Pular para o conteúdo principal

UM BANQUETE NA TORRE DE BABEL

Para muitos, a suprema liberdade consistiria em não termos que dar satisfação, nenhum tipo de explicação, sobre aquilo que nós decidimos fazer ou deixar de fazer.

 

Quando jovens, creio que provavelmente todos nós já pensamos mais ou menos assim, desse jeitão. Muitos apenas pensavam, outros, em alguma medida, procuravam viver nessa toada e, por isso, com toda certeza, hoje, com o rosto marcado pelo tempo, devem ter boleiras de histórias para contar e borbotões e mais borbotões de arrependimentos pesando em seus corações.

 

Ué! Mas ser plenamente livre não seria fazermos o que nos der na telha sem termos que nos preocupar em dar satisfação de nadica de nada para ninguém? Com certeza. Mas isso não significa que nossas ações, livremente tomadas, poderão nos eximir de assumirmos as consequências advindas delas. Essas são inescapáveis. Não tem lesco-lesco.

 

E é aí que a porca torce o rabo, e torce bonito, porque no mundo contemporâneo, praticamente todos querem, porque querem, fazer apenas aquilo que lhes der na ventana.

 

Sim, eu sei, dizer isso pega mal pra caramba e, por essa razão, a galerinha galerosa, ao invés de dizer que não está nem aí para as consequências de suas escolhas, imaturas e impensadas, acaba optando em dizer que apenas está procurando o seu “eu autêntico”, que “apenas deseja fazer aquilo que ama” e que, obviamente, “ninguém irá lhes impor algo que contrarie as suas convicções mais íntimas”.

 

Todos nós, em algum momento, ouvimos alguma lengalenga similar a essa em algum lugar e, francamente, espero que nunca tenhamos caído nessa lorota politicamente corretíssima.

 

Seja como for, reconheçamos ou não, cedo ou tarde, todos nós teremos que sentar junto à mesa para o banquete das consequências e, quanto mais demorarmos para nos sentar no lugar que está reservado para nós, mais difícil será para engolirmos tudo o que plantamos em nossa caminhada, livremente realizada e irresponsavelmente dirigida.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #009

Todo orgulhoso se borra de medo da imagem das suas incontáveis imperfeições.   #   Onde não há preferência sincera, há indiferença cínica.   #   Tudo termina tragicamente quando a paciência finda melancolicamente.   #   O impulso de querer racionalizar tudo é o maior inimigo da racionalidade e do bom senso.   #   A verdadeira história da consciência individual começa com a confissão da primeira mentira contada por nós para nós mesmos.   #   Frequentemente somos firmes por pura fraqueza e audaciosos por mera teimosia.   #   Podemos usar as novas tecnologias para sermos reduzidos a uma escravidão abjeta, ou nos servirmos delas para lutarmos para preservar a nossa liberdade interior e a nossa sanidade.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. https://l...

NÃO IGNOREMOS OS OMBROS DOS TITÃS

Nós não somos apenas os caminhos que percorremos, os tropeços que damos, as circunstâncias que vivemos. Somos também e, principalmente, o modo como encaramos os nossos descaminhos, a forma como enfrentamos nossas desventuras, a maneira como abraçamos o conjunto desconjuntado da nossa vida. Como nos ensina Ortega y Gasset, é isso que somos; e se não salvamos as nossas circunstâncias, estamos condenando a nós mesmos.   Dito de outro modo, podemos olhar para nossa sombra e lamentar a nossa diminuta condição ou, em vez disso, podemos nos perguntar, de forma resoluta, o que podemos fazer de significativo com o pouco que temos e com o nada que somos.   Para responder a essa espinhosa pergunta, mais do que inteligência e sagacidade, é preciso que tenhamos uma profícua imaginação, tendo em vista que pouco poderá ser compreendido se nossa imaginação for anêmica.   Lembremos: nada pode ser acessado pela nossa compreensão sem que antes tenha sido devidamente formulado pe...