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Mostrando postagens de setembro, 2024

COM A ALMA PARTIDA EM MIL PEDAÇOS

Há um belíssimo ensaio de Ortega y Gasset intitulado “No ser hombre de partido”, onde o mesmo apresenta-nos uma longa reflexão sobre a tomada de posição em relação às contendas políticas que tomam conta da vida nas sociedades contemporâneas. Como todos nós muito bem sabemos, não existe essa história de não tomar partido e isso vale, principalmente, para a turma que prefere colocar-se em uma torre de marfim, toda limpinha, acima do bem e do mal, muito além das disputas e picuinhas da direita e da esquerda; pessoas essas que se consideram isentas, prudentes e muitíssimo sofisticadas e que, de forma muito ladina, querem apenas e tão somente, se possível for, tirar o máximo de vantagem de qualquer time que venha a encilhar sua cela política na égua baia do poder estatal. Se nos portamos desse modo não estamos, de modo algum, agindo por princípios, nada disso. Estamos apenas elevando, a categoria de princípios, os nossos interesses tacanhos e imediatistas, disfarçando-os com as plumas e pae

AO LÍDER, COM CARINHO

William Shakespeare, em sua peça “A Tempestade”, nos ensina que qualquer um é capaz de navegar na calmaria com uma boa embarcação porque, com bom tempo, a nau flui tranquilamente sobre as águas do mar da vida. Agora, os bons timoneiros realmente são testados e reconhecidos quando estão comandando uma caravela caindo aos pedaços em meio a uma tormenta que aparenta não ter fim. Aí, meu amigo, o babado é quente e, por certo e por óbvio, não é pra qualquer um.   Liderar não é, nunca foi e, como já dá pra imaginar, jamais será uma tarefa fácil; e quem diz o contrário, ou não sabe o que diz, ou simplesmente é mal-intencionado. Ou as duas coisas, juntas e misturadas, tendo em vista que a ignorância, sempre foi e sempre será, uma parceira inseparável da malícia.   Estar à frente de uma instituição de ensino nestes tempos turbulentos, junto ao chão cru de um colégio, literalmente é como estar em um encouraçado que se encontra em situação suplicante. Todos sabemos disso, apesar dos burocratas da

AS INCERTEZAS E AS LINDEZAS DO JOGO DO PODER

Vidas em jogo. Sim senhor, esse seria um nome bem mais apropriado para um pleito eleitoral. De tempos em tempos, com hora e data marcada, a galera se reúne para fazer suas apostas quanto ao futuro da pólis. Em se falando nisso, lembro que, certa feita, Millôr Fernandes havia dito (escrito) que viver seria como desenhar sem borracha. Adoro essa frase do Millôr. Penso que não há analogia melhor que essa para meditarmos sobre nossas venturas e desventuras em série que são vividas por nós em nossa caminhada por esse mundão de Deus. Além dessa analogia, podemos também comparar a nossa vida - e um pleito eleitoral - com uma partida de xadrez. Aliás, essa comparação é profundamente apropriada, tendo em vista que o tabuleiro do referido jogo, com suas peças pretas e brancas, é uma Mandala tradicional e, enquanto tal, é um retrato simbólico da alma humana e das múltiplas possibilidades que são delineadas pelos dilemas e desafios que nos são apresentados pela vida, como bem nos ensina Titus Burc

MEDITAÇÕES SUPOSTAMENTE QUIXOTESCAS

As futuras gerações do nosso triste país merecem muito mais do que um punhadinho de promessas vazias com bolor de retrocesso. Talvez a nossa geração mereça isso, mas os inocentes não merecem não.   #   #   #   O temor ao ridículo é o licor amargo que mata, lentamente, a raiz do espírito cívico.   #   #   #   O amor ao ridículo substitui, de forma caricata, a virtude da coragem nas pessoas de alma leviana e de coração gelatinoso.   #   #   #   Os espetáculos grotescos fazem parte da vida política, mas a política não pode ser confundida com um grotesco espetáculo.   #   #   #   Somente as almas sebosas sentem-se engolfadas pelo tédio.   #   #   #   Nada nesta vida é permanente, nem mesmo essa nossa pretensão de acharmos que podemos controlar tudo e todos.   #   #   #   A vida é breve demais para termos medo de errar; ela é muito curta para não querermos nos esmerar na realização daquilo que é certo.                                  *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - profess

PLANOS FURADOS PARA OS DESERTOS DA LUA

Todas as cidades brasileiras, cada uma com sua especificidade, têm inúmeras histórias pitorescas para contar quando o assunto são eleições municipais. Algumas, inclusive, acabam entrando para o “folclore” local, outras tantas, para os anais da história.   Historietas à parte, podemos dizer que um elemento que frequentemente é apresentado aos cidadãos, como ares de comédia bufa, são os tais “planos de governo”. Sim senhor! Eles mesmos. Planos que, de quatro em quatro anos, são deixados na porta da casa dos eleitores, ou jogados na rua mesmo, para que as pessoas tenham a oportunidade ímpar de conhecer as pretensões cívicas dos postulantes ao cargo de Prefeito.   Em termos gráficos, o material até que é bem vistoso, independente de quem seja o abençoado do candidato, pouco importando qual seja a municipalidade.   De um modo geral, os tais “planos” têm a forma de uma revista, impressa em papel de boa qualidade, com muitas cores, inúmeras fotos e tudo aquilo que, se o cabra for eleito (ou r

ENTRE CONTOS E PONTOS

O entusiasmo político, muitas e muitas vezes, nasce de uma desastrosa combinação alquímica entre a vaidade intratável que habita o nosso coração, e a ignorância presunçosa que impera em nossa consciência.   #   #   #   Não devemos confundir uma polêmica midiaticamente pré-fabricada com uma crítica genuína, organicamente necessária.   #   #   #   Liberdade de expressão é, também, liberdade para ofender; e, assim o é, por uma razão muito simples: porque não existe nada mais agressivo do que dizer uma verdade inconveniente.   #   #   #   Somente as almas sebosas se sentem agredidas, feridas mortalmente com palavras que foram ditas de forma ríspida. As demais, na pior das hipóteses, apenas se ofendem no momento em que elas foram ditas e, em seguida, passam a régua no assunto e seguem em frente.   #   #   #   - Você é candidato? - Não. De modo algum. - Você é o que então? - O anticandidato.   #   #   #   Não confundamos um punhado de promessas vagas com um plano de governo.   #   #   #   A