Pular para o conteúdo principal

REFLETINDO A PARTIR DA ORAÇÃO DOMINICAL # parte 06

Para que possamos crescer em espírito e verdade, é imprescindível que cultivemos uma vida de oração. Sim, todos sabemos disso desde nossa tenra infância e, por isso mesmo, penso que devemos meditar sobre a nossa vida orante para que, com o auxílio da graça divina, possamos aprofundar nossa compreensão a respeito da importância dessa prática para a lapidação do nosso caráter e fortificação da nossa inteligência.

 

Sim, da nossa inteligência. Uma oração precisa ser devota e, para tanto, é importante que cultivemos um olhar contemplativo e, para tanto, é necessário que, como nos ensina Sertillanges, procuremos nos consagrar à procura amorosa e abnegada pela verdade.

 

Para nos consagrar a tal procura (Matheus VI, 33), é fundamental que compreendamos que a vida humana é sempre uma jornada de sacrifícios. Repito: sempre o é.

 

Toda vez que optamos em dedicar parte dos nossos dias ao estudo e a oração, estamos sacrificando parte do nosso tempo, uma fração das alegrias do dia a dia para nos consagrar a essa atividade edificante. Também é verdade que toda vez que escolhemos nos entregar à bebedeira, aos mexericos e outras coisas similares, lá estamos nós sacrificando partes insubstituíveis da nossa vida para nos consagrar a uma série de atos degradantes.

 

Admitamos ou não, lá estamos nós, sempre, sacrificando algo em favor de alguma coisa. Não temos como nos esquivar dessa realidade. Não tem lesco-lesco. Porém, podemos e devemos tratar de forma serena, de uma maneira confiante, reta e ordenada, tudo o que fazemos para que, desse modo, nossa devoção seja voltada para a direção correta, para Aquele que nos fortalece e nos eleva.

 

Não é exagero dizer que, em grande medida, a reflexão socrática se aproxima da oração cristã. Sócrates, homem de grande piedade e sabedoria, quando esteve diante da morte, mesmo tendo várias oportunidades para livrar-se da pena imposta por seus algozes, não o fez, porque ele não sacrificaria a verdade em favor da preservação de sua vida neste mundo e, por isso, ele entregou-se em sacrifício por aquela que ele consagrou a sua vida: a procura amorosa pela verdade, pela sabedoria.

 

Séculos após a morte de Sócrates, o Verbo divino se fez carne e, como todos nós sabemos, Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida foi sacrificado no alto do madeiro da cruz e, ao pé do madeiro, lá estava ela, a Virgem Mãe Santíssima que, silente, com seu coração transpassado, contemplou o Bendito Fruto do seu ventre entregando-se em sacrifício e, tendo essa dolorosa imagem em nossa mente, compreendemos com clareza porque ela é o modelo para toda alma que realmente queira ser verdadeiramente devota.

 

Sim, a Virgem Maria é o excelso exemplo de devoção porque antes de ser Nossa Senhora ela tornou-se senhora de si. E por ser plenamente senhora de si que ela é serva do Altíssimo e, por sacrificar-se à vontade de Deus, ela tornou-se Nossa Senhora.

 

Enfim, aprendamos com ela, no silêncio dela, a nos sacrificarmos a favor daquilo que retifica e ordena a nossa alma, para sermos mais confiantes e piedosos em nossa maneira de ser.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #009

Todo orgulhoso se borra de medo da imagem das suas incontáveis imperfeições.   #   Onde não há preferência sincera, há indiferença cínica.   #   Tudo termina tragicamente quando a paciência finda melancolicamente.   #   O impulso de querer racionalizar tudo é o maior inimigo da racionalidade e do bom senso.   #   A verdadeira história da consciência individual começa com a confissão da primeira mentira contada por nós para nós mesmos.   #   Frequentemente somos firmes por pura fraqueza e audaciosos por mera teimosia.   #   Podemos usar as novas tecnologias para sermos reduzidos a uma escravidão abjeta, ou nos servirmos delas para lutarmos para preservar a nossa liberdade interior e a nossa sanidade.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “REFAZENDO AS ASAS DE ÍCARO”, entre outros livros. https://l...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #011

A vida sem momentos de recolhimento e silêncio é um convite a uma sucessão de erros.   #   Concentremo-nos no resultado que almejamos atingir, não na desculpa que iremos apresentar caso fracassemos.   #   É mais importante administrar acordos do que ficar tentando nos concentrar na criação de mecanismos para controlar as pessoas.   #   Todo escritor, ou escrevinhador, que quiser namorar a crônica deve ter o coração aberto para amar os momentos fugidios e saber amá-los.   #   Só os histéricos estão faceiros da vida na atual conjuntura em que nos encontramos.   #   Falemos apenas o necessário e o façamos apenas quando, realmente, a nossa fala for indispensável.   #   Lembremos desse velho ensinamento estoico: o que impede a ação pode sempre favorecer a ação, que aquilo que fica no meio do nosso caminho pode tornar-se o nosso caminho.   *   Escrevinhado por Dartagna...

O ABACAXI ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Dia desses, eu estava folheando um velho caderno de anotações, relendo alguns apontamentos feitos há muito tempo, e entre uns rabiscos aqui e uns borrões acolá, eis que me deparo com algumas observações sobre o ensaio "La misión pedagógica de José Ortega y Gasset", de Robert Corrigan. Corrigan faz algumas considerações não a respeito da obra do grande filósofo espanhol, mas sim sobre o professor Ortega y Gasset e sua forma de encarar a vocação professoral. O autor de "La rebelión de las masas" via sua atuação junto à imprensa como uma continuação de suas atividades educacionais, onde apresentava suas ideias, marcava posição frente a temas contemporâneos e, é claro, embrenhava-se em inúmeros entreveros. Ele afirmava que, para realizarmos com maestria a vocação professoral, é necessário que tenhamos nosso coração inclinado para um certo sacrifício heroico, para que se possa realizar algo maior do que nós mesmos: o ato de levar a luz do saber para os corações que se ve...