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UMA CHAMA QUE PODE SE APAGAR

O historiador João Francisco Lisboa procurava, por meio de suas obras, chamar a atenção para um dos grandes problemas que se faz presente em praticamente todas as sociedades e, é claro, a brasileira não seria uma exceção. No caso, o entrevero seria o fato de que pouca serventia há em termos instituições virtuosas se nós, cidadãos, que damos forma a elas, formos uma fossa de vícios morais.

 

Ele nos lembra que a História, a mestra da vida, nos dá testemunho de inúmeras instituições políticas, que foram criadas pelos mais diversos povos, que nos brindam com figuras modelares que se colocaram à frente das mesmas, dando-nos um belo exemplo de zelo pelo bem comum, porém, em todas elas, percebemos o melancólico declínio das mesmas a partir do momento que as pessoas que passaram a ocupá-las não mais eram figuras minimamente virtuosas.

 

Detalhe importante: as instituições deixam de ser o que eram originalmente e passam a ser outra coisa, bem diferente, quando os indivíduos investidos de poder são desprovidos de qualidades heroicas. E, deste modo, o povo acaba sendo arrastado pelo mau exemplo deles e, gradativamente, torna-se apenas uma massa facilmente manobrável de acordo com as conveniências dos oligarcas corruptos que tudo fazem para se dar bem no frigir dos ovos.

 

Aliás, quando voltamos nossas vistas para a triste história republicana do Brasil, o que mais vemos é justamente nossas instituições, com sua aura virtuosa, sendo vilipendiadas por toda ordem de pilantras vulgares, que se apresentam bem vestidos e que, invariavelmente, se consideram pessoas muito chiques e elegantes.

 

Enfim, para salvaguardar nossas instituições, para que elas não venham a ser o contrário do seu intento originário, é imprescindível que nos esforcemos para sermos cidadãos à altura delas para, quem sabe, num futuro não muito distante, elas possam realmente irradiar sua excelência sobre todos.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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