Pular para o conteúdo principal

O BURRINHO QUE SE PERDEU EM JERICÓ

Formular uma pergunta de forma minimamente adequada é um dos trens mais difíceis que pode existir. Sim senhor, uma das tarefas mais difíceis e, por isso mesmo, uma das mais importantes.

 

Se somos daqueles que acham que não, provavelmente seja porque nós somos daqueles caboclos que nunca parou para pensar sobre esse babado.

 

Não apenas isso. Possivelmente muitas das perguntas que carregamos conosco, e que achamos o máximo quando as lançamos no meio de uma roda de conversa, na maioria absoluta das vezes, são apenas questões que nos foram sutilmente sugeridas através do aparato midiático que nos rodeia.

 

E tem outra: todo caboclo que enche sua boca para falar que não existe dificuldade alguma em formular uma boa pergunta, em regra, são aqueles que quando realmente tentam elaborar uma, a respeito de um assunto que de fato lhes interessa, acabam se embananando da primeira até a última palavra.

 

A razão para isso é muito simples: infelizmente, nós passamos a maior parte da nossa vida sem pararmos para pensar naquilo que realmente gostaríamos de saber e, se não paramos para matutar a respeito disso, dificilmente iremos nos preocupar em formular uma pergunta sobre o que quer que seja.

 

E assim agimos porque, no fundo, bem lá no fundo, contrariando o que o filósofo grego Aristóteles havia dito no início da sua obra “Metafísica”, nós não desejamos tanto assim conhecer.

 

Queremos passar o tempo, desejamos ser aprovados em nossos exames colegiais, almejamos obter um e outro título acadêmico que nos garanta alguma ascensão social, ansiamos ter razão em nossos bate-bocas, mas não estamos muito interessados em conhecer algo com um mínimo de fundamento.

 

Pois é. Esquecemos, e não fazemos a menor questão de sermos lembrados, que passar o tempo é o mesmo que matá-lo; que o desejo por uma reles aprovação é um atestado mais que perfeito de servilismo tacanho; que almejar a ascensão social por ela mesma acaba sendo um claro sinal do declínio da força da nossa personalidade.

 

Enfim, não é à toa, nem por acaso, que amamos tanto as discussões vazias aquecidas pelas labaredas cálidas da fogueira das vaidades que aquece o nosso coração, não é mesmo?

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...