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O PRÓPRIO CUERA

Um dia desses, logo após entrar em sala de aula, em uma turma do Ensino Médio, um aluno aproximou seu olhar de um dos livros que eu carregava comigo naquela ocasião. Havia largado o dito-cujo sobre a mesa para ministrar a minha aula (hum… que chique, para ministrar minha aula).

 

Ele olhou a capa e soltou uma baita gargalhada por conta do nome do autor da obra “Dias idos e vividos”, dizendo para o colega que estava na carteira ao lado: “Olha só o nome do homem: José Lins do Rego”. Sim, o próprio baita cuera.

 

Ora, todos sabemos o que se passou pela cabeça do garoto. Na verdade, na minha passa a mesma imagem toda vez que tomo um livro da autoria do referido autor em minhas mãos e, bem provavelmente, pela sua também, não é mesmo?

 

Pois é. A diferença é que o garoto, sem maldade, ousou rir de algo que, de fato, é risível, diferente de nós que, muitas e muitas vezes, rimos, maldosamente, de coisas que estão a léguas de distância de vir a ter um pingo de graça.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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