmar, sem medo de errar, que a história é sem

REFLEXÕES INOPORTUNAS (p. 01)

É fascinante, para não usarmos outros termos, vermos o tom moderado, e as expressões de equilibrada indignação, que são usadas por inúmeras autoridades e formadores de opinião, para justificar práticas totalitárias como sendo recursos necessários para preservar o seu projeto de poder que, no caso, eles não chamam pelo devido nome, que é tirania. Nada disso. Eles, malandramente o chamam de “democracia” e, ao fazer isso, essas figuras se acham umas gracinhas.   #   #   #   Não existe liberdade de expressão se não existir a possibilidade de nos sentirmos ofendidos com o que os outros poderão dizer a respeito de algo, de alguém ou sobre nós mesmos. Se nós não compreendemos isso é porque, bem provavelmente, nós queremos apenas e tão somente calar as vozes que discordam de nós para que possamos, “livremente”, ouvir apenas e tão somente a nossa.   #   #   #   Não chame ninguém de alienado antes de examinar o estado fragmentário em que se encontra a nossa minguada consciência. Não chame ningué