Pular para o conteúdo principal

PRIMEIRAS REFLEXÕES

O poder perverte, e se for consumido em doses cavalares, o dito-cujo corrompe absolutamente; todos nós sabemos disso, todos, menos aqueles que se locupletam nele. E não é de vereda que o precioso degrada a alma humana, nada disso. A putrefação exercida por ele no coração ocorre lentamente, bem devagarinho, de forma manhosa, escravizando o indivíduo de tal forma que, a certa altura, ele não mais consegue imaginar-se sem as pompas que lhe são investidas, não consegue se ver sem as bajulações que lhe são servidas de forma desmedida, não mais consegue viver sem as intrigas e futricas que são tecidas e tingidas em torno do seu envaidecido nome.

 

#

 

Uma das grandes chagas que atormentam a alma brasileira, segundo Monteiro Lobato, é o fatalismo, essa mania torta e tonta de dizer para si e para todos que nada tem jeito, que tudo é assim mesmo, que nada tem solução, remédio ou conserto.

 

#

 

Não há nada mais anticientífico do que tratar um punhado de afirmações midiaticamente alardeadas como sendo uma verdade científica e inconteste. Mas é justamente isso que a galerinha fofa, que não tira a palavra ciência da boca para nada, faz todo santo dia quando alguém simplesmente levanta uma dúvida razoável a respeito daquilo que ela nunca, jamais, ousou criticamente questionar.

 

#

 

A História, necessariamente, é edificada a partir de uma série de problemas, de questões levantadas no presente, para serem alumiadas pelas luzes do passado, da experiência humana vivida, através da consciência daquele que, com humildade, faz as indagações de forma sincera para a mestra da vida.

 

#

 

Nada é tão ruim que não possa piorar mais um tanto. É. Isso é verdade. Mas nada impede que digamos não a essa torta possibilidade e firmemos o nosso passo para outra direção. E isso também é verdade.

 

#

 

Uma vida vivida sem boa música seria um erro estúpido; uma vida vivida sem poesia seria uma tragédia, uma tragédia patética e grotesca.

 

#

 

Não há nada mais conservador do que um anarquista desiludido; nem nada mais libertário que um conservador contrito.

 

*

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros.

https://lnk.bio/zanela




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

COMPLEXO DE CHICÓ

Se tem um trem que as pessoas na sociedade moderna gostam de se ufanar é das suas opiniões e, quando se vangloriam disso, fazem questão de destacar que as suas opiniões sobre tudo e sobre todos não são opiniões chinfrim; nada disso, meu amigo, elas são “opiniões críticas”. Mas o que há de tão especial nisso para nos gabarmos? Como nos lembra o professor Gregório Luri, quando alguém começa a dizer que é muito crítica, a única coisa que esse abençoado está querendo dizer é que despreza e rechaça tudo aquilo que destoa dos seus pontos de vista e que irá tratar a pão de ló qualquer pataquada que esteja de acordo com tudo aquilo que ela supostamente pensa. Ui! Eu escrevi que muitas pessoas supostamente pensam? Sim. Eu queria ver — ah, como eu queria — essas mesmas alminhas críticas realizarem um inclemente exame de consciência sobre suas formosas opiniões a partir de uma questão, tão simples quanto modesta, como essa: quantas das nossas amadas e idolatradas opiniões são apenas e tão somen...

OS CRÍTICOS DO PAU OCO

Quando uma palavra passa a ser utilizada em demasia pela grande mídia e pelos autoproclamados “bem-pensantes”, é sinal de que o pobre vocábulo acabou perdendo praticamente todo o seu crédito cognitivo. Quando isso ocorre, ela passa a ser utilizada para sinalizar qualquer coisa e, por isso mesmo, termina significando coisa alguma. E isso, cara pálida, é uma tremenda enrascada porque abre as porteiras da vida para toda ordem de barbaridades. Um bom exemplo disso são os usos e abusos da palavra “crítico”. É educação crítica para cá, é opinião crítica para lá, pensamento crítico acolá; enfim, é um Deus nos acuda porque a única coisa que se faz presente em meio a tanta pretensa criticidade é o espírito de rebanho que, por sua própria natureza, sufoca qualquer possibilidade de uma opinião serena, de um pensamento independente e de uma educação emancipatória. Mas é claro que nós não iremos vestir, jamais, essa carapuça porque, “sacumé”, nós somos “críticos de fato”, não apenas de nome, como...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #026

Tal como a um falsário que cunha moedas falsas, os indivíduos com a alma embebida no cientificismo não se cansam de nos propor uma falsa imagem do ser. # Nascemos no tempo, mas não encontramos a nossa medida e razão de ser no tempo. # A cultura é o espelho amplificador da nossa vida espiritual. # Amizade é destino. Amigo não se escolhe, encontra-se. # Um escritor é o professor do seu povo, como nos ensina Soljenítsin e, por isso, um grande escritor é, por assim dizer, um segundo governo. Eis aí a razão por que nenhum governo, em parte alguma, ama os grandes escritores, só os menorzinhos. # Todo ser humano, em alguma medida, é feito de um sutil contraste de luz e sombra. # Quem tem amor no coração sempre tem algo para oferecer. Quem tem tudo, menos amor no coração, sempre sente falta de algo, de muita coisa; só não sabe dizer do quê. * Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. http...