Pular para o conteúdo principal

DAS CINZAS E PARA ALÉM DELAS

  

Deus ri dos planos humanos, dos nossos planos. Quer dizer, não sei se Ele ri, mas, com toda certeza, o Altíssimo não dá o mesmo valor que damos aos nossos projetos, sejam eles milimetricamente traçados ou meramente sonhados nas coxas.

 

O Senhor vê nossos planos não a partir do mesmo plano em que nós nos encontramos. Não. O olhar Dele não é tacanho, mesquinho e nublado pela vaidade nossa de cada dia. Enquanto nós ficamos tateando pela vida, male mal enxergando um palmo para diante do nosso nariz, achando que temos um olhar penetrante similar ao de uma águia, Ele, tudo vê, com uma amplitude que faria uma águia sentir-se um verme rastejante agonizando na poeira da vã glória de nossos planos pra lá de humanos.

 

Deus vê nossos planos a partir de outro plano que, devido a nossa miserável condição, é incompreensível para nós, meros mortais, soberbamente humanos e, por isso, ao nos olhar, Ele se derrama todo em misericórdia.

 

Como Pai generoso que é, Ele procura utilizar-se de nossas misérias, de nossos planos furibundos, para nos ensinar todas aquelas lições que, como maus alunos que somos, nos recusamos tanto a aprender. Deus utiliza-se de tudo, inclusive de nossa intratável vaidade para nos chamar ao caminho da humildade que nos leva a aceitação da realidade como ela é para que Nele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, possamos ser resgatados de nós mesmos, das mentiras que elegemos como alicerce tosco de nossa vida oca.

 

E o Senhor procede desse jeito porque sabe o quanto nosso coração é torto e arredio à Verdade. Ora, quantas e quantas vezes incontáveis verdades da vida nos foram esfregadas em nossas ventas das mais variadas formas possíveis e, ao invés de aceitarmos elas e mudarmos de vida, por vaidade, não apenas persistimos no erro, mas nos afundamos mais ainda em suas imundices. Quantas vezes nós fizemos isso? Quantas? Pois é. Todos nós sabemos disso e, principalmente, não admitimos isso.

 

Por essa razão o Altíssimo é tão sutil em sua forma de agir, em sua maneira de ensinar. Ele, obviamente, sabe muito bem de que material nós somos feitos e, mais importante que isso, Ele sabe muito bem o que nós podemos ser se abandonarmos essa folia de nos encantarmos tão tolamente com os nossos planos poeirentos.

 

Enfim e por fim, lembremos, hoje e sempre, que do pó viemos e ao pó retornaremos, mas Nele, em Seu infinito amor, efetivamente seremos plenos se nos despirmos das preciosidades sem valor deste mundo, deste plano de planos fora de qualquer prumo.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

Site: https://sites.google.com/view/zanela/


Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...