Pular para o conteúdo principal

ESCONDENDO A FRAQUEZA COM UMA PENEIRA

De tempos em tempos, aparecem alguns termos por aí que acabam tomando algum espaço e, por conta disso, terminam caindo na boca do povo e passam a ser usados por todos em toda e qualquer circunstância, como se esses fossem uma nota de dez reais.

 

Termos que, malandramente, procuram, de certa forma, suavizar um e outro vício moral que temos encalacrado em nossa alma. Eles nos ajudam a nos esquivar dessa ingrata tarefa de termos de dar os devidos nomes aos bois e jabutis e, por isso, utilizamos as ditas palavrinhas que estão na crista da onda para nos safarmos dessa.

 

Uma dessas abençoadas, sem dúvida alguma é a tal da “autossabotagem”. Reparem que toda vez que essa dita cuja é evocada, ela o é para não dizermos que deixamos de fazer algo, ou para não explicarmos porque estragamos tudo.

 

É que “autossabotagem” é mais chique de se dizer e dá até um certo ar de, como direi, superioridade, não é mesmo? Vejam, o Fulano é assim não porque é vadio, e o Beltrano é assado não porque não está nem aí pra nada. Nada disso, cara pálida! É porque ele apenas está se “autossabotando”.

 

Não. Definitivamente não. Nossa alma é desordenada e fragmentada por um monte de vícios morais e caprichos pessoais que, muitas e muitas vezes, nos dominam e terminam por nos agrilhoar junto ao chão frio da nossa má vontade.

 

Não é “autossabotagem”. É lassidão, é autocomplacência, falta de bom senso, ausência de senso das proporções e, principalmente, uma tremenda carência de responsabilidade. É tudo isso e muito mais, muito mais do que a palavra “autossabotagem” é capaz de abarcar e expressar.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #009

Todo orgulhoso se borra de medo da imagem das suas incontáveis imperfeições.   #   Onde não há preferência sincera, há indiferença cínica.   #   Tudo termina tragicamente quando a paciência finda melancolicamente.   #   O impulso de querer racionalizar tudo é o maior inimigo da racionalidade e do bom senso.   #   A verdadeira história da consciência individual começa com a confissão da primeira mentira contada por nós para nós mesmos.   #   Frequentemente somos firmes por pura fraqueza e audaciosos por mera teimosia.   #   Podemos usar as novas tecnologias para sermos reduzidos a uma escravidão abjeta, ou nos servirmos delas para lutarmos para preservar a nossa liberdade interior e a nossa sanidade.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. https://l...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #011

A vida sem momentos de recolhimento e silêncio é um convite a uma sucessão de erros.   #   Concentremo-nos no resultado que almejamos atingir, não na desculpa que iremos apresentar caso fracassemos.   #   É mais importante administrar acordos do que ficar tentando nos concentrar na criação de mecanismos para controlar as pessoas.   #   Todo escritor, ou escrevinhador, que quiser namorar a crônica deve ter o coração aberto para amar os momentos fugidios e saber amá-los.   #   Só os histéricos estão faceiros da vida na atual conjuntura em que nos encontramos.   #   Falemos apenas o necessário e o façamos apenas quando, realmente, a nossa fala for indispensável.   #   Lembremos desse velho ensinamento estoico: o que impede a ação pode sempre favorecer a ação, que aquilo que fica no meio do nosso caminho pode tornar-se o nosso caminho.   *   Escrevinhado por Dartagna...