Muitos já disseram, e com razão, que
as virtudes não podem ser ensinadas mediante lições e, muito menos, pelo
intermédio de uma escrevinhada cansada como essa porque, as virtudes, devido a
sua natureza específica, apenas podem ser bem apreendidas, compreendidas e
assimiladas através da dramaticidade de exemplos, digo, de vidas exemplares.
Bem, por ser petulante até a medula, e
teimoso feito uma mula, irei, mesmo assim, escrevinhar algumas palavrinhas
sobre elas, as virtudes, não com a pretensão de ensiná-las com minhas pobres
palavras mal escritas, mas apenas para lembrar do papel fundamental que esses
trens têm na formação da nossa personalidade e, consequentemente, na edificação
do nosso caráter.
E, assim o é, porque as virtudes, por
sua própria constituição, fortalecem o indivíduo para o cumprimento de suas ações,
dando forma ao propósito de sua vida, atingindo a excelência a qual se destina.
Dito de outro modo, todos nós, em
nossas lides cotidianas, estamos sempre realizando alguma intenção que não se
restringe unicamente na ação em si. Essa intenção maior, que não cabe dentro de
uma ação isolada, pode se espraiar com maior ou menor profundidade no tempo e
interligar muitas outras, ou apenas outras poucas ações, mas, tudo o que
fazemos, em certa medida, se encontra conectado a um propósito maior que
almejamos realizar em algum momento da nossa caminhada por esse vale de lágrimas.
Esse propósito, seja ele nobre ou não,
para poder atingir a tal da excelência, irá exigir de nós uma grande dose de
determinação e dedicação e, para tanto, é imprescindível que utilizemos
instrumentos que nos fortaleça para que não vacilemos em nossa empreitada. Ora,
tais instrumentos seriam as virtudes.
A primeira delas, também chamada pelos
sábios de antanho de “a mãe de todas as virtudes”, é prudência, a justa
determinação que nos orienta a pararmos para pensarmos antes de fazermos
qualquer coisa. E me permitam fazer essa ênfase: se não paramos, não pensamos
ou, no mínimo, acabamos matutando de uma forma tremendamente deficitária sobre
o que iremos realizar.
No mundo atual, mais do que nas
primaveras que a muito já se foram, vivemos nossos dias num turbulento e
agitado fluxo de informações, estímulos sensoriais e demais tranqueiras
similares que não dão a menor trégua para nossa alma. Nós passamos por isso tudo e, em grande
medida, tudo isso acaba passando por nós e, muitas vezes, muitas mesmo,
acabamos tomando decisões no calor de uma provocação, ou nos omitindo de fazer
algo, devido aos gélidos maus conselhos que nos são dados pelos medos que nos tocam
em determinadas ocasiões.
Pois é, e fazemos isso porque, como
muito bem sabemos, nos recusamos a parar para ponderar, para pensar no que
estamos fazendo, ou deixando de fazer, porque simplesmente não queremos perder
o momento, ou tememos tudo perder se pararmos para pensar.
E esse fluxo infindável que estímulos
e informações que nos cercam, apertam direitinho os botões que acionam as
reações de nossas inclinações e tendências desordenadas que, diga-se de
passagem, não são governadas por nós por pura indisposição, por nos recusarmos
a cultivar uma vida virtuosa, ou algo próximo disso.
Aí, por não procurarmos, regularmente,
pararmos para pensar a respeito do que estamos fazendo com a nossa porca vida,
acabamos, sem nos darmos conta, sendo guiados pelas nossas tendências e
inclinações desordenadas que são instigadas e, em muitíssimos casos,
manipuladas por elementos externos a nossa alma e que, de uma forma muito
sutil, guiam nossos passos e dão forma às nossas decisões.
E como não paramos para matutar sobre
a possibilidade de estarmos vivendo uma vida teleguiada pela malícia
maquiavélica de terceiros, acabamos crendo que todas as nossas reações
impensadas aos estímulos recebidos seriam os ecos da aveludada voz da nossa consciência [só que não].
Sim, eu sei que todos nós acreditamos
candidamente que estamos, com nossos atos, colaborando para realização de algo
bom em nossa vida e, em alguns casos, para a vida de toda a nossa comunidade,
sei disso. Porém, é importante lembrarmos que o fato de estarmos almejando um
bem maior não nos dispensa de sermos minimamente inteligentes, não é mesmo?
De mais a mais, fica meio difícil
cultivarmos essa tal sabedoria prática, que é a prudência, se não procuramos
praticar a sabedoria que, de forma simples e direta, consistiria na reflexão a
respeito dos fins que pretendemos atingir e, é claro, sobre os meios que iremos
empregar para atingir os fins almejados.
Sem esses momentos de silêncio
interior, onde pedimos o auxílio da Graça para retificar nossas ações,
dificilmente poderemos agir de forma lúcida e razoável, porque não há
possibilidade de se atingir um mínimo de lucidez e de razoabilidade se não
paramos para pensar e, se preciso for, mudarmos o rumo de nossa jornada.
Ou então, podemos ignorar tudo isso e,
sem a menor cerimônia, agirmos como Homer Simpson e dizermos para nós mesmos, e
para todos aqueles que vierem nos amolar, que a culpa pelas nossas ações é
nossa, todinha nossa e, por isso, a colocamos em quem nós quisermos, feito um
moleque mimado que se recusa a amadurecer e a agir de uma forma minimamente prudente.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva
Zanela
https://sites.google.com/view/zanela
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