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REFLETINDO A PARTIR DA ORAÇÃO DOMINICAL # parte 07

A virtude mais elogiada e a menos cobiçada é essa tal de humildade. Sim, nós dizemos para nós mesmos que gostaríamos de ser mais humildes, mas, se formos francos, iremos admitir que, infelizmente, acabamos parando no íamos e não seguimos em frente.

 

Como todos nós sabemos muito bem, a referida virtude nos convida a reconhecermos claramente quem, de fato, nós somos perante os nossos semelhantes, frente ao mundo e, é claro, diante de Deus. E saber isso dói. Dói porque a humildade nos faz regressar ao duro solo da realidade, deixando-nos com a cara no chão. Por isso fugimos dela.

 

De forma clara e direta, Nosso Senhor deixou-nos muito claro o que é um coração orante e humilde, com a parábola do publicano e do fariseu (Lucas XVIII, 9 – 15).

 

Nos sentimos enternecidos com a prece feita pelo publicano que, discretamente, no fundo do templo, reconhece a enormidade de sua miséria humana. Não apenas nos sentimos comovidos, como também repetimos, com maior ou menor frequência, as palavras ditas pelo mesmo.

 

Todavia, a toada da nossa vida, a dureza do nosso olhar e da nossa língua, são ditados por um coração que pulsa, na maioria das vezes, no mesmo ritmo que o coração do fariseu.

 

E vejam só como são as coisas. Quando voltamos nosso olhar para o julgamento de Sócrates, lá na Grécia Antiga, vemos Mileto e seus pares armarem toda uma rede de intrigas para condenar o velhinho que, com suas perguntas inconvenientes, procurava chamar os seus interlocutores à realidade, quebrando com os estultos consensos que impediam eles de colocarem os seus pés no chão da humildade. Cristo, Nosso Senhor, com sua parábola fazia o mesmo, só que de um modo todo Seu.

 

Quando recitamos a oração dominical, sem pressa, procuramos ponderar, no silêncio do nosso coração, cada um dos pedidos que estamos fazendo e, com o auxílio da Graça, realizamos - à luz das palavras que nos foram ensinadas por Ele - uma reflexão a respeito da nossa porca vida torta.

 

Sim, se fizermos isso com o zelo mínimo necessário, que inclui as demais qualidades que devem se fazer presentes em uma boa oração - que, lembremos, seriam a devoção, a ordem, a retidão e a confiança - teremos a oportunidade singular de, humildemente, reconhecer o que nós realmente somos e vislumbrarmos quem nós devemos nos esforçar para ser.


Não se tem como orar sem que nos portemos de forma reflexiva em relação a nossa maneira de ser.

 

Tendo tudo isso em vista, podemos dizer que Cristo, Mestre dos mestres, ao nos propor essa singela parábola, nos apresentou duas imagens mais do que perfeitas para matutarmos.

 

As duas imagens, a do fariseu e a do publicano, de certa forma são nosso reflexo. Essas imagens, em uma constante tensão dialética, tem como fim nos convidar a redenção, a superação dos antagonismos que imperam em nosso coração ferido pelo pecado nosso de cada dia.

 

Enfim, oremos como o publicano para que o Altíssimo toque e transforme esse nosso intratável coraçãozinho farisaico.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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