Pular para o conteúdo principal

O CAMINHO FRANCISCANO DO CONHECIMENTO

Uma das primeiras coisas que o professor Olavo de Carvalho sugeria aos seus alunos era que todos procurassem abster-se de ficar opinando sobre tudo, que evitassem de ficar de bate-boca, que procurassem, na medida do possível, fazer um voto de pobreza em matéria de opinião.

 

Esse voto pode ser facilmente traduzido nos seguintes termos: em aprendermos a dizer o tal do “eu não sei” quando somos confrontados com os incontáveis assuntos que chegam até nós, seja através dos mais variados canais de comunicação, ou por meio dos mais diversos círculos de convívio social.

 

Frequentemente, acabamos nos esquecendo, no mundo midiatizado atual, que Sócrates não tornou-se quem ele se tornou pelas suas opiniões sobre todo e qualquer assunto, mas sim, pela sua honestidade em dizer que nada sabia sobre uma infinidade de coisas.

 

Quando aprendemos a dizer “eu não sei”, estamos abrindo as janelas da nossa alma para a possibilidade de aprendermos algo de forma sólida e honesta, pois, deste modo, estamos confessando nossa miséria para nós mesmos e, confessando-a, temos a possibilidade de nos redimir, como nos ensina Santo Agostinho.

 

Seria algo similar àquilo que os sábios taoístas nos ensinam quando nos dizem que devemos esvaziar a xícara de chá para que possamos enchê-la. Se estamos cheios de opiniões [soberbas] formadas sobre tudo, dificilmente estaremos abertos para a amorosa procura pela verdade, sobre o que quer que seja.

 

Por isso, o professor insistia tanto na realização deste voto franciscano em matéria de opinião. Por esse mesmo motivo que, penso eu, todos nós deveríamos aprender a dizer, com humildade, “eu não sei” diante dos incontáveis assuntos que nos são atirados nas ventas pela grande mídia, pelas redes sociais e pelos círculos de escarnecedores que, dia e noite, nos convidam a falar pelos cotovelos, com pose de sabido, a respeito de um monte de coisas que apenas ouvimos falar.

 

Agindo desse modo, não digo que nos tornaremos filósofos, mas, com certeza, seremos menos um tonto travestido de militante crítico que acha chato, muito chato, qualquer coisa que não seja um reflexo canhestro dos seus cerebrinos fundilhos.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUITO ALÉM DA CRETINICE DIGITAL

Desconfio sempre de pessoas muito entusiasmadas, da mesma forma que não levo a sério os alarmistas, que fazem uma canja rançosa com qualquer pé de galinha.   Bem, esse não é o caso de Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”. Aliás, um baita livro.   No meu entender, essa deveria ser uma leitura obrigatória para pais, professores e, principalmente, para os burocratas e políticos que não se cansam de inventar traquitanas que, hipoteticamente, melhorariam a qualidade da educação.   Não duvido que políticos e burocratas, que se empolgam com toda ordem modismos, estejam cheios de boníssimas intenções, não mesmo. O problema, como todos nós sabemos, é que o inferno está cheio delas.   Enfim, em resumidas contas, a obra de Desmurget nos apresenta estudos, dados, fatos e evidências que demonstram o quão lesivo é para a formação das nossas crianças a exposição precoce e desmedida às telas, da mesma forma que desmitifica inúmer...

UMA ARMADILHA OCULTA EM NOSSO CORAÇÃO

Somos movidos pelo desejo, não temos para onde correr. E esse é um problema que todos nós temos que enfrentar, no íntimo do nosso coração, com as parcas forças do nosso ser.   Diante desse entrevero, Siddhartha Gautama diria que bastaria abdicarmos deles para os problemas se escafederem. Nas suas palavras, desejos seriam como pedras: quanto mais desejamos, mais pesada torna-se a vida.   E ele, em grande medida, está coberto de razão. O ponto é que essa não é uma tarefa tão simples assim. Na verdade, é uma tarefa hercúlea porque, o desejo, não é um mero adereço que usamos e descartamos quando nos dá na ventana. Nada disso.   Ele ocupa um lugar central em nossa vida e, por isso, todos nós temos em nosso âmago um vazio que apenas o absoluto pode preencher. Vazio esse que nos torna um ser sedento por ser. O problema é que não sabemos como fazer isso, nem por onde começar.   Segundo René Girard, o desejo não se manifesta em nós de maneira direta, mas sim, de forma triangu...

UM CASTELO DE CARTAS PÚTRIDAS

Somos uma sociedade espiritualmente adoecida. Aos olhos de qualquer bom observador, isso é algo evidente; mas, infelizmente, devido ao turbilhão de informações de importância questionável, que nos prende junto à poeira da superficialidade, acabamos por não dar a devida importância a esse fato.   Um dos traços desse adoecimento é a grande confusão de valores que invadiu a alma contemporânea, turvando de forma atávica a percepção dos indivíduos e pervertendo o senso das proporções que, como todos sabemos, é a base do discernimento, é a coluna de sustentação da consciência.   Se o amigo leitor, juntamente com seus alfarrábios, acredita que estou tomado por um delírio de ocasião, vejamos alguns dados que, penso eu, podem ilustrar melhor os efeitos que isso tem em nosso campo de percepção.   Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2019, 95% dos alunos concluíram o Ensino Médio sem um conhecimento adequado de matemática e 69% sem o nível esperado em língua portugue...