Pular para o conteúdo principal

TÃO DEPRIMENTE QUANTO ESCANDALOSO

É muito difícil entender algo, qualquer coisa, quando passamos, literalmente, o dia todo com as ventas grudadas em uma tela. Seja a tela de uma TV, ou de um celular, ou as duas juntas e misturadas num promíscuo bacanal.

 

Quando passamos longas horas com nossa minguada atenção sendo sugada por um fluxo contínuo de imagens aleatórias, o resultado é um só: a corrupção da nossa concentração e do nosso discernimento.

 

Sem nos darmos conta, vamos desaprendendo a parar para ouvir alguém com a atenção que o ato exige.

 

E o trem fica mais louco quando não mais sabemos o que significa parar para ler, reler, refletir e compreender o que está sendo dito em um texto.

 

Aliás, faz quanto tempo que nós não mais conseguimos parar para ouvir alguém? Nós realmente conseguimos parar para ler algo que exija de nós mais de 5 minutos de atenção?

 

Pior! Qual foi o último livro que nós lemos e, ao lê-lo, quantas consultas realizamos ao dicionário, e a outras obras, para melhor compreendê-lo?

 

Pois é. Se formos sinceros, já sabemos as respostas para essas perguntas marotas. Respostas nem um pouco agradáveis, imagino eu, tendo em vista que, de um modo geral, desaprendemos a parar.

 

Parar para admirar, contemplar, refletir e, é claro, para compreender, com relativa clareza e profundidade, o que quer que seja.

 

Nos habituamos a nos deleitar com o prazer momentâneo que nos é regalado pelo fluxo ininterrupto de estímulos efêmeros que intoxicam continuamente a nossa alma.

 

Aí, tudo aquilo que não seja breve, espetaculoso e com muitas cores, acaba sendo desdenhado por nós como sendo algo chato e indigno de nossa mirrada atenção.

 

Enfim, por essas e outras que é imperioso que procuremos nos reconhecer dentro desse quadro deformado se, obviamente, ainda formos capazes de parar para pensar sobre a gravidade disso tudo.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...