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O ESPELHO FOSCO QUE NOS ROUBA A VITALIDADE

Foi sancionada a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas. Podemos dizer que tal medida é um facho de razoabilidade em um tempo que perdeu de vista o bom senso. Porém, é triste precisar do peso de uma lei para que as famílias reflitam a respeito dos males que a exposição desmedida aos celulares causa.

 

Sim, até as pedras do calçamento sabem que um celular pode ser muito útil no aprendizado de muitíssimas coisas. No entanto, sejamos francos: na maioria dos casos, é para finalidades edificantes que, frequentemente, os celulares são utilizados pelos infantes? Pois é, foi o que pensei.

 

Mas há outra pergunta que podemos nos fazer: de que modo usamos nossos celulares fora das nossas lides profissionais? O que fazemos com esses trens? Foi o que imaginei.

 

E essa é a tragédia que margeia a nova lei, porque em nosso dia a dia, provavelmente, nossos jovens continuarão com os mesmos maus hábitos digitais. Não porque eles são uma geração perdida, mas porque eles são nossos (in)fieis imitadores.

 

É sempre importante lembrarmos que os indivíduos em tenra idade até podem ser instruídos por meio de palavras, mas eles aprendem, de fato, através dos exemplos que nós lhes apresentamos cotidianamente.

 

Ora, quantas vezes pedimos silêncio, quando nossos filhos estão fazendo algazarra (ou algo similar), para podermos nos concentrar na leitura de um livro? Quantas vezes enviamos um e-book para nossos filhos porque o achamos interessante? Faça as contas.

 

Agora, quantas vezes nossos filhos nos viram absortos numa sequência sem fim de uma rede social, ao mesmo tempo em que estávamos largados num sofá, feito um saco de batatas, diante de uma televisão? Quantas vezes os infantes nos veem, ao vivo ou no WhatsApp, gastando nosso tempo em fofocas e futricas sem fim? Pois é, a conta não fecha, não é mesmo?

 

Não fecha e não fechará, porque para esse mal, não há lei que dê jeito. Essa é uma mudança que apenas pode ocorrer de dentro para fora, a partir de uma tomada de consciência que, infelizmente, muitos não querem nem ouvir falar. E não querem porque sabem que, para isso acontecer, seria imprescindível ingerir uma boa dose de vergonha na cara, para nos resgatar desse nosso jeito torpe e torto de ser que mutila, sem dó, o horizonte da nossa inteligência.

 

*

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.

https://lnk.bio/zanela



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