Pular para o conteúdo principal

PARA ALÉM DA INTOXICAÇÃO IDEOLÓGICA

Durante muito tempo em nosso triste país, ser chamado de conservador era uma forma [retórica e rasa] de insultar uma pessoa cujo espectro político não estava alinhado com os passos turvos que eram reinantes no meio bem pensante.

 

Em muitos círculos deste feitio, rubro, até hoje é assim.

 

Bem, seja ontem ou hoje, o termo conservador levanta muitas querelas, sem que seja – necessária e devidamente – claramente definido e razoavelmente compreendido.

 

Aliás, se perguntarmos para nós mesmos quais seriam os grandes nomes do pensamento conservador que nós conhecemos e, por que não, estudamos, com toda certeza não virá nenhum nome em nossa mente. No melhor dos casos, pode-se citar o nome de uma e outra figura que esteja sendo, no momento atual, apontado [a contra gosto] no cenário cultural e político como tal o que, por si, demonstra que não apenas não sabemos claramente o que seria o tal do conservadorismo, como também indica que ignoramos o que seja uma tradição intelectual.

 

Noves fora zero, podemos de antemão definir o conservadorismo não como uma ideologia, mas sim, enquanto uma anti-ideologia, uma negação de todas as ideologias, apresentando-se muito mais como um estado de espírito do que como uma explicação total da realidade e/ou enquanto uma proposta abrangente de sociedade.

 

 

 

 

O conservador, desse modo, seguindo os passos de Edmund Burke, desconfia feito um gato escaldado de qualquer proposta política revolucionária, como também reage contra todas as intenções reacionárias, pois, tanto uma quanto a outra, julgam-se pretensamente aptas para resolver em definitivo todos os problemas humanos por meio duma mudança radical do cenário presente.

 

Os reacionários, acreditam poder fazer isso, tornar o mundo melhor, restaurando uma hipotética “Era de Ouro” perdida; os revolucionários, por sua deixa, juram que poderão fazer o mesmo instaurando um suposto “paraíso terrestre” futuro.

 

Seja num ou noutro caso, o que temos é um imenso desprezo inconfesso pelas minúcias da realidade em nome de suas concepções idealizadas de sociedade.

 

Nesse sentido, a atitude conservadora frente ao mundo político é balizada por um misto de ceticismo e prudência, como nos ensina Russell Kirk. Tal atitude justifica-se pelo simples fato de que as ideologias, revolucionárias e reacionárias, são nefastas em seus propósitos, inescrupulosas em seus métodos e totalitárias em seus resultados.

 

De todos os pontos que caracterizam um conservador, nesse momento, destacaríamos somente um: todos nós, sem exceção, somos iguais. Sim, somos iguais não enquanto portadores de possíveis virtudes morais, mas enquanto sujeitos falíveis e detentores de inúmeros e prováveis vícios, como bem nos ensina C. S. Lewis.

 

Se assim o somos, não seria nada prudente almejarmos que o poder seja, das mais variadas formas e por meio de infindáveis subterfúgios, concentrando nas mãos dum partido político, ou de um grupelho de pessoas que, norteados por uma ideologia, se colocam acima do bem e do mal, justificando qualquer atrocidade em nome dum suposto “mundo melhor” e da edificação de um “novo ser humano”.

 

Por essa mesma razão que a atitude conservadora prima por uma boa medida de ceticismo frente ao mundo político, pois, apesar dos atores desse palco, muitas vezes, se verem como seres iluminados, beatificados por apresentarem-se como defensores duma utopia, eles não passam de apenas e tão somente seres humanos como nós. Ou seja: susceptíveis a ação dos mais torpes vícios morais e, por isso, seria temerário dar-lhes a quantia de poder que eles tanto almejam para realizar os seus delírios políticos.

 

Para o bem de todos, inclusive deles, o olhar conservador sugere, sempre uma atitude prudente frente às mudanças e uma dose salutar de desconfiança diante de toda e qualquer boa intenção que é anunciada e propagada aos quatro ventos, como se fosse uma nova revelação.

 

Em resumidas contas, a atitude conservadora diferencia-se das ideologias (reacionárias e revolucionárias) da seguinte forma: imagine uma casa velha, acabada, desgastada pelo tempo onde mora uma numerosa família. Essa seria a sociedade.

 

Um conservador, prudente por definição, empreenderia uma reforma cautelosa, parte por parte, para preservar suas características e para que a mesma não desabe sobre seus moradores.

 

Os revolucionários e reacionários não. Esses iriam propor a demolição da casa e a construção duma nova, tão linda e moderna como nunca se viu antes na história de nenhum outro país, pouco importando se os moradores iriam ou não sobreviver à demolição.

 

A destruição dos fundamentos da educação brasileira que, nas últimas seis décadas, foram solapados em nome do desvario de utopias pedagógicas progressistas é um exemplo dessa intoxicação ideológica. Utopias essas, cujos frutos, que foram imprudentemente plantados por décadas, hoje estão dando mais e mais frutos da mesma cepa, porém, piorados pelo devir do tempo.

 

É isso. Fim. Hora do café.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela,

em 07 de março de 2019, dia de São Tomás de Aquino.

Título original:  REFLEXÕES CONSERVADORAS # 01

http://sites.google.com/view/zanela/


Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.






Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #001

Procuremos sempre aplicar-nos com garra e criatividade em todas as tarefas que nos forem confiadas. Não agir assim, com o perdão da palavra, é uma tremenda burrice.   #   A disciplina é fundamental, pois ela nada mais é do que atenção e ação bem direcionada.   #   Silêncio é força. Barulho e agitação sempre foram, e sempre serão, sinais de instabilidade e fraqueza. Não tem lesco-lesco.   #   Marco Aurélio, o imperador filósofo, pergunta: o que aconteceu no passado, recente ou não, impede-nos de agir com justiça, generosidade, bom senso, prudência, honestidade, humildade e franqueza? Então, pergunto eu: por que insistimos tanto em agir feito babacas?   #   Emocionar-se diante de um problema não é, nunca foi e nunca será, o mesmo que enfrentá-lo de frente.   #   É importante lembrarmo-nos, sempre, de que é imprescindível focarmos a nossa atenção na resolução de problemas cuja solução seja da nossa responsabilidade — e pararmos, de uma vez ...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #002

Para um espírito forte e livre, todas as glórias ocas deste mundo não passam de pomposas tolices. Só isso e olhe lá.   #   Não se surpreenda com nada. Espere tudo, porque tudo é possível. Tudo. É nossa imaginação que é limitada.   #   Nunca nos esqueçamos que abstinência e moderação não são a mesma coisa, nem aqui, nem na casa do chapéu.   #   Desejos, todos temos. Por isso, não nos perturbemos com eles. Os nossos são tão bestas quanto os desejos dos outros.   #   Desconfiemos de qualquer um que nos diga que pode fazer a nossa dor desaparecer sem que precisemos nos esforçar para superá-la.   #   Aprendamos a ouvir os nossos críticos e desafetos, principalmente os mais ácidos; e sejamos gratos a eles por suas palavras, mesmo que suas críticas sejam um monte de patacoadas.   #   Sermos derrotados nem sempre depende de nós; mas viver como um perdedor, sim.   *   Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, esc...

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO HETERODOXO #003

A disciplina nunca nos falta; somos nós que, inúmeras vezes falhamos com ela.   #   Nunca nos esqueçamos: uma derrota nunca é definitiva. O mesmo vale para as vitórias.   #   Só as almas superficiais abordam ideias, ideais e ideologias de forma sutil e delicada.   #   Fracassar na vida é ter as janelas da alma abertas para o assombro da poesia e para o espanto da filosofia – sem o amparo do talento.   #   Tudo aquilo que chega aos nossos ouvidos, ouvimos com uma certa dose de esperança e medo. O problema, como sempre, está na dose.   #   Sem autoconhecimento, a palavra liberdade torna-se apenas mais um tapume para tentar ocultar, de nós mesmos, a nossa vil escravidão.   #   Em grande medida, a história das ideias, ideais e ideologias é a história dos rancores dissimulados.   #   Temos muitas biografias de vidas exitosas nas mais variadas searas e, todas elas, nos mostram que o caminho para o triunfo é sempre pavimenta...