Pular para o conteúdo principal

OS RATOS DO VELHO CASARÃO

Uma das coisas mais difíceis para se aprender nessa vida é dizer o dito cujo do “não”. Saber dizê-lo é uma arte que, se for devidamente aprendida, não apenas nos livrará de inúmeros perrengues, mas também e principalmente, irá nos ajudar a tornarmos a nossa vida, no mínimo, mais proveitosa.

 

Explico-me: dizer não para os amigos com toda certeza não é uma tarefa fácil, da mesma forma que não é agradável dizer não para um chato de galochas, porém, isso é necessário em muitíssimas situações, para o nosso bem, para o bem deles, para o bem de todos.

 

Agora, dizer não para os nossos desejos, para as nossas “queredeiras” de momento é difícil, é muito mais difícil e, por isso mesmo, necessário.

 

Dizer não para nós mesmos é phoda porque somos indulgentes demais para conosco mesmo e, por isso, sempre encontramos aqui e acolá, alguma desculpinha esfarrapada para justificar malandramente um sim para os nossos impulsos impensados.

 

Sabe aqueles momentos de raiva, empolgação, distração, excitação e tutti quanti que, vez por outra, nos cercam e clamam pela nossa entrega? Pois é. Deveríamos aprender a dizer não para cada um deles.

 

Afinal, quem está no comando da nossa vida? Nós ou esses impulsos desordenados que ficam pelejando entre si e nos puxando de um lado para o outro para aderirmos a eles a todo momento de forma incondicional?

 

Então, infelizmente nossa curiosidade frívola governa o nosso olhar, da mesma forma que a falta de zelo comanda nossa indisposição frente aos nossos deveres mais elementares e, mesmo assim, acreditamos [tolamente] que estamos no comando de nossas ações, das nossas escolhas, enfim, da nossa vida.

 

Ora, da mesma forma que uma carroça cujo carroceiro está bêbado é um veículo fora de controle, uma vida onde nossos impulsos nos puxam e arrastam para toda e qualquer direção é uma existência digna de pena, às vezes, nem isso.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #026

Tal como a um falsário que cunha moedas falsas, os indivíduos com a alma embebida no cientificismo não se cansam de nos propor uma falsa imagem do ser. # Nascemos no tempo, mas não encontramos a nossa medida e razão de ser no tempo. # A cultura é o espelho amplificador da nossa vida espiritual. # Amizade é destino. Amigo não se escolhe, encontra-se. # Um escritor é o professor do seu povo, como nos ensina Soljenítsin e, por isso, um grande escritor é, por assim dizer, um segundo governo. Eis aí a razão por que nenhum governo, em parte alguma, ama os grandes escritores, só os menorzinhos. # Todo ser humano, em alguma medida, é feito de um sutil contraste de luz e sombra. # Quem tem amor no coração sempre tem algo para oferecer. Quem tem tudo, menos amor no coração, sempre sente falta de algo, de muita coisa; só não sabe dizer do quê. * Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. http...

PARA QUE A REPÚBLICA NÃO DESMORONE

Hannah Arendt nos ensina que a educação é o alicerce de uma república. É através de uma formação sólida que se edificam as bases sobre as quais os cidadãos poderão construir as suas vidas e desenvolver de forma plena a sua participação na sociedade. Por essa razão, não se deve brincar com a educação, nem agir de forma leviana em relação a ela, porque é através dela, da forma como ela é constituída, que se desenha o futuro e se edifica a personalidade dos indivíduos. Sobre esse ponto, José Ortega y Gasset nos chama a atenção para um fato que, muitas e muitas vezes é esquecido por nós: se almejamos saber como será a sociedade em que vivemos daqui a uns trinta anos, basta que voltemos os nossos olhos para aquilo que é vivenciado hoje nas salas de aula. Não tem erro, nem "lero-lero"; ali encontra-se o germe do futuro que nos aguarda. E tendo essa preocupação em mente, preocupação essa que há muito fora manifestada pelos dois filósofos acima citados, é que a professora Inger Enkvi...

COM QUANTAS VIRTUDES SE FAZ UM HERÓI?

Todo herói, por sua própria natureza, é uma figura controversa, e o é por inúmeras razões. De todas as razões, há duas que, no meu entender, seriam intrínsecas à condição de personagem notável. A primeira refere-se à própria condição humana. Todos nós, sem exceção, somos contraditórios, motivados muitas e muitas vezes por desejos conflitantes, impulsos desordenados, paixões avassaladoras, e por aí seguimos em nosso passo demasiadamente humano. E os heróis, humanos que são, nesse quesito não diferem de nós. O que os distingue de nós é a forma como eles lidam com os seus conflitos internos e com sua natureza desordenada. A segunda seria o fato de que a forma como um personagem elevado à condição de herói é apresentado à sociedade. Dito de outra forma, de um modo geral, todos os heróis acabam refletindo os valores e ideias do tempo presente, daqueles que o reverenciam, não necessariamente as ideias e valores que eram, de fato, defendidos por ele quando estava realizando a sua jornada po...